quarta-feira, 22 de junho de 2011

Bullying e a Psicopedagogia

A ATUAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA FRENTE AO BULLYING
Priscila Madjarov Capello
Pedagogia formada em 2007, graduada pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo - Campus de Engenheiro Coelho SP.
Psicopedagogia Clinica e Institucional formada 2010 pelo Centro Adventista de São Paulo – Campus de Engenheiro Coelho SP.
pri_madjarov@yahoo.com.br

Resumo: O artigo aborda um tema de extrema relevância para a educação e sociedade, o Bullying. Que sutilmente vem se disseminado. Este fenômeno se caracteriza por um conjunto de comportamentos cruéis, intimidadores e repetitivos, contra um indivíduo ou grupo. Este tipo de comportamento Bullying, traz consequências muitas vezes até irreversíveis para a vida dos envolvidos. Grande parte das vítimas de Bullying não conta nem para os pais, ou professores o que está ocorrendo, muitas vezes por vergonha ou medo. Este artigo tem como principal objetivo mostrar para a sociedade, pais e professores, esta realidade cruel que está intrínseca nas nossas escolas e também nas redes sociais, o chamado CyberBullying. Mostrando que é necessário e urgente promover programas para pelo menos minimizar o problema das condutas violentas, e trazer assim, a importância do psicopedagogo e o seu trabalho, tanto individual, como coletivo. Esta pesquisa tem caráter bibliográfico, partindo da leitura crítica dos autores.

Palavras-chave: bullying, escola, pais, professores, sociedade.

Abstract: The article addresses an issue of extreme relevance to education and society, bullying. What has subtly spread. This phenomenon is characterized by a set of behaviors cruel, intimidating and repetitive, against an individual or group. This type of bullying behavior brings consequences often even irreversible for the life of those involved. Many of the victims of bullying do not account either for parents or teachers what is happening, often because of shame or fear. This article has as main objective to show society, parents and teachers, this cruel reality that is intrinsic in our schools and also in social networks, the so-called cyberbullying. Showing that it is necessary and urgent to promote programs to at least minimize the problem of violent behavior, and thus bring the importance of psychopedagogists and his work, both individually and collectively. This research is literature, from the critical reading of the authors.

Keywords: bullying, school, parents, teachers, society.

Introdução

Este artigo traz um assunto ainda pouco abordado, mas de vital importância para a educação, pais, professores, alunos e sociedade em geral, o Bullying. Com os ultimo acontecimentos que presenciamos nos jornais e televisão, acredito que este problema agora, venha a ser mais trabalhado e sua importância seja analisada e constatada. Sendo que com esta pesquisa quero mostrar o que é o Bullying, as suas causas, conseqüências e o que o psicopedagogo pode fazer para minimizar as condutas violentas.

O que é o Bullying?

O Bullying é um problema mundial, sendo encontrado em toda e qualquer escola, não estando restrito a nenhum tipo específico de instituição. Pode-se afirmar que existem escolas que não admitem a ocorrência de Bullying entre seus alunos, desconhecem este problema ou se negam a enfrentá-lo. Podemos considerar o Bullying como um fenômeno novo, porque vem sendo objeto de investigação e de estudos nas ultimas décadas, despertando a atenção da sociedade para suas conseqüências nefastas, resultando num processo em que os “valentões” projetam sua agressividade de forma oculta dentro de um mesmo contexto escolar. Por outro lado considera-se o Bullying como um fenômeno bastante antigo, por se tratar de uma forma de violência que sempre existiu nas escolas.
Apesar dos educadores terem consciência da problemática existente entre agressor e vítima, o estudo sistemático deste fenômeno, só se iniciou na década de 1970. Foi então nesta época que surgiu na Suécia, um grande interesse de toda a sociedade pelos problemas desencadeados entre agressor e vítima, figurantes desse fenômeno, que logo se estendeu por todos os países escandinavos. Na Noruega, o Bullying foi, durante muitos anos, motivo de preocupação nos meios de comunicação e entre professores e pais, porém sem que as autoridades educacionais se comprometessem de forma oficial. Dan Olweus, pesquisador da Universidade de Bergen, desenvolveu os primeiros critérios para detectar o problema de forma específica. Nos Estados Unidos o Bullying é hoje tema de grande interesse, pois o fenômeno cresce muito entre os alunos das escolas americanas. Já Brasil o Bullying ainda é pouco comentado e estudado, porem com os últimos acontecimentos que vemos nos jornais e televisão, onde se vê casos explícitos de Bullying, pais, professores e autoridades, tem demonstrado uma grande preocupação diante do problema e de suas conseqüências.

Definições do termo Bullying

O termo Bullying não existe na língua portuguesa. E compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivações evidentes, adotadas por um ou mais estudantes contra outro (s), causando dor e angústia. O Bullying se encontra presente em variadas situações, tais como, colocar apelidos, ofender, zoar, gozar, humilhar, discriminar, isolar, intimidar, assediar, amedrontar, tiranizar, bater, empurrar, roubar. Aliada a violência explícita, outra forma de violência deve despertar a atenção dos profissionais de educação: aquela que se apresenta de forma velada por meio de um conjunto de comportamentos cruéis, intimidadores e repetitivos.
Bullying: palavra de origem inglesa adota em muitos países para definir o desejo consciente e deliberado de maltratar uma outra pessoa e coloca - lá sob tensão; termo que conceitua os comportamentos agressivos e anti-sociais, utilizado pela literatura psicológica anglo-saxônica nos estudos sobre o problema da violência escolar. (VISCHI; MADJAROV, 2007, p. 13).

Em alguns países, existem outros termos para conceituar esses tipos de comportamentos. Mobbing, empregado na Noruega e na Dinamarca; mobbning, na Suécia e na Finlândia. Esses termos são utilizados com significados e conotações diferentes. Sua raiz inglesa, mob, refere-se a um grupo grande e anônimo de pessoas que geralmente se dedica ao assédio. Mesmo não sendo um termo adequado do ponto de vista lingüístico, é empregado para definir uma situação onde um indivíduo, sozinho ou em grupo, ridiculariza um outro. Na França denominam harcèlement quotidién; na Itália, de prepotenza ou bullismo; no Japão, é conhecido como yjime; na Alemanha, como agressionen unter shülern; na Espanha, como acoso y amenaza entre escolares; em Portugal, como maus-tratos entre pares.
No Brasil, adotamos o termo que é empregado na maioria dos países: Bullying. Bully, enquanto nome que é traduzido como “valentão”, “tirano”, e como verbo, “brutalizar”, “tiranizar”, “amedrontar”. Sendo assim, a definição de Bullying é compreendida como um subconjunto de comportamentos agressivos, sendo caracterizado por sua natureza repetitiva e por desequilíbrio de poder. Alguns pesquisadores consideram serem necessários no mínimo três ataques contra a mesma vítima durante o ano para sua classificação como Bullying. O desequilíbrio de poder caracteriza-se pelo fato de que a vítima não consegue se defender com facilidade: por serem de menor estatura ou força física; por estar em minoria; por apresentar pouca habilidade de defesa; por fatores psicológicos.

Definimos o Bullying como um comportamento cruel intrínseco nas relações interpessoais, em que os mais fortes convertem os mais frágeis em, objetos de diversão e prazer, através de “brincadeiras” que disfarçam o propósito de maltratar e intimidar. Portanto o Bullying é um conceito específico e muito bem definido, uma vez que não se deixa confundir com outras formas de violência. (VISCHI; MADJAROV, 2007, p. 14).

De acordo com os estudos de Fante (2005) pode-se perceber que existe um alto grau de desconhecimento e falta de conscientização da realidade do Bullying nos meios educacionais, e também um despreparo dos profissionais para lidarem com a violência, especialmente a velada.
No Brasil foram realizados alguns estudos sobre este assunto, constatando-se os locais de maior ocorrência do fenômeno, o despreparo dos profissionais, a não conscientização de todo o corpo docente, alunos e comunidade, a falta de interesse diante da problemática, o não reconhecimento da direção das escolas sobre a existência do problema da violência.
Podendo assim, constatar que, a presença do fenômeno constitui a realidade das nossas escolas, independente de ser pública ou privada, de cidade grande ou pequena, da localização, do tamanho. E que a ação de um indivíduo acaba sendo repetida por outros alunos que o “admiram” transformando a violência em algo coletivo, e que as vítimas do Bullying temem em denunciar seus agressores, por medo e por vergonha.

Causas do Bullying

As causas do comportamento Bullying são inúmeras e variadas. Deve-se a carência afetiva, a ausência de limites, ao modo de afirmação de poder dos pais sobre os filhos, “práticas educativas” que incluem maus-tratos físicos e explosões emocionais violentas. Também hoje vivemos em uma cultura capitalista, individualista, que é muito intolerante em relação às diferenças. E, inseridos nesta cultura, nos estruturamos dentro de um padrão de competição, de recompensas e de hierarquias de poder, que usados de forma exagerada levam a efeitos negativos, como: bloqueios psicológicos (pressão), perda da identidade, dificuldades de aprendizagem.

Identificação dos envolvidos no Bullying
Estudiosos dos comportamentos Bullying identificam e classificam os tipos de papéis desempenhados, que são bem definidos entre os envolvidos no fenômeno. Segundo Fante (2005, p. 74), os protagonistas são divididos em:

Vítima típica: aquela que serve de bode expiatório para um grupo. A vítima típica é um indivíduo (ou grupo de indivíduos), geralmente pouco sociável, e que não dispõe de recursos, status ou habilidades para reagir ou fazer cessar essas condutas prejudiciais. Suas características mais comuns são: aspecto físico mais frágil; medo de que lhe causem danos ou de ser fisicamente ineficaz nos esportes e nas brigas; coordenação motora deficiente; extrema sensibilidade, timidez, passividade, submissão insegurança, baixa auto-estima, alguma dificuldade de aprendizado, ansiedade e aspectos depressivos. A vítima típica sente dificuldades de impor-se ao grupo, sendo considerada uma “presa fácil”.

Vítima provocadora: aquela que provoca e atrai reações agressivas contra as quais não consegue lidar com eficiência. A vítima provocadora possui um “gênio ruim”, tenta brigar ou responder quando é atacada ou insultada, mas geralmente de maneira ineficaz; pode ser hiperativa, inquieta, de modo geral, tola, imatura, de costumes irritantes, e quase sempre é responsável por causar tensões no ambiente em que se encontra.

Vítima agressora: aquela que produz os maus-tratos sofridos. A vítima agressora é aquele aluno que, tendo passado por situações de sofrimento na escola, tende a buscar indivíduos mais frágeis que ele para transformá-los em bodes expiatórios, na tentativa de transferir os maus-tratos sofridos. Essa tendência tem sido evidenciada entre as vítimas, fazendo com que o Bullying se transforme numa dinâmica expansiva, aumentando o número de vítimas.

Agressor: aquele que vitimiza os mais fracos. O agressor, de ambos os sexos, costuma ser um indivíduo que manifesta pouca empatia. É membro de família desestruturada, em que há pouco ou nenhum relacionamento afetivo. Os pais ou responsáveis exercem supervisão deficitária e oferecem comportamentos agressivos ou violentos como modelos para solucionar os conflitos. O agressor normalmente se apresenta mais forte que seus companheiros de classe e que suas vítimas em particular; pode ter a mesma idade ou ser um pouco mais velho que suas vítimas. Ele sente necessidade de dominar e subjugar os outros, e de se impor mediante o poder e a ameaça. Pode vangloriar-se de sua superioridade real ou imaginária sobre outros alunos. É mau caráter, impulsivo, irrita-se facilmente e têm baixa resistência as frustrações. Custa a adaptar-se as normas; não aceita ser contrariado. É considerado malvado, duro e mostra pouca simpatia para com suas vítimas. Adota condutas anti-sociais, incluindo o roubo, o vandalismo e uso de álcool, além de se sentir atraído por más companhias. Seu rendimento escolar, nas séries iniciais, pode ser normal ou estar acima da média; nas demais séries, em geral ainda que não necessariamente, obtém notas mais baixas e desenvolve atitudes negativas para com a escola.

Espectador: é o aluno que presencia o Bullying, porém não o sofre nem o pratica. Representa a grande maioria dos alunos que convivem com o problema e adota a lei do silêncio por temer se transformar em novo alvo para o agressor. Mesmo não sofrendo as agressões diretamente, muitos deles podem se sentir inseguros e incomodados. Alguns espectadores reagem negativamente, uma vez que seu direito de aprender em um ambiente seguro e solidário foi violado, o que pode influenciar sua capacidade e progresso acadêmico e social.

O Bullying entre as meninas

Segundo Simmon (2004, p.55):

A agressão relacional se inicia na pré-escola e assim, também os primeiros sinais de diferenças entre os sexos masculino e feminino, quando se tornam capazes de relacionamentos significativos. Na fase intermediaria da infância os principais pesquisadores nessa área relatam que agressores físicos são na maior parte meninos e os agressores relacionais na maior parte, meninas.

A agressão das meninas, se da com freqüência, é oculta, indireta, não–física e continua inexplorada. Às vezes é chamada de agressão, mas normalmente recebe o nome de “o que as meninas fazem”. Este tem sido um dos segredos sujos e sombrios da infância feminina, quase todas as mulheres e meninas tem uma história para contar.
As meninas estão copiando as condutas agressivas dos meninos, inclusive fazendo uso de maus tratos físicos como formas de demonstrar poder em seus grupos sociais principalmente na escola. Mas podemos notar também que no universo feminino o problema se apresenta de forma mais velada, as manifestações entre elas podem ser fofoquinhas, boatos, olhares, sussurros, exclusão, bilhetinhos de ofensa ou gozação.
Entre as formas mais comuns de agressão relacional está “faça isso, ou não serei mais sua amiga”, a formação de grupos de conspiração contra uma menina, o uso do silêncio, a gesticulação não verbal, ou a linguagem corporal.

Gesticulação não-verbal, um termo bonito para linguagem corporal, é uma marca registrada da agressão relacional. As meninas empedidas de usar suas vozes pelas normas contrárias à raiva feminina garotas aprendem a usar seu corpo, como olhares maliciosos determinados formas de exclusão e o tratamento silencioso. Em primeiro lugar, a linguagem corporal é ao mesmo tempo enfurecedoramente vazia de detalhes e grosseiramente clara. Ela dói fundo exatamente porque a menina saberá que alguém está zangada com ela, mas não conseguirá descobrir por que e, às vezes, com quem isso esta acontecendo. Nos universos das meninas, a pior forma de agressão é a opaca, criando uma espécie de hera venenosa emocional, que faz com que fique difícil se concentrar em qualquer outra coisa. (SIMMONS, 2004, p.57.)

Elas podem magoar ou maltratar sua melhor amiga, sem que a vítima muitas vezes nem perceba. As meninas que cometem o Bullying tendem a não perceber que sua possessividade ou autoritarismo, sobre outra garota está passando dos limites.
Na sala de aula, muitas vezes o próprio professor (a), pode mudar a cultura oculta da agressão entre as meninas, pois as vezes é dentro de uma sala de aula que tudo começa, uma simples troca de bilhetes entre colegas ou entre rivais desconhecidas.
Algumas meninas talvez não sejam capazes de identificar o que estão vivendo como algo errado ou passível de punição. Pelo contrário, elas internalizam o problema como uma falha sua e nunca falam no assunto.

O Bullying entre os meninos

Segundo pesquisas da ABRAPIA (2002), envolvendo quase seis mil estudantes, constatou-se que os meninos estão muito mais envolvidos, nas condutas Bullying, tanto como agressores quanto como alvos.

Conseqüências do Bullying

O Bullying afeta todos os envolvidos e em todos os níveis, porém especialmente a vítima, que pode continuar a sentir seus efeitos negativos muito além do período escolar. Pode trazer prejuízos nas relações de trabalho, na constituição e vida familiar, criação de filhos, além de afetar a saúde física e mental. A superação dos traumas causados pelo fenômeno do Bullying pode ou não acontecer. A não superação do trauma poderá trazer danos ao desenvolvimento psíquico da vítima, afetando o seu comportamento e gerando sentimentos negativos, como: sentimento de vingança, baixa auto-estima, dificuldades de aprendizagem, queda do rendimento escolar, podendo desenvolver transtornos mentais e psicopatologias graves, além de sintomatologia e doenças de fundo psicossomático, transformando-a em um adulto com dificuldades de relacionamentos, onde poderá também desenvolver comportamentos agressivos ou depressivos, e ainda, sofrer ou praticar o Bullying em seu local de trabalho, em fases posteriores da vida.

Dependendo da intensidade do sofrimento vivido em conseqüência do Bullying, a vítima poderá desenvolver sintomas de natureza psicossomática, como: taquicardia, insônia, bloqueio dos pensamentos e raciocínio, ansiedade, estresse, depressão, pensamentos de vingança e de suicídio, agressividade, impulsividade, hiperatividade, abuso de substâncias químicas, entre outros. Nas crianças, o Bullying pode desencadear, uma condição psiquiátrica caracterizada de paranóia ou psicose, que podem alterar e comprometer a emoção e a memória, infelizmente esses distúrbios que podem ocorrer são irreversíveis no desenvolvimento da criança. (VISCHI; MADJAROV, 2007, p. 22).

Enquanto a vítima sofre das mais variadas maneiras e sente as conseqüências da agressão vivida, o agressor experimenta a sensação de que suas condutas autoritárias foram consolidadas. Os resultados da ação deste indivíduo podem ser, o distanciamento das pessoas, a não adaptação escolar, supervaloriza a violência como forma de obtenção de poder, projeção dessas condutas para a vida adulta, tornado esta pessoa de difícil convivência. O agressor de ambos os sexos estará também propenso, a adotar comportamentos delinqüentes, crença de que deve levar vantagens em tudo.


O fenômeno do Bullying passou a ser considerado como um problema de saúde pública, devendo ser reconhecido pelos profissionais de saúde em razão dos danos físico-emocionais sofridos por aqueles que estão envolvidos nele. (FANTE, 2005, p. 81).

As pessoas envolvidas em condutas Bullying acarretam prejuízos em suas relações interpessoais e principalmente em seu desenvolvimento socioeducacional, por isso a necessidade de se formar professores e cidadãos conscientes e responsáveis, pelos seus atos.

Como trabalhar o Bullying na escola

O Bullying é a forma de agressão mais difundida entre os jovens na escola. Tratar deste fenômeno não significa só desenvolver uma ação de combate contra ele, mas também colocar em campo estratégias que envolvam pais, professores, psicopedagogos e estudantes.

Adequar às ferramentas educacionais a uma sociedade que está mudando rapidamente significa ter a consciência de que os fenômenos que se sucedem estão modificando a relação entre o mundo dos adultos e o dos jovens, e que é necessário abrir novos horizontes no campo das intervenções e da comunicação. Assim sendo, é preciso reconhecer a agressividade juvenil e combatê-la, no lugar onde ela é produzida e se torna visível, com ações e ferramentas capazes de diminuir o fenômeno, mas ao mesmo tempo capazes de expressar-se numa linguagem nova no momento de confronto com os jovens. (CONSTANTINI, 2004, p. 67).

Segundo Constantini (2004, p. 68):

As estratégias de combate ao Bullying para que tenham verdadeiro sucesso e resultados positivos precisam se transformar em uma política educacional. Pesquisas mostram que o fenômeno do Bullying é subestimado pelos adultos, pois a ausência destes é efetiva nos momentos em que acontecem os episódios, eles acreditam que os conflitos entre os jovens devam ser resolvidos entre eles e existe uma falta de preocupação com as conseqüências de certas atitudes.

Por isso se faz necessário em primeira instância promover uma conscientização de pais, professores, alunos, sociedade em relação à violência escolar. Conscientização que pode e deve ser feita com a orientação de um profissional da psicopedagogia, que conheça de maneira ampla o problema, e o trate com a importância e relevância que tem. Trazendo para as escolas palestras, dinâmicas, que falem sobre o problema de maneira efetiva, mostrando o que é, como mudar a realidade, o porquê da violência, e como acabar com esse tipo de conduta que só traz prejuízos tanto para vítimas, como para agressores e expectadores.

O Bullying na sala de aula

Algo bem comum nas salas de aulas entre os alunos é a existência de diversos tipos de conflitos e tensões. Existem também interações agressivas, auto-afirmação e relações de força que são estabelecidas entre os alunos. Caso na classe exista um agressor em potencial ou vários deles, os seus comportamentos irão influenciar os outros alunos em suas atividades, promovendo interações violentas. O agressor geralmente prefere atacar os mais frágeis, pois tem certeza que pode dominá-los, mas mesmo assim não teme em brigar com os alunos maiores, pois se sente forte e confiante.

Se há na classe um aluno que apresenta características psicológicas como ansiedade, insegurança, passividade, timidez, dificuldade de impor-se, de ser agressivo e com freqüência se mostra fisicamente indefeso, do tipo bode expiatório ... ele logo será descoberto pelo agressor. (FANTE, 2005, p. 48)

Esse tipo de aluno representa para o agressor uma presa fácil que não irá revidar se for agredido e que ficará atemorizado. Para o aluno agressor o bode expiatório é um alvo ideal, pois as características desde fazem com que o agressor se sinta superior e supremo. De acordo com Fante (2005, p. 48), o agressor sente a mesma satisfação em atacar ou quando são os seus “amigos”, seu grupo que ataca as vítimas. Sempre que seus atos violentos têm alguma conseqüência o aluno agressor formula uma maneira inteligente de se sair bem sem ser punido.
Infelizmente, é normal a vítima não contar aos pais e professores o que está acontecendo na escola. É muito comum que outros alunos maltratem o bode expiatório, pois todos sabem que ele é frágil e não vai revidar. Aos poucos a vítima vai se isolando, se distanciando do grupo-classe, os outros alunos por medo, preocupação com sua reputação ou receio de se tornar a próxima vítima, também vão se afastando, até o isolamento total do aluno que é vítima do Bullying.

O Cyberbullying
Na atualidade existe uma nova forma de praticar o Bullying, que vêm preocupando especialista, pais e educadores é o Cyberbullying. Que é a utilização de ferramentas da internet e de outras tecnologias de informação e comunicação, móveis ou fixas. Ele ocorre através de e-mail, blogs, fotoblogs, torpedos, entre outros. Mensagens instantâneas são enviadas pela internet ou celular para humilhar, ameaçar, chantagear. Normalmente o autor das mensagens se faz passar por outro adotando nicknames, para dizer coisas desagradáveis ou para disseminar intrigas e fofocas. Também são criados blogs para atormentar a vítima e os tão famosos Orkut e FaceBook é utilizado para excluir o agredido, já que os acessos a ele são somente para convidados. De forma anônima crianças e adolescentes insultam, espalham boatos cruéis e rumores, alteram fotografias das vítimas através de montagens, incluindo ofensas, piadas e comentários racistas. As imagens muitas vezes, são colocadas em newsgroups e até nas redes de serviços, como o Kazaa e outros.
Em oposição ao Bullying tradicional, aqui os jovens não estão cara a cara e por vezes, nunca chegam a saber quem é o agressor, sendo que as ações são muitas vezes praticadas por simples entretenimento sem que os agressores conheçam a vítima. O Cyberbullying têm se alastrado por todo o mundo, tendo sido registrados casos de suicídio em decorrência do fenômeno. Por isso, é necessário que os governos, as escolas, os professores e principalmente os pais, dialoguem, saibam o que os seus filhos fazem quando estão no computador, na internet, não deixem as crianças e jovens livres para fazerem simplesmente o que querem o que acham que dever fazer, com suas vidas e de suas vítimas.

Programas contra o Bullying

Especialistas e educadores de todo o mundo, com o apoio de instituições públicas e privadas, têm proposto as autoridades educacionais a criação de programas especiais de combate e prevenção ao Bullying nas escolas. No Brasil, o tema violência tornou-se prioridade em todas as escolas, motivo pelo quais inúmeros projetos e programas estão sendo desenvolvidos, visando à diminuição da violência escolar, com ênfase específica na violência explicita.
Nesse sentido, na cidade do Rio de Janeiro, a Abrapia, entre 2002 e 2003, em parceria com a Petrobrás Social, desenvolveu em onze escolas o Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes. Seu objetivo era diagnosticar as situações de Bullying entre os alunos de 5° a 8° séries participantes do programa, traçando os indicadores de prevalência e identificando os tipos mais comuns de maus-tratos, os locais de maior incidência e suas repercussões sobre a comunidade escolar, além de avaliação da eficácia dos recursos de proteção utilizados. Segundo a Abrapia, a implantação de um programa para prevenir e reduzir o Bullying deveria ser embasado em três premissas essenciais para a obtenção de resultados positivos: não existem soluções simples para a resolução do Bullying, pois o fenômeno é complexo e variável; cada escola desenvolveria suas própria estratégias e estabeleceria suas prioridades no combate ao Bullying; a única forma de obtenção de sucesso na redução do Bullying é a cooperação de todos os envolvidos, alunos professores, gestores e pais.
Percebemos hoje com os últimos acontecimentos e o caso do Rio De Janeiro (Realengo), que o problema é grave, e que mais esforços devem ser despreendidos para a erradicação ou pelo menos diminuição desta problemática, acredito e espero que com o trágico exemplo que vivenciamos as autoridades, as escolas, os governos, a sociedade em geral colabore e se conscientize diante do Bullying e o que ele pode trazer para a vida das pessoas.
No Brasil existe o “Programa Educar para a Paz”, ele pode ser definido como um conjunto de estratégias psicopedagógicas que se fundamenta sobre princípios de solidariedade, tolerância e respeito às diferenças. Tem este nome por que ter paz é o maior anseio das crianças e adolescentes envolvidos no fenômeno. Este programa abrange toda a comunidade escolar onde a escola está inserida. As estratégias deste programa incluem um trabalho individualizado, visando a inclusão e o fortalecimento da auto-estima da vítima e a canalização da agressividade do agressor. Existe a atuação e colaboração de alunos solidários, que são como “anjos da guarda” daqueles que apresentam dificuldades de relacionamento, dentro e fora da escola. Também tem um grupo de pais solidários que auxiliam os alunos durante o recreio dirigido. O programa conta também com uma equipe que auxilia os alunos com o cuidado da saúde emocional e o controle do stress. O Programa Educar para a Paz vem sendo implantado em várias escolas de todo o país, por ser de fácil adaptação a realidade escolar e por apresentar resultados positivos em um curto espaço de tempo da sua implantação.
Hoje, existe uma cultura violenta, que se dissemina pelas pessoas, então devemos em contra partida disseminar uma cultura de paz. Se conseguirmos ensinar as crianças, a solidariedade, a tolerância, o respeito ao outro, o amor, a paz, podemos construir uma sociedade mais justa, menos violenta, onde as diferenças são aceitas.
As atuações educativas sempre estão ligadas as alterações na sociedade, sendo as mudanças rápidas e inesperadas, portanto imprevisíveis. Daí a importância do psicopedagogo no processo ensino-aprendizagem, na abertura de novos canais de informação, conhecimento e comunicação. Fazendo um trabalho não só coletivo, mas também individualizado.
As intervenções psicopedagógicas podem ser feitas individualmente, com a família e a escola, sempre por um profissional qualificado. Esta intervenção pode ser direta ou indireta, intencional ou incidental, planejada ou espontânea. Seguindo não só modelos teóricos, mas também princípios e valores filosóficos, se preocupando com o indivíduo, o meio onde este vive e suas interações.
A psicopedagogia é recente academicamente, sendo fruto de uma demanda social, tendo um grande diferencial, pois atua de maneira específica e ao mesmo tempo ampla. Ela visa a melhora da qualidade do ensino, das relações estabelecidas na escola, dos alunos, professores, como algo integrador, tanto de forma psicológica como educativa.
Para que haja realmente uma melhora nesta realidade Bullying vivida hoje é necessário a elaboração de um projeto de intervenção psicopedagógica amplo, adaptável, que abranja os conhecimentos dos processos cognitivos envolvidos. E que atinja toda a comunidade escolar e a sociedade.

Metodologia

A pesquisa tem caráter bibliográfico, fazendo uso da leitura de livros, periódicos, artigos e sites, para seu embasamento teórico. Partindo da leitura crítica e redação dialógica dos autores apresentados.

Considerações Finais

O artigo apresentou a problemática do Bullying, um fenômeno mundial, que vem trazendo discussões por sua implicação na educação. Como objetivo primordial quis mostrar o que é e o que traz as condutas violentas de Bullying para a vida de pais, professores, alunos e sociedade.
Sabemos que combater e irradicar a violência é algo quase impossível, mas é possível reduzir o número de vítimas de Bullying, mesmo não sendo fácil.
Quero ressaltar que os pais e professores, precisam ficar atentos ao comportamento de seus alunos e filhos. E que, o psicopedagogo tem extrema importância para a prevenção e trabalho contra a violência, a intolerância. Construindo uma educação transformadora, que conduza a paz, tolerância, esperança, solidariedade e principalmente amor, por si mesmo e pelo próximo.

Referências Bibliográficas

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COSTANTINI, Alessandro. Bullying: como combatê-lo? prevenir e enfrentar a violência entre os jovens. São Paulo: Editora Itália Nova, 2004.

FANTE, Cleo. Fenômeno Bullying: como previnir a violência nas escolas e educar para a paz. 2ª. ed. Campinas, SP: Editora Verus, 2005.

NATHAKIE BEAUDOIN, Marie; TAYLOR, Maureen. Bullying e desrespeito: como acabar com essa cultura na escola. Porto Alegre: Editora Artmed, 2006.

SINMONS, Rachel. Garota fora do jogo: a cultura oculta da agressão nas meninas. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2004.

VISCA, Jorge. Psicopedagogia: novas atribuições. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1991.

VISCHI, Eliete e MADJAROV, Priscila. Trabalho de Conclusão de Curso, Pedagogia. Unasp, 2007.

WEISS, Maria Lúcia L. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. 11ª edição. Rio de Janeiro. Editora DP&A, 2006.

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www.scielo.br. Acesso em 05/03/2007.

Ao usar este artigo, mantenha os links e faça referência ao autor:
A atuação psicopedagógica frente ao Bullying publicado 18/06/2011 por Priscila Madjarov Capello em http://www.webartigos.com

Fonte: http://www.webartigos.com/articles/69044/1/A-atuacao-psicopedagogica-frente-ao-Bullying/pagina1.html#ixzz1Q2TYZEBM

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Superproteger os filhos, desprotege para a vida ...

João Luís de Almeida Machado Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).


Pais Superprotetores: As consequências para a vida das crianças
Entrevista com o educador João Luís de Almeida Machado


1. Qual a importância da proteção dos pais no desenvolvimento da criança? Por que a criança não deve ficar totalmente "solta" no mundo?

JL - Há duas importantes situações a serem pensadas quanto ao assunto. A primeira refere-se ao fato de que a proteção, o acompanhamento ou o monitoramento da vida das crianças pelos pais tornou-se uma necessidade em virtude do crescimento estatisticamente comprovado dos casos de violência em nosso país (e em várias partes do mundo). Ações comuns das crianças de antigamente como, por exemplo, jogar bola, brincar de esconde-esconde, ir à casa de colegas que moram na vizinhança, entre outras, se tornaram menos regulares por conta do receio dos pais de que, no meio do caminho possa acontecer alguma coisa, uma agressão, uma violência sexual, um sequestro... Ocorre também que, por conta da violência e do medo dos pais de exporem seus filhos a situações de risco, surge no cenário das famílias a superproteção e, com isto, a criação de redomas ou bolhas onde estas crianças ou adolescentes acabam sendo colocados. Com isso são tolhidas oportunidades de vivenciar experiências que, até algum tempo atrás (20/30 anos) eram corriqueiras na vida destas pessoas.

a) No entanto, como identificar que os pais já ultrapassaram os limites da proteção saudável e adentraram a superproteção?

JL - A superproteção torna-se uma realidade quando não são oferecidas às crianças e adolescentes chances reais de aventurar-se no mundo por contra própria. Quero dizer com isso que, para tudo (e me refiro aqui a tudo mesmo) há sempre algum acompanhamento dos pais. Seja para ir à escola, ao clube, ao shopping ou mesmo em caso de férias e períodos mais prolongados de tempo, nos quais os pais, por insegurança total, impedem os filhos de fazerem programas nos quais eles (pais) não estejam incluídos. Como parte de uma vida saudável é preciso que em alguns momentos sejam concedidos aos filhos a chance de vivenciar estas experiências ou aventuras sem que o olhar e a presença dos pais por perto os intimidem ou mesmo os exponham a situações de ridicularização perante os colegas.

2. Quais os malefícios que a superproteção pode trazer para a criança e para o futuro adulto que ela irá se tornar (se possível, dê exemplos)?

JL - Perda de autonomia, medo de enfrentar situações diferenciadas daquelas do cotidiano (ainda que corriqueiras), dificuldade de relacionar-se com outras pessoas (principalmente estranhos, em situações cotidianas, como ir ao banco, comércio, serviços...), falta de iniciativa, reclusão, distanciamento da realidade, isolamento em mundos alternativos (como o virtual, em computadores e videogames)... É fato, por exemplo, que em países onde a alta tecnologia já se estabeleceu de forma quase onipresente, como o Japão, a existência de adolescentes que tem amigos no universo virtual e não conhecem e nem interagem com colegas de sala ou vizinhos. No Brasil, as crianças estão desaprendendo as brincadeiras de rua, tradicionais até algum tempo atrás, tendo dificuldades de estabelecer amizade com colegas que vivem na mesma rua e também se refugiando em computadores e games...

a) Verdade que a superproteção na infância pode resultar em adultos tiranos e despreparados para as frustrações? Por quê?

JL - Esta possibilidade é real, mas não é uma regra. A superproteção cria não apenas a insegurança em quem vive dentro desta realidade, mas pode gerar também a sensação de que para tudo o que acontecer em sua vida sempre haverá alguém para lhe dar suporte, proteção, auxílio e que, isto é necessariamente uma obrigatoriedade para as pessoas que vivem ao seu redor, ou seja, saciar seus desejos e obedecer suas ordens. Daí a constatação já apresentada na mídia de que muitas destas crianças e adolescentes são praticamente reis em suas casas... Esta situação pode reverter em adultos egocêntricos e tiranos...

b) Que atitudes (sintomas) da criança dentro de casa e na escola podem denotar que a criança está sofrendo os males de uma superproteção?

JL - Comportamento arredio, uso excessivo e sem controle pelos pais de computadores e videogames, indisposição para sair de casa, pouca ou nenhuma atividade externa como prática de esportes e jogos com amigos, reduzido grupo de interação social, dificuldade para comunicar-se e expressar sentimentos para os pais... Todas estas ações ou atitudes configuram sintomas. Não necessariamente ocorrendo ao mesmo tempo, mas a detecção de algumas destas ações em conjunto podem denotar que há excessos relacionados a superproteção.

3. Li em alguns artigos que o número de crianças superprotegidas ao longo dos anos tem aumentado. Em sua opinião, o que leva os pais a adotarem comportamentos superprotetores?

JL - Entre os principais fatores, sem qualquer sombra de dúvidas, o aumento da violência e a ênfase dada pelos meios de comunicação a fatos desta natureza. Casos como aquele da menina Isabela Nardoni ou do jovem que matou a namorada em Santo André depois de mantê-la em cativeiro tiveram grande destaque na mídia e bombardearam a cabeça de pais e filhos durante semanas. São exemplos de como a violência burlou os limites da civilidade e atingiu o que poderíamos chamar de selvageria e, a atuação da imprensa da mesma forma, demonstra como isto se tornou, de certa modo, um "espetáculo" (macabro, diga-se de passagem) em busca de mais audiência. Ação bastante irresponsável, por certo. Apresentar e disponibilizar, dando acesso a informação é responsabilidade da imprensa, agora, transformar estes fatos em "circo" para aumentar a visibilidade das emissoras, programas e jornalistas e, desta forma, lucrar com a desgraça alheia é deplorável...

4. Li que pais de idade mais avançada, adotivos ou que tiveram um filho único ou prematuro estão no grupo de risco dos possíveis pais superprotetores. Você concorda? Por quê? (Explique os motivos que poderiam levar a superproteção em cada caso)

JL - As famílias estão mudando de cara. E também de tamanho. É cada vez maior o número de pais que decidem ter apenas um filho. E aqueles que não podem ter filhos e adotam crianças também, por questões jurídicas ou financeiras, acabam optando por um filho apenas. Isto ocasiona certamente uma apreensão ainda maior quanto a segurança destes filhos únicos. E, como repercussão, aumenta a vigilância, ocasionando maiores possibilidades de ocorrência da superproteção. Isto é fato.

5. Alguns pais acabam caindo na superproteção porque ausentes (na maior parte do tempo em virtude da vida profissional) buscam compensar essa ausência dando tudo para a criança quando estão em casa. Essa conduta é correta? Por quê?

JL - Não se pode substituir a presença por benefícios materiais em hipótese alguma. Há natural demanda entre os seres humanos por carinho, presença, pelo contato físico, emocional, cultural... É certo que todos precisamos também de conforto e aparato material para sobreviver, mas estes recursos são meios ou suportes para uma vida saudável. Entretanto, sem o suporte emocional dado pela presença humana, nenhum bem, por mais valioso que seja, consegue dar a quem quer que seja, condições verdadeiras de se sentir bem, feliz, seguro... Se as pessoas trabalham, é preciso que em suas vidas reservem tempo para a família, ainda que reduzido pelas obrigações profissionais... E se o tempo é pouco, que seja vivido com qualidade, presença, carinho, apego...

a) Qual a importância dos limites na educação da criança? De que forma elas ajudam a criança a crescer e adquirir maturidade?

JL - Impor limites é de essencial importância porque nossas vidas - em todos os aspectos (emocional, físico, cultural, econômico, social, jurídico) - apresenta fronteiras que estipulam até onde podemos ir. Basta partir daquela que é premissa básica para a sobrevivência humana para entender o quanto isto é necessário, ou seja, a constatação de que nossos direitos terminam quando começam os dos demais seres humanos. Não podemos ultrapassar esta norma básica e, certamente, quando os pais dão liberdade excessiva criam uma realidade aos olhos de seus filhos que não é condizente com o mundo que as cerca... Até quando estes pais irão alimentar entre seus filhos a ilusão de que eles estão acima da lei, dos costumes, das outras pessoas que vivem no mundo?

6. Outros pais acabam adotando o comportamento superprotetor como uma forma de proteger a criança de decepções e perigos. Mas qual a importância dos erros e das frustrações para o aprendizado?

JL - Erros e frustrações também são constantes de nossas existências e, certamente, nos ajudam a melhorar nossa trajetória quando bem-trabalhados por nós. Temos que mostrar às crianças e adolescentes que ao errar inicia-se um novo ciclo em suas experiências que prevê a compreensão do erro, a busca de respostas que permitam superar esta situação, a busca do acerto e a consecução de novas tentativas...

a) Como os pais podem compensar essa ausência de casa de forma saudável?

JL - Tornando o tempo disponível para o convívio o melhor possível. Dedicando sua atenção às crianças e aos adolescentes em seus períodos de folga. Demonstrando preocupação e presença mesmo quando estão a distância, entrando em contato por telefone, e-mail, MSN... Compartilhando não apenas suas preocupações, mas procurando demonstrar segurança, dialogando o máximo que for possível, dividindo não apenas aquilo que materialmente consegue produzir, mas principalmente amando de forma profunda seus filhos...

7. O medo de perder o amor do filho atrelado à questão da ausência de casa é outro fator que pode levar a comportamentos superprotetores? Como os pais podem lidar com esse sentimento?

JL - Revendo prioridades, realizando um melhor agendamento de seus compromissos, dando espaço e importância para a família em suas vidas, valorizando a sua presença e entendendo-a como primordial para o crescimento sadio de seus filhos.

8. Li que o comportamento superprotetor tem por outro lado uma Cobrança excessiva de um bom desempenho e comportamento da criança por parte Dos pais. Por que isso ocorre?

JL - Ocorre pelo fato dos pais pensarem ser o bom comportamento e desempenho na escola e demais atividades das crianças como contrapartida demonstrada por seus filhos quanto ao amor que pensam existir na ação superprotetora... Seria uma espécie de retorno esperado pelo fato de, ao agirem de modo superprotetor, demonstrarem o quanto amam seus filhos. Se esquecem, com isto, que tudo o que os pais fazem deve prescindir da ideia de retorno, de contrapartida. O que os pais fazem, enquanto legítimo ato de amor, não deve demandar retorno como resposta dos filhos. Este retorno deve vir naturalmente, pois desta forma se comprova que o amor oferecido tem real sentido e valor para os filhos...

9. É possível quebrar essa redoma de proteção? De que forma? (Dê exemplos de comportamentos superprotetores que devem ser evitados pelos pais).

JL - Os pais devem proteger seus filhos mas, ao mesmo tempo, prepará-los para o mundo, pois certamente irão voar algum dia em busca de seu espaço neste planeta. Isto prevê - visando evitar a superproteção - que ocorram a presença, o diálogo, a sinceridade, a compreensão e explicitação do que existe no mundo tanto no que se refere aos riscos quanto às possibilidades. Precisamos alertar quanto às drogas, por exemplo, mas não podemos fazer disto um argumento para isolar nossos filhos e torná-los reclusos. Falemos do assunto, expliquemos o que significam as drogas, alertemos quanto aos riscos e possibilidades e procuremos acompanhar o andamento de suas vidas para evitar contratempos. Isto não significa, no entanto, que iremos tolher suas vidas e experiências. Eles também tem que caminhar sobre os seus próprios pés e, contando com o que lhes dermos de formação, demonstrarem por suas ações e iniciativas, que o que lhes legamos através da educação e presença que tivemos em suas vidas, foi suficiente para que fizessem as escolhas corretas para suas existências.

Ritalina, usos e abusos

Ritalina, usos e abusos Imprimir E-mail

ImageO remédio para hiperativos ganha adeptos entre executivos, estudantes e moças que querem emagrecer. Reportagem da Revista Veja.

Utilizado em larga escala nos Estados Unidos, o remédio Ritalina experimenta um aumento de consumo surpreendente no Brasil. O número de prescrições do medicamento, um estimulante para o tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, mais que dobrou nos últimos dois anos. Só neste ano, estima-se que será vendido 1 milhão de caixas de Ritalina, fabricado pelo laboratório Novartis. A principal razão desse aumento é o fato de que o diagnóstico do distúrbio se tornou mais comum. Antes considerado um mal predominantemente infantil, a hiperatividade passou a ser detectada também em muitos adultos. Além disso, há quem use o medicamento simplesmente para se manter desperto durante longas jornadas de trabalho ou estudo. E, como acontece com boa parte dos remédios da família das anfetaminas, a Ritalina entrou na ilegalidade. Jovens em busca de euforia química e meninas ávidas por emagrecer estão usando o remédio sem dispor de receita médica.

Caracterizada por quadros de agitação, impulsividade e dificuldade de concentração, a hiperatividade, nos últimos dez anos, ganhou maior atenção de médicos, psicólogos e pedagogos – principalmente porque se passou a creditar ao distúrbio boa parte dos casos de mau desempenho escolar. Dispor de um remédio como a Ritalina é um avanço inegável. Mas o "sossega leão" tem um lado perverso: o dos excessos. Pais acusam escolas de rotular suas crianças de hiperativas indiscriminadamente, antes mesmo de obter um diagnóstico médico. Tudo porque os professores, segundo esses pais, não teriam paciência, nem disposição, para controlar crianças irrequietas – mas não necessariamente com desequilíbrio na química cerebral – na sala de aula. Tais escolas, por sua vez, alegam que seus professores são suficientemente treinados para identificar o problema. Há que levar em conta, ainda, que pais impacientes andam utilizando o diagnóstico de hiperatividade como desculpa para entupir seus filhos de remédio e mantê-los, dessa forma, sossegados. Tanto é assim que o medicamento foi batizado de "droga da obediência". "É freqüente que os pais peçam aos médicos que aumentem a dose de Ritalina ou não a interrompam durante as férias", diz a psicóloga carioca Marise Corrêa Netto.

A hiperatividade infantil costuma aparecer entre os 3 e os 5 anos. O distúrbio é três vezes mais comum em meninos. Pesquisas feitas nos Estados Unidos mostraram que até um terço dos garotos em idade escolar naquele país usa Ritalina, embora muitos deles não precisem. Um estudo recente da Universidade Estadual de Campinas revelou que, de um grupo de crianças diagnosticadas com hiperatividade, 23% não exibiam problemas de aprendizado. Ou seja, provavelmente estavam sendo tratadas de um distúrbio do qual não sofriam. Vários educadores acreditam que se rotulam muitas crianças de hiperativas só porque elas são bagunceiras. "É preciso tomar muito cuidado com a medicalização da educação", diz a psicanalista carioca Christiane Vilhena, especialista em desenvolvimento infantil.

Enquanto a polêmica segue no universo infantil, a Ritalina vai conquistando de maneira silenciosa adeptos nas universidades. Pressionados por provas, exames e trabalhos de faculdade, estudantes estão trocando o tradicional café com cigarro pelo remédio. A Ritalina, nesses casos, teria o objetivo de melhorar a concentração e diminuir o cansaço. Seria uma espécie de anabolizante para o cérebro, que conseguiria assim acumular mais informação em menos tempo. Um levantamento feito na Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, mostrou que um em cada cinco estudantes da instituição já havia experimentado a Ritalina com esse único propósito. No mercado de trabalho, ela também entrou para o cardápio: executivos passaram a procurar no medicamento uma forma de suportar batentes que costumam ultrapassar dez horas.

Um dos aspectos mais preocupantes do uso da Ritalina é o recreacional. Alguns adolescentes trituram as drágeas e cheiram o pó. Outros diluem o comprimido em água, para injetá-lo na veia. Essas injeções, no entanto, podem causar complicações sérias. Pequenos pedaços da pílula podem obstruir vasos sanguíneos e levar a distúrbios pulmonares e cardiovasculares graves. Por último, há garotas que lançam mão do remédio para emagrecer – um dos efeitos colaterais da Ritalina, descrito na bula.

A Ritalina, nome comercial do metilfenidato, foi lançada em 1956. O efeito paradoxal do remédio é que, embora seja um estimulante, em doses muito precisas ele acaba por acalmar seus usuários, ao torná-los mais concentrados – daí seu uso em crianças hiperativas. O mecanismo de ação da Ritalina ainda não foi completamente desvendado. Recentemente, com o auxílio de um exame de última geração, a tomografia por emissão de pósitrons, pesquisadores conseguiram identificar um aumento nos níveis de dopamina em homens saudáveis que tomavam o remédio. A dopamina é uma substância produzida no cérebro, associada à sensação de bem-estar, euforia e estado de alerta.

Como funciona a ritalinaA Ritalina é um remédio da família das anfetaminas. Age no sistema nervoso central potencializando a ação das substâncias cerebrais noradrenalina e dopamina, o que melhora a concentração.

A dose inicial para pacientes a partir dos 6 anos de idade varia entre 2,5 e 5 miligramas por dia, podendo chegar a 60 miligramas diários.As doses, em geral, são dadas pela manha e hora do almoço, para não prejudicar o sono.Seu efeito, dura em média, 4 horas. Por isso, entre as crianças, o remédio costuma ser dado antes de elas irem para a escola. Em alguns casos, é suspenso nos finais de semana e nas férias.As versões mais modernas do medicamento são de longa duração. Podem durar até 12 horas.

Fonte: revista Veja

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Fobia Escolar

Dra. Ana Beatriz Silva e Dra. Cecília Gross
Fobia escolar é um medo exacerbado que a criança sente em ir para a escola. Ela se revela primeiramente com a recusa da criança em se deslocar para o ambiente escolar, inventando desculpas, o que culmina por evitá-lo. Como a própria criança ainda não sabe que está com medo, geralmente, o quadro se manifesta com mal-estar, podendo apresentar vômitos, dor de cabeça, dor de estômago, náuseas e tonturas na sala de aula. Muitas vezes, esses sintomas podem iniciar antes mesmo da criança sair de casa.

Na escola, é muito comum que ela se afaste dos coleguinhas, já que se sente muito mal lá dentro. É importante observar que, se estes sintomas se manifestam apenas um dia ou outro pode, de fato, tratar-se de um mal físico. No caso de crianças que vomitam ao despertarem, ficam pálidas ou sentem suor frio, podemos pensar na possibilidade de outros problemas, que não tem nada a ver com a fobia escolar, muito embora os sintomas físicos sejam muito parecidos. Por isso, é sempre bom investigar!

Na fobia escolar, a criança foca o assunto da escola sempre com medo, negativismo e pode chorar para não ir. Fobia escolar é um transtorno de ansiedade e tem tratamento.

É essencial que a equipe da escola saiba o que está acontecendo, pois, muitas vezes, uma figura de confiança do aluno deve acompanhá-lo e permanecer por um determinado período no ambiente escolar, até que ele desenvolva autoconfiança. Os próprios coordenadores podem, por vezes, desempenhar este papel, ao ficarem mais próximos deste aluno, encorajando-o a ponto de se sentir bem na sala de aula.

A fobia escolar cursa também com o que chamamos de ansiedade de separação (outro transtorno que também acomete crianças), que se configura no medo de se separar dos pais ou pessoas de importante vínculo, em preocupações constantes de que algo de ruim possa lhes acontecer ou até mesmo no medo de perdê-los. Via de regra, crianças que apresentam também ansiedade de separação, além do medo de irem para a escola, têm dificuldades em dormir sozinhas, medo de ir para casa de amigos, entre outras relutâncias em se distanciar das pessoas com as quais passa a maior parte do tempo.

Assim, uma maneira da criança ficar menos insegura em se separar dos pais, é oferecer o máximo de sinceridade possível a ela, ou seja, desejar e demonstrar, de fato, que estão felizes ao seu lado, enquanto há tempo disponível para isso. Duplas mensagens por parte dos pais fazem com que a criança fique insegura, já que ela perde a referência com quem e com o que exatamente pode contar. É essa insegurança que a deixa mais “grudenta” e chorosa, pois ela passa a ter um sentimento de que pode ser abandonada a qualquer instante, o que traz grande sofrimento.

No momento de ir para escola os pais devem ser firmes, mas respeitar a limitação de seus filhos, pois para eles já é muito difícil estar com estes transtornos.

Crianças com fracassos escolares ou com transtorno de aprendizado, mas que são disciplinadas, podem também desenvolver fobia escolar, pois não querem expor os seus insucessos (aliás, como a maioria dos seres humanos). Nestes casos, vale a pena investigar a causa do fracasso escolar, por meio de profissionais especializados na área.

Causas da fobia escolar

Os motivos que levam a criança a desenvolver fobia escolar podem ser vários ou uma associação deles. Dentre eles estão a predisposição biológica (genética), o temperamento e a vulnerabilidade à ação do ambiente familiar, o qual pode ser estressante ou até mesmo os próprios pais demonstrarem preocupação excessiva com a separação dos seus filhos. É interessante salientar que duas ou mais crianças que recebem a mesma educação, tanto escolar quanto familiar, (filhas dos mesmos pais), não significa necessariamente que todas irão desenvolver fobia escolar.

Uma das formas de tratamento para este transtorno é a terapia cognitivo-comportamental (TCC), cuja abordagem ajudará a criança pensar e agir de forma diferente, por meio de técnicas específicas aplicadas para as dificuldades de cada uma. Caso a fobia seja muito grave, vale a pena consultar um psiquiatra, pois poderá fazer uma avaliação do quadro clínico e, se for necessário, prescrever medicações adequadas. Este profissional também poderá descartar todas as possibilidades de outras doenças estarem causando tanta ansiedade.

É fundamental que os pais fiquem atentos quanto à procura de profissionais especializados, já que a demora no tratamento pode ocasionar afastamento da escola, fracasso e repetência escolar, vergonha de enfrentar novamente os coleguinhas, entre outros fatores. Todos eles são indutores da baixa auto-estima da criança, que poderá lhe trazer prejuízos para o resto de sua vida. Além disso, é muito comum que a fobia escolar esteja associada a outros medos como, por exemplo, de elevador, animais, escuro, etc. Enfim, os danos são grandes quando se adia o tratamento.

Papais e mamães, a culpa não é de ninguém quando a criança apresenta fobia escolar. Os pais, na maioria das vezes, estão dispostos a acertar na educação dos seus filhos, mas se começarem a se culpar, provavelmente errarão muito mais. Pais culpados não colaboram em nada na melhora dos seus próprios filhos! Contudo, existem responsabilidades que sempre são de quem cuida e isso implica em identificar o problema, buscar tratamento, seguir as orientações no sentido de trazer alívio à criança que está sofrendo. Procurar ajuda, ouvir as diretrizes dos profissionais envolvidos e poder dividir as dificuldades que possam encontrar no tratamento de seu filho, contribuirá efetivamente na maravilhosa tarefa de ser pai e mãe.
Fonte: Psicologi Virtual

Fonte: psicologia Virtual

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