terça-feira, 7 de outubro de 2014

O desenho animado e o preconceito

Entrevista cedida ao jornalista Rogério Borges, para o jornal O POPULAR DE GOIANIA


Desenho animado e o preconceito

1. Desenhos animados podem influenciar no comportamento ou mesmo nos valores das crianças que os assistem?

2. A senhora concorda com as advertências sobre possíveis conteúdos inadequados nesses produtos?

3. Crianças que tomam contato com situações menos confortáveis nos desenhos animados desenvolvem mecanismos de defesa em episódios similares quando estes ocorrem na vida real? Ficam mais espertas quanto a eventuais perigos?

4. Os desenhos animados têm ficado mais politicamente corretos?


1- Sim, desenho animado é uma representação gráfica da fantasia humana, o objetivo maior é o entretenimento, porém quando há identificação da criança que assiste com o personagem, ela imita seu ídolo, consomem os produtos, bonecos, adesivos, roupas, objetos, etc., os valores do personagem também são assimilados, vivenciam o “mundo” e a personalidade de seu herói, basta observar as brincadeiras, os gestos, os nomes ( a grande maioria das crianças verbaliza: eu sou ... ) e procuram agir como tal, esse não é um aspecto negativo, todos necessitamos de fantasias, cabe ao adulto responsável colocar o limite entre a realidade e o imaginário, porque na sua imaginação ela pode modificar sua vontade, usando o "faz de conta", mas quando expressa corporalmente as atividades, ela precisa respeitar a realidade concreta e as relações do mundo real, evitando acidentes, porque não podemos voar como o super-homem , o raciocínio lógico ainda não é suficiente para que ela entenda explicações coerentes a respeito de certas coisas, o poder de fantasiar ainda prepondera sobre a criança o que a faz exercitar não só sua capacidade de pensar, ou seja, representar simbolicamente suas ações, mas também, suas habilidades motoras, já que salta, corre, gira, transporta, rola, empurra, etc. Brincar é fundamental, porém a orientação do adulto deve ser uma constante, desde a mais tenra idade.
2- Se respeitarmos o publico alvo de cada desenho animado e o horário que são exibidos, as advertências são bem colocadas, pois conteúdos inapropriados são oferecidos na grande maioria de cartuns, disputas, brigas, provocações, perseguições, armadilhas, exposões, etc. A inadequação esta presente em tempo integral, porque a vida real não acontece como na fantasia exposta, são mecanismos de entretenimento para dar dinamismo à estória. Não acredito em censura, espero que os pais ou responsáveis pela criança que assiste tenham critérios apropriados à realidade que vivenciam e saibam discernir o que é melhor para seus filhos. O maior problema da atual sociedade está justamente nesta ausência de se auto-questionar e se posicionar, preferindo não reconhecer os valores que são passados no conteúdo onde somos todos expostos, e neste sentido as pessoas sentem-se absolvidas em suas justificativas em seu senso comum, o que causa certa intransigência a novas questões, principalmente se estas tiverem força suficiente para por em juízo o modelo vigente do politicamente correto, uma vez que não é permitido expor sua opinião, usando máscaras sociais para serem aceitos.
3- As crianças tendem a imitar situações, buscam informações dentro de si que as auxiliem a solucionar suas dificuldades. Atualmente circunstâncias similares aos desenhos animados ocorrem no real das nossas crianças, Thymi Turner do desenho: Padrinhos mágicos sofre bulliyng, os pais são alienados, prestam pouca atenção ao filho, deixam o menino aos cuidados de uma baba adolescente e violenta, e, ele fantasiosamente recorre aos seus padrinhos mágicos: Wanda e Cosmo, os quais cuidam dele, satisfazem seus desejos, protegem, livram de situações difíceis, orientam, questionam, brincam, educam, e, deste modo o convívio escolar, o relacionamento com os amigos e os pais são dramatizadas no faz de conta, permitindo, o seu desenvolvimento cognitivo e equilíbrio emocional uma vez que ele busca uma saída dos problemas. O aspecto positivo da identificação com o personagem é o indicador de caminhos, o raciocínio pratico indutivo em criar novas respostas, criando critérios, resiliência, minimizado distorções que a impedem de viver no mundo no real.
4- Os desenhos animados têm apresentado mais conteúdos politicamente corretos sim, adequados à sociedade em que vivemos, ecologicamente corretos, respeitando credos, etnias, gênero, porém não podemos desfavorecer os desenhos já existentes, o que podemos fazer é contextualiza-los, discutir os valores do momento histórico que foram criados, questionando o certo e o errado, o respeito ao ser humano e ao seu meio ambiente, seria até um momento lúdico entre a criança e o adulto, aproximando os mundos, criando confiança e o estabelecimento de vínculos, cada vez mais necessários entre pais e filhos, porque não podemos atribuir a educação de nossas crianças à escola e a televisão, a família é a primeira instituição a qual somos expostos e, é nesse convívio que aprendemos a nos equilibrar socialmente, a habituar-se com as diferenças, adquirido valores, assimilando informações. É a dinâmica familiar que orientará nosso comportamento, a mídia sempre nos trará novos elementos, o questionamento dos teores é que farão a diferença, porque a desigualdade social é uma realidade da qual nos podemos nos furtar, o que fazer e o como agir diante de preconceitos e choque de opiniões é que transformará a atual realidade.

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