Dra. Ana Beatriz Silva e Dra. Cecília Gross
Fobia escolar é um medo exacerbado que a criança sente em ir para a escola. Ela se revela primeiramente com a recusa da criança em se deslocar para o ambiente escolar, inventando desculpas, o que culmina por evitá-lo. Como a própria criança ainda não sabe que está com medo, geralmente, o quadro se manifesta com mal-estar, podendo apresentar vômitos, dor de cabeça, dor de estômago, náuseas e tonturas na sala de aula. Muitas vezes, esses sintomas podem iniciar antes mesmo da criança sair de casa.
Na escola, é muito comum que ela se afaste dos coleguinhas, já que se sente muito mal lá dentro. É importante observar que, se estes sintomas se manifestam apenas um dia ou outro pode, de fato, tratar-se de um mal físico. No caso de crianças que vomitam ao despertarem, ficam pálidas ou sentem suor frio, podemos pensar na possibilidade de outros problemas, que não tem nada a ver com a fobia escolar, muito embora os sintomas físicos sejam muito parecidos. Por isso, é sempre bom investigar!
Na fobia escolar, a criança foca o assunto da escola sempre com medo, negativismo e pode chorar para não ir. Fobia escolar é um transtorno de ansiedade e tem tratamento.
É essencial que a equipe da escola saiba o que está acontecendo, pois, muitas vezes, uma figura de confiança do aluno deve acompanhá-lo e permanecer por um determinado período no ambiente escolar, até que ele desenvolva autoconfiança. Os próprios coordenadores podem, por vezes, desempenhar este papel, ao ficarem mais próximos deste aluno, encorajando-o a ponto de se sentir bem na sala de aula.
A fobia escolar cursa também com o que chamamos de ansiedade de separação (outro transtorno que também acomete crianças), que se configura no medo de se separar dos pais ou pessoas de importante vínculo, em preocupações constantes de que algo de ruim possa lhes acontecer ou até mesmo no medo de perdê-los. Via de regra, crianças que apresentam também ansiedade de separação, além do medo de irem para a escola, têm dificuldades em dormir sozinhas, medo de ir para casa de amigos, entre outras relutâncias em se distanciar das pessoas com as quais passa a maior parte do tempo.
Assim, uma maneira da criança ficar menos insegura em se separar dos pais, é oferecer o máximo de sinceridade possível a ela, ou seja, desejar e demonstrar, de fato, que estão felizes ao seu lado, enquanto há tempo disponível para isso. Duplas mensagens por parte dos pais fazem com que a criança fique insegura, já que ela perde a referência com quem e com o que exatamente pode contar. É essa insegurança que a deixa mais “grudenta” e chorosa, pois ela passa a ter um sentimento de que pode ser abandonada a qualquer instante, o que traz grande sofrimento.
No momento de ir para escola os pais devem ser firmes, mas respeitar a limitação de seus filhos, pois para eles já é muito difícil estar com estes transtornos.
Crianças com fracassos escolares ou com transtorno de aprendizado, mas que são disciplinadas, podem também desenvolver fobia escolar, pois não querem expor os seus insucessos (aliás, como a maioria dos seres humanos). Nestes casos, vale a pena investigar a causa do fracasso escolar, por meio de profissionais especializados na área.
Causas da fobia escolar
Os motivos que levam a criança a desenvolver fobia escolar podem ser vários ou uma associação deles. Dentre eles estão a predisposição biológica (genética), o temperamento e a vulnerabilidade à ação do ambiente familiar, o qual pode ser estressante ou até mesmo os próprios pais demonstrarem preocupação excessiva com a separação dos seus filhos. É interessante salientar que duas ou mais crianças que recebem a mesma educação, tanto escolar quanto familiar, (filhas dos mesmos pais), não significa necessariamente que todas irão desenvolver fobia escolar.
Uma das formas de tratamento para este transtorno é a terapia cognitivo-comportamental (TCC), cuja abordagem ajudará a criança pensar e agir de forma diferente, por meio de técnicas específicas aplicadas para as dificuldades de cada uma. Caso a fobia seja muito grave, vale a pena consultar um psiquiatra, pois poderá fazer uma avaliação do quadro clínico e, se for necessário, prescrever medicações adequadas. Este profissional também poderá descartar todas as possibilidades de outras doenças estarem causando tanta ansiedade.
É fundamental que os pais fiquem atentos quanto à procura de profissionais especializados, já que a demora no tratamento pode ocasionar afastamento da escola, fracasso e repetência escolar, vergonha de enfrentar novamente os coleguinhas, entre outros fatores. Todos eles são indutores da baixa auto-estima da criança, que poderá lhe trazer prejuízos para o resto de sua vida. Além disso, é muito comum que a fobia escolar esteja associada a outros medos como, por exemplo, de elevador, animais, escuro, etc. Enfim, os danos são grandes quando se adia o tratamento.
Papais e mamães, a culpa não é de ninguém quando a criança apresenta fobia escolar. Os pais, na maioria das vezes, estão dispostos a acertar na educação dos seus filhos, mas se começarem a se culpar, provavelmente errarão muito mais. Pais culpados não colaboram em nada na melhora dos seus próprios filhos! Contudo, existem responsabilidades que sempre são de quem cuida e isso implica em identificar o problema, buscar tratamento, seguir as orientações no sentido de trazer alívio à criança que está sofrendo. Procurar ajuda, ouvir as diretrizes dos profissionais envolvidos e poder dividir as dificuldades que possam encontrar no tratamento de seu filho, contribuirá efetivamente na maravilhosa tarefa de ser pai e mãe.
Fonte: Psicologi Virtual
Fonte: psicologia Virtual
Consultoria psicopedagógica: distúrbios de aprendizagem, dislexia, sexualidade infantil. Acompanhamento psicopedagógico e pedagógico. Ministro palestras em escolas (tema a escolha do contratante), consultas psicopedagógica, hiperatividade, fobia escolar ... Contato: carmemfidalgo@gmail.com
quarta-feira, 8 de junho de 2011
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Crianças imaturas
MAS EU QUERO!
Isabel Cristina Hierro Parolin
Tenho presenciado cenas e vivido situações, principalmente com crianças na faixa etária entre 5 e 9 anos, que acreditam que basta elas não quererem para que devam ser atendidas. Tem-se a impressão de que a criança aprendeu que a simples formulação dessa frase, "mas eu quero..." estabelece o motivo e a obrigatoriedade de serem atendidas, incondicionalmente, em seu desejo.
Ouço depoimentos de professores relatando histórias de alunos que se negam a fazer lições de casa ou a estudar determinado tema, ou a participar de um trabalho coletivo e, como justificativa, estas crianças dizem que não querem, que é chato. Quando os professores insistem, dando um limite claro que é importante e necessário fazer determinada atividade escolar elas replicam, revestidas de autoridade que não querem fazer e que não vão fazer!
E agora? Como proceder? Estas crianças acreditam que só devem fazer o que lhes dá prazer. O que elas aceitem. Não aceitam submeter-se a um processo mais trabalhoso e mais elaborado. Não aceitam os procedimentos acadêmicos necessários à aprendizagem. Não querem, como se diz em linguagem popular, suar a camisa... Se estes professores recorrem aos pais, eles replicam "Você viu só? Ela só faz o que ela quer..." ou ainda, "Ele é fogo...Não obedece mesmo!"
Um pai contou-me que seu filho negava-se a escovar os dentes e que não havia jeito de o fazê-lo. Perguntou-me se ele deveria deixar e esperar que ele amadurecesse e entendesse a necessidade, desta higiene ou se ele deveria insistir. E os dentes esperam uma pessoa amadurecer para escova-los? Parece-me que não!
Ainda conheço um jovem que se nega a ir para a primeira aula, pois acha muito cedo. Conheço outro menino que não aceita fazer exercícios, ele acha que, basta ouvir o professor explicar. Sei de crianças que se negam a colocar o uniforme da escola por acha-lo feio. Sei de uma menina que não aceita a norma de não comer durante as aulas. Sei de pais que não conseguem que seu filho tome o remédio por ser ruim. Algumas crianças e jovens não vão à recuperação, outros não querem fazer terapia...E assim vai...
O insólito dos relatos não é os fatos em si, pois se pensarmos bem escovar os dentes é um expediente trabalhoso, assim como fazer exercícios de matemática. Levantar cedo é chato mesmo, mas faz parte do viver em nossa sociedade. Talvez o uniforme a que o aluno se refere não seja o mais bonito, mas é o uniforme da escola que ele escolheu e freqüenta. Os horários e os procedimentos escolares são contratados na matrícula. Logo, por que estes pais não conseguem que seus filhos procedam de acordo com o contrato, as necessidades, costumes ou regras?
Muitos pais acreditam que por não estarem dando a atenção que gostariam de dar para seus filhos não têm o direito de lhes exigir responsabilidade."Ela ainda é uma criança...", pensam. Outra situação relacionada ao fato da culpa por não estar mais perto de seus filhos é o hábito de dar coisas para compensar a ausência, como se este procedimento os redimisse e os tornasse bons pais e merecedores do amor e admiração de seus filhos. Acabam construindo um circuito de prazer em que a frustração deve ser evitada a todo o custo. Quem não se propõe a trabalhar suas dificuldades, a viver situações de estresse e de frustração e a entender a dinâmica social não poderá inserir-se adequadamente neste contexto. Vale dizer que ao poupar uma criança do trabalho de crescer a condenamos a ser eternamente crianças, imaturas e despreparadas para o convívio e para o exercício da cidadania.
Por outro lado, as crianças não querem apenas as coisas que pedem ou que negam fazer. Na grande maioria das vezes elas não sabem, exatamente, o que estão querendo e quais seriam as repercussões de seus atos. Elas buscam algo muito mais importante e necessário para elas que é a emoção e a atenção de seus pais. Este movimento acaba criando um circuito vicioso em que quanto mais a criança quer, mais ela ganha e mais ela quer. O relacionamento acaba se substanciando no estresse da relação e na ausência de regras de boa convivência. Os pais ficam exaustos e os filhos insaciáveis.
Os porquês e as regras são fundamentais para que a criança entre no universo da razão. É esperado que uma criança só queira viver coisas que lhe dêem prazer, no entanto, é fundamental que seus pais e professores lhe mostrem que o esforço faz parte das conquistas. Ninguém morre por não ser atendido em um desejo, mas pode perder muito por não conseguir compreender que seus pais têm dificuldades, trabalham, se esforçam. A relação de autoridade, que inicia na relação com os pais, possibilita à criança uma convivência politizada e instrumentalizada para esses novos tempos.
Inicialmente uma criança obedece por respeitar a pessoa que impõe a regra, depois com a repetição e o entendimento de sua lógica a criança compreende e aceita a regra e esta é reelaborada e passa a ter um sentido social, além de uma lógica pessoal. Para que isto ocorra são necessários muitos 'nãos" e seus devidos "porquês", além de uma boa dose de paciência, de escuta e de atenção. Mais tarde, quando a criança for maior ela respeitará quem lhe ensinou a viver adequadamente dentro das normas sociais a que todos somos expostos.
Crescer é transpor limites. Quando os pais não dão limites para seus filhos acabam limitando-os em sua condição infantil e impossibilitam o transcender da maturidade
Muitos pais confundem atender incondicionalmente uma criança com educá-la amorosamente. É muito importante a criança sentir-se compreendida em seus desejos e desprazeres, saber que está sendo ouvida e que tem com quem contar. Acolher o sentimento é um procedimento esperado, adequado e muito importante à formação de uma pessoa. Dar limites para a ação é um procedimento educativo fundamental para a adequação emocional e social.
Estava em uma festinha quando uma criança procurou, chorando a sua mãe e explicou que um amiguinho tinha lhe batido. A mãe teve uma reação fundamental para a educação e equilíbrio emocional de seu filho. Abraçou-o e ouviu o relato choroso da criança. Após o desabafo a mãe comentou, 'puxa, que chato...isto dói mesmo...você deve estar sentindo muita raiva dele..." A criança sentindo-se acolhida, prosseguiu: "Eu quero que você bate nele, para ele não bater mais em mim..." A mãe explicou para ele que um erro não justificava outro. Explicou para o seu filho que um menino que não sabe respeitar seus amigos, fica sem companhia e que o ganho dele era ser considerado legal e que, quem sabe respeitar, sempre tem amigos. O menino contentou-se, sentiu-se valorizado e importante e voltou a brincar. A ação deve ser educada e o desejo deve ser compreendido, nos ensina Yves de La Taille.
Nós, pais e educadores devemos estar sempre atentos ao que permitimos "apenas hoje" ou ainda, "só nesta situação", pois a cada ação, nossas crianças constroem seus valores, seus códigos de conduta e seus princípios.
Pais e professores de uma criança devem se fazer presentes em suas vidas promovendo vivências fundamentadas nas virtudes, só desta forma nossas crianças poderão superar-se e superar-nos na milenar arte de viver e conviver!
Publicado em 18/10/2001
Isabel Cristina Hierro Parolin - Pedagoga pela PUC-PR, Especialista em Psicodrama e Psicopedagogia e Mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP. Atende crianças e jovens em seu processo de aprender ou de não-aprender, assim como a suas famílias, objetivando ações educativas. Consultora institucional, em todo o Brasil, de escolas públicas e privadas. Professora em cursos de pós-graduação em psicopedagogia e áreas correlatas. Pesquisadora do grupo “Aprendizagem e Conhecimento na ação educativa” da PUCPR. Palestrante para pais e professores. Conselheira da Associação Brasileira de Psicopedagogia PR-SUL. Participou de eventos educacionais no Japão, Áustria, Bulgária, Alemanha e Espanha. Autora de vários livros e artigos em revistas, jornais e sites relacionados à aprendizagem e à educação.
Isabel Cristina Hierro Parolin
Tenho presenciado cenas e vivido situações, principalmente com crianças na faixa etária entre 5 e 9 anos, que acreditam que basta elas não quererem para que devam ser atendidas. Tem-se a impressão de que a criança aprendeu que a simples formulação dessa frase, "mas eu quero..." estabelece o motivo e a obrigatoriedade de serem atendidas, incondicionalmente, em seu desejo.
Ouço depoimentos de professores relatando histórias de alunos que se negam a fazer lições de casa ou a estudar determinado tema, ou a participar de um trabalho coletivo e, como justificativa, estas crianças dizem que não querem, que é chato. Quando os professores insistem, dando um limite claro que é importante e necessário fazer determinada atividade escolar elas replicam, revestidas de autoridade que não querem fazer e que não vão fazer!
E agora? Como proceder? Estas crianças acreditam que só devem fazer o que lhes dá prazer. O que elas aceitem. Não aceitam submeter-se a um processo mais trabalhoso e mais elaborado. Não aceitam os procedimentos acadêmicos necessários à aprendizagem. Não querem, como se diz em linguagem popular, suar a camisa... Se estes professores recorrem aos pais, eles replicam "Você viu só? Ela só faz o que ela quer..." ou ainda, "Ele é fogo...Não obedece mesmo!"
Um pai contou-me que seu filho negava-se a escovar os dentes e que não havia jeito de o fazê-lo. Perguntou-me se ele deveria deixar e esperar que ele amadurecesse e entendesse a necessidade, desta higiene ou se ele deveria insistir. E os dentes esperam uma pessoa amadurecer para escova-los? Parece-me que não!
Ainda conheço um jovem que se nega a ir para a primeira aula, pois acha muito cedo. Conheço outro menino que não aceita fazer exercícios, ele acha que, basta ouvir o professor explicar. Sei de crianças que se negam a colocar o uniforme da escola por acha-lo feio. Sei de uma menina que não aceita a norma de não comer durante as aulas. Sei de pais que não conseguem que seu filho tome o remédio por ser ruim. Algumas crianças e jovens não vão à recuperação, outros não querem fazer terapia...E assim vai...
O insólito dos relatos não é os fatos em si, pois se pensarmos bem escovar os dentes é um expediente trabalhoso, assim como fazer exercícios de matemática. Levantar cedo é chato mesmo, mas faz parte do viver em nossa sociedade. Talvez o uniforme a que o aluno se refere não seja o mais bonito, mas é o uniforme da escola que ele escolheu e freqüenta. Os horários e os procedimentos escolares são contratados na matrícula. Logo, por que estes pais não conseguem que seus filhos procedam de acordo com o contrato, as necessidades, costumes ou regras?
Muitos pais acreditam que por não estarem dando a atenção que gostariam de dar para seus filhos não têm o direito de lhes exigir responsabilidade."Ela ainda é uma criança...", pensam. Outra situação relacionada ao fato da culpa por não estar mais perto de seus filhos é o hábito de dar coisas para compensar a ausência, como se este procedimento os redimisse e os tornasse bons pais e merecedores do amor e admiração de seus filhos. Acabam construindo um circuito de prazer em que a frustração deve ser evitada a todo o custo. Quem não se propõe a trabalhar suas dificuldades, a viver situações de estresse e de frustração e a entender a dinâmica social não poderá inserir-se adequadamente neste contexto. Vale dizer que ao poupar uma criança do trabalho de crescer a condenamos a ser eternamente crianças, imaturas e despreparadas para o convívio e para o exercício da cidadania.
Por outro lado, as crianças não querem apenas as coisas que pedem ou que negam fazer. Na grande maioria das vezes elas não sabem, exatamente, o que estão querendo e quais seriam as repercussões de seus atos. Elas buscam algo muito mais importante e necessário para elas que é a emoção e a atenção de seus pais. Este movimento acaba criando um circuito vicioso em que quanto mais a criança quer, mais ela ganha e mais ela quer. O relacionamento acaba se substanciando no estresse da relação e na ausência de regras de boa convivência. Os pais ficam exaustos e os filhos insaciáveis.
Os porquês e as regras são fundamentais para que a criança entre no universo da razão. É esperado que uma criança só queira viver coisas que lhe dêem prazer, no entanto, é fundamental que seus pais e professores lhe mostrem que o esforço faz parte das conquistas. Ninguém morre por não ser atendido em um desejo, mas pode perder muito por não conseguir compreender que seus pais têm dificuldades, trabalham, se esforçam. A relação de autoridade, que inicia na relação com os pais, possibilita à criança uma convivência politizada e instrumentalizada para esses novos tempos.
Inicialmente uma criança obedece por respeitar a pessoa que impõe a regra, depois com a repetição e o entendimento de sua lógica a criança compreende e aceita a regra e esta é reelaborada e passa a ter um sentido social, além de uma lógica pessoal. Para que isto ocorra são necessários muitos 'nãos" e seus devidos "porquês", além de uma boa dose de paciência, de escuta e de atenção. Mais tarde, quando a criança for maior ela respeitará quem lhe ensinou a viver adequadamente dentro das normas sociais a que todos somos expostos.
Crescer é transpor limites. Quando os pais não dão limites para seus filhos acabam limitando-os em sua condição infantil e impossibilitam o transcender da maturidade
Muitos pais confundem atender incondicionalmente uma criança com educá-la amorosamente. É muito importante a criança sentir-se compreendida em seus desejos e desprazeres, saber que está sendo ouvida e que tem com quem contar. Acolher o sentimento é um procedimento esperado, adequado e muito importante à formação de uma pessoa. Dar limites para a ação é um procedimento educativo fundamental para a adequação emocional e social.
Estava em uma festinha quando uma criança procurou, chorando a sua mãe e explicou que um amiguinho tinha lhe batido. A mãe teve uma reação fundamental para a educação e equilíbrio emocional de seu filho. Abraçou-o e ouviu o relato choroso da criança. Após o desabafo a mãe comentou, 'puxa, que chato...isto dói mesmo...você deve estar sentindo muita raiva dele..." A criança sentindo-se acolhida, prosseguiu: "Eu quero que você bate nele, para ele não bater mais em mim..." A mãe explicou para ele que um erro não justificava outro. Explicou para o seu filho que um menino que não sabe respeitar seus amigos, fica sem companhia e que o ganho dele era ser considerado legal e que, quem sabe respeitar, sempre tem amigos. O menino contentou-se, sentiu-se valorizado e importante e voltou a brincar. A ação deve ser educada e o desejo deve ser compreendido, nos ensina Yves de La Taille.
Nós, pais e educadores devemos estar sempre atentos ao que permitimos "apenas hoje" ou ainda, "só nesta situação", pois a cada ação, nossas crianças constroem seus valores, seus códigos de conduta e seus princípios.
Pais e professores de uma criança devem se fazer presentes em suas vidas promovendo vivências fundamentadas nas virtudes, só desta forma nossas crianças poderão superar-se e superar-nos na milenar arte de viver e conviver!
Publicado em 18/10/2001
Isabel Cristina Hierro Parolin - Pedagoga pela PUC-PR, Especialista em Psicodrama e Psicopedagogia e Mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP. Atende crianças e jovens em seu processo de aprender ou de não-aprender, assim como a suas famílias, objetivando ações educativas. Consultora institucional, em todo o Brasil, de escolas públicas e privadas. Professora em cursos de pós-graduação em psicopedagogia e áreas correlatas. Pesquisadora do grupo “Aprendizagem e Conhecimento na ação educativa” da PUCPR. Palestrante para pais e professores. Conselheira da Associação Brasileira de Psicopedagogia PR-SUL. Participou de eventos educacionais no Japão, Áustria, Bulgária, Alemanha e Espanha. Autora de vários livros e artigos em revistas, jornais e sites relacionados à aprendizagem e à educação.
terça-feira, 5 de abril de 2011
Alienação, emburrecimento ? Como estão os novos formandos ?
Com a atual educação pública, o dito de que "nascemos simples e ignorantes" será complementado com "nascemos simples e ignorantes, e assim permaneceremos", pois a palavra ignorante é derivada do grego gno, que é aplicada a ideia do saber, e o prefixo i é uma negação dessa ideia.
Com a atual educação pública, não é trabalhado o saber a seus alunos – saber esse que deveria levá-los a um protagonismo e criticidade. Essa educação trabalha mais a alienação e o "emburrecimento". Isso porque ela se esbarra na burocracia, na corrupção, na falta de ética de muitos políticos, na perda da dignidade do educador, na baixa autoestima, na omissão da família, no descaso da sociedade, no excesso de violência e na não “reprovação”, entendida de maneira equivocada pelos pseudos-educadores.
Ela deveria ser como uma bússola, e esta deveria sempre ter como norte a cidadania, o protagonismo, a criticidade, o humanismo, a socialização e a equidade, mas essa bússola lembra um pouco a do Capitão Jack Sparrow (interpretado pelo ator Johnny Depp no filme Piratas do Caribe). Os personagens que fazem parte das aventuras desse capitão veem a bússola como um objeto e até mesmo uma ferramenta sem relevância, simplesmente por estar quebrada, mas eles não percebem que essa bússola é diferente das outras, ela aponta sempre para o que você mais quer no mundo. E, se tratando da educação, o que os políticos mais querem em nosso País é estatística; são números altos demonstrando que a escolaridade dos estudantes tem se elevado e trazendo, com essa hipocrisia, alguns analfabetos e um alto índice de analfabetismo funcional com diplomas de 1º e 2º graus, e um déficit em letramento além da capacidade para se reso lver problemas cotidianos, implicando consequentemente em futuros maus profissionais.
Esses formandos e/ou recém-formados servirão para aumentar ainda mais essa massa de manobra, tratados como gado marcado e destinados a uma medíocre existência devido a uma manipulação desse nosso sistema falho, corrupto e corruptor, que violenta a dignidade dos poucos que resolvem deixar cair a máscara da alienação, a ponto de não iludir-se pela cortina de fumaça com resultados manipuláveis e equivocados.
Será que ainda poderemos chamar nossos discentes de educandos ou apenas de estudantes? Estudantes por estarem em uma sala de aula, sendo simplesmente adestrados nos princípios mais básicos da educação, pois o ato de educar engloba mudança de comportamento, implica em um devir e em uma criticidade e em uma cognição, o que vem a reforçar o sujeito como ser cognoscente.
Por sorte, temos ainda bons profissionais da educação. Apesar de serem a minoria, eles continuam lutando e não sonhando, pois a grande maioria vive de sonhos e isso diferencia o bom do medíocre, visto que os bons lutam, são proativos e protagonistas de uma educação que faz a diferença, elevando assim a dignidade do povo brasileiro e sendo o diferencial nesse nosso sistema, apesar de a estatística colocar todos os educadores em um mesmo saco e generalizar a incompetência e a falta de profissionalismo como se fosse um problema de todos os profissionais.
Com todos esses reveses, os bons educadores são como estrelas em um universo frio e escuro de indiferenças.
(Texto do professor Wolmer Ricardo Tavares, docente e coordenador de extensão da UNIPAC)
Com a atual educação pública, não é trabalhado o saber a seus alunos – saber esse que deveria levá-los a um protagonismo e criticidade. Essa educação trabalha mais a alienação e o "emburrecimento". Isso porque ela se esbarra na burocracia, na corrupção, na falta de ética de muitos políticos, na perda da dignidade do educador, na baixa autoestima, na omissão da família, no descaso da sociedade, no excesso de violência e na não “reprovação”, entendida de maneira equivocada pelos pseudos-educadores.
Ela deveria ser como uma bússola, e esta deveria sempre ter como norte a cidadania, o protagonismo, a criticidade, o humanismo, a socialização e a equidade, mas essa bússola lembra um pouco a do Capitão Jack Sparrow (interpretado pelo ator Johnny Depp no filme Piratas do Caribe). Os personagens que fazem parte das aventuras desse capitão veem a bússola como um objeto e até mesmo uma ferramenta sem relevância, simplesmente por estar quebrada, mas eles não percebem que essa bússola é diferente das outras, ela aponta sempre para o que você mais quer no mundo. E, se tratando da educação, o que os políticos mais querem em nosso País é estatística; são números altos demonstrando que a escolaridade dos estudantes tem se elevado e trazendo, com essa hipocrisia, alguns analfabetos e um alto índice de analfabetismo funcional com diplomas de 1º e 2º graus, e um déficit em letramento além da capacidade para se reso lver problemas cotidianos, implicando consequentemente em futuros maus profissionais.
Esses formandos e/ou recém-formados servirão para aumentar ainda mais essa massa de manobra, tratados como gado marcado e destinados a uma medíocre existência devido a uma manipulação desse nosso sistema falho, corrupto e corruptor, que violenta a dignidade dos poucos que resolvem deixar cair a máscara da alienação, a ponto de não iludir-se pela cortina de fumaça com resultados manipuláveis e equivocados.
Será que ainda poderemos chamar nossos discentes de educandos ou apenas de estudantes? Estudantes por estarem em uma sala de aula, sendo simplesmente adestrados nos princípios mais básicos da educação, pois o ato de educar engloba mudança de comportamento, implica em um devir e em uma criticidade e em uma cognição, o que vem a reforçar o sujeito como ser cognoscente.
Por sorte, temos ainda bons profissionais da educação. Apesar de serem a minoria, eles continuam lutando e não sonhando, pois a grande maioria vive de sonhos e isso diferencia o bom do medíocre, visto que os bons lutam, são proativos e protagonistas de uma educação que faz a diferença, elevando assim a dignidade do povo brasileiro e sendo o diferencial nesse nosso sistema, apesar de a estatística colocar todos os educadores em um mesmo saco e generalizar a incompetência e a falta de profissionalismo como se fosse um problema de todos os profissionais.
Com todos esses reveses, os bons educadores são como estrelas em um universo frio e escuro de indiferenças.
(Texto do professor Wolmer Ricardo Tavares, docente e coordenador de extensão da UNIPAC)
domingo, 27 de fevereiro de 2011
A Psicopedagogia e a Familia
A PSICOPEDAGOGIA E A FAMÍLIA
Isa Spanghero Stoeber, Zuleica P. De Felice
Ambas coordenam a seção de Psicopedagogia da Revista Viver, onde escrevem ou entrevistam profissionais, procurando criar um espaço de reflexão sobre essas áreas tão fundamentais de estudo, pesquisa e atuação. Nesta entrevista, elas discorrem sobre sua prática e os pontos de interligação entre as áreas profissionais, que permitem um trabalho de ótima parceria, com benefício para os indivíduos, as instituições e os profissionais
É possível desenvolver um trabalho psicopedagógico que inclua também a família?
Fazer um trabalho psicopedagógico interligado a uma terapia com a família amplia sobremaneira as possibilidades de investimento nos recursos pessoais e familiares dos pacientes que nos chegam ao consultório. Não nos podemos esquecer de que os relacionamentos humanos possuem múltiplas facetas, pois cada um de nós desempenha na vida uma enorme variedade de papéis, muitos dos quais justamente com alicerces na dinâmica família/indivíduo: papel de pai, de mãe, de filho, filha, de avô, avó, de irmão, irmã, para apenas citarmos os referentes à família nuclear. O sucesso ou insucesso dos outros inumeráveis papéis que teremos de exercer ao longo de nossa história dependerão, em grande parte, do sucesso ou insucesso de nossas relações dentro do sistema familiar. Poder investir neste sistema é, então, poder desenvolver meios eficazes de atuação em vários outros sistemas, entre eles a escola. É neste ponto de confluência que surge a riqueza de um trabalho psicopedagógico em parceria com um trabalho de terapia de família. Temos percebido, em nossa prática, que as queixas, sejam elas quais forem - dificuldade de atenção e concentração, no processo de aquisição da leitura e da escrita, no processo matemático, na organização, no tempo e espaço, nos relacionamentos, etc - sempre implicam a inclusão das instituições e, principalmente, a da família: o indivíduo nunca está sozinho no espaço terapêutico, pois traz com ele próprio todas essas relações.
Como é o trabalho de um terapeuta familiar sistêmico?
Quando uma família nos procura, o que ela pede é que a ajudemos a ver em que ponto de sua história ela ficou paralisada, que nó impede seu perfeito funcionamento, ou qual padrão de ligação não satisfaz. Salvador Minuchin, um dos grandes terapeutas familiares da atualidade, afirma que as famílias constroem histórias sobre suas vidas, e depois, com o passar dos tempos, elas se tornam as próprias histórias que contam. Por isto, a maneira como se organiza uma família está intimamente relacionada à visão que ela tem de si mesma. Com o passar do tempo, essa visão acaba por ajudar a construir os mitos familiares que, por sua vez, reforçam a visão que a família tem de si, e assim, sucessivamente. Muitas vezes, quando a família traz os seus problemas ao consultório, o que ela traz realmente são as definições que criou para si própria, e que acabam por funcionar como carcereiras: tentar escapar delas é como apalpar a morte, pois não se pode imaginar a vida de outra maneira. Numa dinâmica familiar, os vínculos emocionais que atam uns aos outros têm a densidade de um fio de aço: possibilitar movê-los, flexibilizá-los ou desatá-los é convidar os membros de um sistema familiar a percorrer um caminho cheio de perigos, mas com possibilidades imensas de novas descobertas. Nesse sistema, tudo aparece em forma de interações: não há o indivíduo sozinho, mas o indivíduo em interação com...Assim, uma mulher, enquanto esposa de um homem autoritário, pode funcionar como submissa, enquanto ela mesma é uma déspota na relação com os filhos. Estes, por sua vez, com cada um de seus irmãos podem agir de uma maneira: dóceis com alguns, blefadores com outros, dominadores com um mais novo, e assim por diante... Na terapia de família de linha sistêmica o terapeuta também faz parte do processo. Ele, ao experienciar as formas de atuação da família, por sua vez, revê suas próprias formas de atuação: ao filiar-se ao sistema familiar, possibilita que os membros daquele sistema também se filiem a ele. E é por meio da conquista da confiança na figura do terapeuta que se tornam plausíveis as mudanças necessárias.
Como deve ser vista a prática psicopedagógica, e em que sentido ela se articula com a terapia de família de linha sistêmica?
A prática psicopedagógica deve ter um olhar voltado para a saúde, para o desenvolvimento do potencial do sujeito como construtor do conhecimento, e, para tal, deve auxiliá-lo a sair do espaço e do tempo em que está, ressignificando sua aprendizagem. Deve também olhar as dificuldades -sejam cognitivas ou afetivas - como oportunidades de crescimento, pois todo indivíduo aprende além dos aspectos educacionais ou pedagógicos. Ela pode ter como suporte teórico os saberes das outras ciências, construindo-se e articulando-se em diferentes níveis, e, neste aspecto, articula-se muito bem com a terapia familiar sistêmica. Lembrando a fala de Lino de Macedo: "Qualquer pessoa pode beneficiar-se da psicopedagogia, pois ela é também uma prestadora de serviços. Como o conhecimento não tem fronteiras e nem proprietários, ela aceita o sujeito do conhecimento tal como ele se apresenta.."
Qual a função do psicopedagogo no processo ensino-aprendizagem e como pode ajudar a lidar com o fracasso escolar?
O processo de aprendizagem está intimamente ligado ao processo de estar no mundo, com suas dificuldades, obstáculos e "confusões vivenciais". Ora, se cada situação é um processo de aprendizado e compreensão, podemos encarar os obstáculos no percurso da vida - tais como, por exemplo, uma situação de fracasso escolar - como favorecedores de crescimento. Parece, no entanto, que a maior preocupação que se tem com respeito a situações consideradas "de fracasso escolar" é com relação ao futuro: seriam elas prenúncio de um fracasso na vida profissional, por exemplo? É importante lembrar que o fracasso escolar deve ser visto como sintoma de alguma outra dificuldade, que, por sua vez, solicita reflexão e mudança. Ligado objetivamente à reprovação escolar, ao indivíduo que não consegue aprender dentro de determinadas estruturas, o fracasso escolar, no entanto, pode ser visto inclusive como um rótulo que camufla as dificuldades de um sistema escolar. O campo de atuação onde ocorre pode ser determinante: reavaliar esse campo e os padrões por ele fixados é de vital importância para a compreensão de situações de dificuldade. Olhar um indivíduo com dificuldades escolares como se fosse um tonel que se esvazia, que não tem memória e não registra nada é, no mínimo, uma postura reducionista, que não permite encará-lo como sujeito de sua própria história. Por isto, o psicopedagogo deve trabalhar em conjunto com a família, a escola e outros profissionais ou instituições envolvidas, para poder chegar a um consenso a respeito dos problemas e das possibilidades de soluções. São questões como essas que merecem a atenção do psicopedagogo, e podem transformá-lo num mediador entre o aluno, a escola e a família, tanto instrumentalizando esse aluno para sua inclusão no sistema de ensino, como instrumentalizando as instituições no sentido de relativizar as expectativas.
Isa Spanghero Stoeber, Zuleica P. De Felice - Isa - orientadora educacional e terapeuta de família. Zuleica - psicopedagoga clínica e institucional.
Isa Spanghero Stoeber, Zuleica P. De Felice
Ambas coordenam a seção de Psicopedagogia da Revista Viver, onde escrevem ou entrevistam profissionais, procurando criar um espaço de reflexão sobre essas áreas tão fundamentais de estudo, pesquisa e atuação. Nesta entrevista, elas discorrem sobre sua prática e os pontos de interligação entre as áreas profissionais, que permitem um trabalho de ótima parceria, com benefício para os indivíduos, as instituições e os profissionais
É possível desenvolver um trabalho psicopedagógico que inclua também a família?
Fazer um trabalho psicopedagógico interligado a uma terapia com a família amplia sobremaneira as possibilidades de investimento nos recursos pessoais e familiares dos pacientes que nos chegam ao consultório. Não nos podemos esquecer de que os relacionamentos humanos possuem múltiplas facetas, pois cada um de nós desempenha na vida uma enorme variedade de papéis, muitos dos quais justamente com alicerces na dinâmica família/indivíduo: papel de pai, de mãe, de filho, filha, de avô, avó, de irmão, irmã, para apenas citarmos os referentes à família nuclear. O sucesso ou insucesso dos outros inumeráveis papéis que teremos de exercer ao longo de nossa história dependerão, em grande parte, do sucesso ou insucesso de nossas relações dentro do sistema familiar. Poder investir neste sistema é, então, poder desenvolver meios eficazes de atuação em vários outros sistemas, entre eles a escola. É neste ponto de confluência que surge a riqueza de um trabalho psicopedagógico em parceria com um trabalho de terapia de família. Temos percebido, em nossa prática, que as queixas, sejam elas quais forem - dificuldade de atenção e concentração, no processo de aquisição da leitura e da escrita, no processo matemático, na organização, no tempo e espaço, nos relacionamentos, etc - sempre implicam a inclusão das instituições e, principalmente, a da família: o indivíduo nunca está sozinho no espaço terapêutico, pois traz com ele próprio todas essas relações.
Como é o trabalho de um terapeuta familiar sistêmico?
Quando uma família nos procura, o que ela pede é que a ajudemos a ver em que ponto de sua história ela ficou paralisada, que nó impede seu perfeito funcionamento, ou qual padrão de ligação não satisfaz. Salvador Minuchin, um dos grandes terapeutas familiares da atualidade, afirma que as famílias constroem histórias sobre suas vidas, e depois, com o passar dos tempos, elas se tornam as próprias histórias que contam. Por isto, a maneira como se organiza uma família está intimamente relacionada à visão que ela tem de si mesma. Com o passar do tempo, essa visão acaba por ajudar a construir os mitos familiares que, por sua vez, reforçam a visão que a família tem de si, e assim, sucessivamente. Muitas vezes, quando a família traz os seus problemas ao consultório, o que ela traz realmente são as definições que criou para si própria, e que acabam por funcionar como carcereiras: tentar escapar delas é como apalpar a morte, pois não se pode imaginar a vida de outra maneira. Numa dinâmica familiar, os vínculos emocionais que atam uns aos outros têm a densidade de um fio de aço: possibilitar movê-los, flexibilizá-los ou desatá-los é convidar os membros de um sistema familiar a percorrer um caminho cheio de perigos, mas com possibilidades imensas de novas descobertas. Nesse sistema, tudo aparece em forma de interações: não há o indivíduo sozinho, mas o indivíduo em interação com...Assim, uma mulher, enquanto esposa de um homem autoritário, pode funcionar como submissa, enquanto ela mesma é uma déspota na relação com os filhos. Estes, por sua vez, com cada um de seus irmãos podem agir de uma maneira: dóceis com alguns, blefadores com outros, dominadores com um mais novo, e assim por diante... Na terapia de família de linha sistêmica o terapeuta também faz parte do processo. Ele, ao experienciar as formas de atuação da família, por sua vez, revê suas próprias formas de atuação: ao filiar-se ao sistema familiar, possibilita que os membros daquele sistema também se filiem a ele. E é por meio da conquista da confiança na figura do terapeuta que se tornam plausíveis as mudanças necessárias.
Como deve ser vista a prática psicopedagógica, e em que sentido ela se articula com a terapia de família de linha sistêmica?
A prática psicopedagógica deve ter um olhar voltado para a saúde, para o desenvolvimento do potencial do sujeito como construtor do conhecimento, e, para tal, deve auxiliá-lo a sair do espaço e do tempo em que está, ressignificando sua aprendizagem. Deve também olhar as dificuldades -sejam cognitivas ou afetivas - como oportunidades de crescimento, pois todo indivíduo aprende além dos aspectos educacionais ou pedagógicos. Ela pode ter como suporte teórico os saberes das outras ciências, construindo-se e articulando-se em diferentes níveis, e, neste aspecto, articula-se muito bem com a terapia familiar sistêmica. Lembrando a fala de Lino de Macedo: "Qualquer pessoa pode beneficiar-se da psicopedagogia, pois ela é também uma prestadora de serviços. Como o conhecimento não tem fronteiras e nem proprietários, ela aceita o sujeito do conhecimento tal como ele se apresenta.."
Qual a função do psicopedagogo no processo ensino-aprendizagem e como pode ajudar a lidar com o fracasso escolar?
O processo de aprendizagem está intimamente ligado ao processo de estar no mundo, com suas dificuldades, obstáculos e "confusões vivenciais". Ora, se cada situação é um processo de aprendizado e compreensão, podemos encarar os obstáculos no percurso da vida - tais como, por exemplo, uma situação de fracasso escolar - como favorecedores de crescimento. Parece, no entanto, que a maior preocupação que se tem com respeito a situações consideradas "de fracasso escolar" é com relação ao futuro: seriam elas prenúncio de um fracasso na vida profissional, por exemplo? É importante lembrar que o fracasso escolar deve ser visto como sintoma de alguma outra dificuldade, que, por sua vez, solicita reflexão e mudança. Ligado objetivamente à reprovação escolar, ao indivíduo que não consegue aprender dentro de determinadas estruturas, o fracasso escolar, no entanto, pode ser visto inclusive como um rótulo que camufla as dificuldades de um sistema escolar. O campo de atuação onde ocorre pode ser determinante: reavaliar esse campo e os padrões por ele fixados é de vital importância para a compreensão de situações de dificuldade. Olhar um indivíduo com dificuldades escolares como se fosse um tonel que se esvazia, que não tem memória e não registra nada é, no mínimo, uma postura reducionista, que não permite encará-lo como sujeito de sua própria história. Por isto, o psicopedagogo deve trabalhar em conjunto com a família, a escola e outros profissionais ou instituições envolvidas, para poder chegar a um consenso a respeito dos problemas e das possibilidades de soluções. São questões como essas que merecem a atenção do psicopedagogo, e podem transformá-lo num mediador entre o aluno, a escola e a família, tanto instrumentalizando esse aluno para sua inclusão no sistema de ensino, como instrumentalizando as instituições no sentido de relativizar as expectativas.
Isa Spanghero Stoeber, Zuleica P. De Felice - Isa - orientadora educacional e terapeuta de família. Zuleica - psicopedagoga clínica e institucional.
sábado, 5 de fevereiro de 2011
Transtorno de conduta
TRANSTORNO DE CONDUTA
Fabiane Cristina Favarelli Navega
Sumário
Transtorno de conduta: uma orientação a educadores
Objetivou-se no presente trabalho informar e orientar os profissionais ligados a educação sobre as principais características, evolução, diagnóstico e tratamento do transtorno de conduta, desde a infância até a fase adulta. Pretendeu-se também esclarecer as principais diferenças entre a indisciplina e o transtorno apontado, bem como ressaltar a importância de um diagnóstico precoce e as possíveis intervenções medicamentosas, terapêuticas, familiares e escolares.
Palavras-Chave: Transtorno de conduta; caracterização da doença; diagnóstico; curso e prognóstico; tratamento.
Aimed to this present job to inform and to manage the professionals connected with the education about the main features, evolution, diagnosis and treatment of conduct disorder, since the childhood until adulthood. It was intended also to explain the main differences between the indiscipline and the conduct emphasized, as well as highlight the importance of an early diagnosis and the possible drug interventions, therapeutic, family and school.
Keywords: < conduct disorder; characterization of disease; diagnosis; course and prognosis; treatment >
INTRODUÇÃO
Com base nos relatos de educadores e familiares sobre atitudes inadequadas ou consideradas inaceitáveis para crianças e adolescentes, o artigo levantará algumas considerações importantes sobre o Transtorno de Conduta, desde a infância até a fase adulta. Todavia, serão apontadas os principais aspectos tais como: caracterização do transtorno, diagnóstico, curso e prognóstico, fatores associados ao comportamento, avaliação e tratamento, critérios avaliativos, prevalência e intervenções.
O objetivo do presente trabalho é transmitir algumas informações relevantes aos profissionais ligados à área da educação, com o intuito de informar e diferenciar a indisciplina de um Transtorno de Conduta, tendo em vista os inúmeros casos de violência física e moral que emergem hoje nas salas de aula, nas famílias e na sociedade.
O artigo busca dar subsídios aos educadores, orientando o seu trabalho educacional e visando o bem estar da criança.
Acredito que o esclarecimento de tal transtorno seja válido, pois nota-se que atualmente o número de violência, homicídios e uso de drogas aumenta avassaladoramente, sendo assim, através da informação tentar precocemente amenizar as más condutas.
1.CARACTERIZAÇÃO DO TRANSTORNO
Alguns comportamentos apresentados durante a infância podem ser observados no desenvolvimento normal de uma criança, tais como: mentir e matar aula, mas segundo Bordin (2.000, p.01), “Para diferenciar normalidade de psicopatologia, é importante verificar se esses comportamentos ocorrem esporadicamente e de modo isolado ou se constituem síndromes”.
Para que o indivíduo possa se enquadrar no diagnóstico de Transtorno de Conduta deverá ter apresentado nos últimos 12 meses comportamentos que incomodem ou perturbem o próximo, se envolver em atividades perigosas e ilegais, a maioria dos envolvidos não apresentam sofrimento ou constrangimento pelas suas atitudes, bem como não se importam em ferir ou maltratar animais e pessoas moralmente ou fisicamente.
Mondoni (2.006, p.01) ressalta também que, “Comportamentos que transgridem a lei constituem a elinqüência”. Todavia, o que se observa é que este distúrbio do comportamento é mais frequente na infância e adolescência e a primeira causa de encaminhamento ao psiquiatra infantil.
Com base em critérios diagnósticos internacionais (DSM-IV), na infância e na adolescência tais comportamentos fazem parte das categorias Transtorno Desafiador de Oposição (TDO) e Transtorno de Conduta (TC), já na fase adulta, a partir dos 18 anos, se enquadram no Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS).
2.DIAGNÓSTICO
Segundo o DSM-IV (1.995) O Transtorno de Conduta implica um padrão repetitivo e persistente de comportamentos no qual são violados os direitos dos outros e regras sociais.
Para que o diagnóstico seja fidedigno, faz-se imprescindível a presença de pelo menos, três das condutas abaixo apontada, e persistente por um período de 12 meses.
•Frequentemente persegue, atormenta, ameaça ou intimida os outros.
•Frequentemente inicia lutas corporais.
•Já usou armas que podem causar ferimentos graves.
•Foi cruel com pessoas, ferindo-as fisicamente.
•Foi cruel com animais.
•Roubou ou assaltou confrontando a vítima.
•Submeteu alguém a atividade sexual forçada.
•Iniciou incêndio com a intenção de provocar sérios danos.
•Destruiu propriedade alheia.
•Arrombou ou invadiu, casas, prédios ou carros.
•Mente ou engana para obter ganhos materiais, favores ou para fugir de obrigações.
•Furtou objetos de valor.
•Frequentemente passa a noite fora, apesar da proibição dos pais.
•Fugiu de casa pelo menos duas vezes, passando a noite fora, enquanto morava com os pais ou substitutos.
•Falta da escola sem motivo, matando aula frequentemente.
Fonte: http://www.psicologia.com.pt/instrumentos/dsm_cid.php
O DSM-IV subdivide o Transtorno de Conduta em dois subtipos: surgimento antes dos 10 anos de idade e após os 10 anos. Tais comportamentos, quando persistentes até a fase adulta (após 18 anos), se caracterizam por Transtorno de Personalidade Antissocial.
O CID-10 aponta que os transtornos de conduta são caracterizados por padrões persistentes de conduta dissocial, agressiva ou desafiante. Tal comportamento deve comportar grandes violações das expectativas sociais próprias à idade da criança; deve haver mais do que as travessuras infantis ou a rebeldia do adolescente e se trata de um padrão duradouro de comportamento (seis meses ou mais) (CID-10, 1993)
O diagnóstico se baseia na presença de condutas do seguinte tipo:
•manifestações excessivas de agressividade e de tirania;
•crueldade com relação a outras pessoas ou a animais;
•destruição dos bens de outrem;
•condutas incendiárias;
•roubos;
•mentiras repetidas;
•cabular aulas e fugir de casa;
•crises de birra e de desobediência anormalmente freqüentes e graves.
Fonte: CID-10, 1993.
A referida norma citada anteriormente, também subdivide o Transtorno de conduta em: socializados e não socializados. Transtorno de conduta não socializado é caracterizado pela presença de um comportamento dissocial ou agressivo persistente associado a uma alteração significativa e global das relações com as outras crianças.
Já os diagnosticados com o transtorno socializado apresentam comportamento dissocial ou agressivo manifestando-se em indivíduos habitualmente bem integrados com seus companheiros.
Segundo Silva (2.002 apud DSM-IV-TR, 2.008, p.207) o diagnóstico dado pelo especialista deve especificar a gravidade do transtorno em leve, moderado e grave.
Baseado nos critérios do CID-10 (1.992/1.993) os indivíduos com Transtorno de Oposição e Desafio e Transtorno de Conduta devem apresentar comportamentos pouco empáticos ou pouco preocupados com os sentimentos, desejos e bem-estar dos outros. Podem não apresentar sentimentos de culpa e remorso, que aprendem a simular para evitar punições. A autoestima é baixa e há reduzida tolerância à frustração, ocorrem acessos de raiva, irritabilidade imprudência, ocasionando um número alto de acidentes.
3.CURSO E PROGNÓSTICO
Evidências empíricas sugerem que as primeiras manifestações do comportamento antissocial podem aparecer precocemente, aproximadamente aos 18 meses, onde a criança já apresenta comportamentos como agredir os pais e destruir objetos.
Como visto anteriormente os sintomas do Transtorno de Conduta podem surgir desde a infância e persistir até a fase adulta. Na maior parte dos casos, quando o Transtorno de Conduta surge antes dos 10 anos de idade, é muito comum a presença do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). De acordo com Bordin (2.000, p.03) pode observar-se também “A presença de comportamento agressivo, déficit intelectual, convulsões e comprometimento do sistema nervoso central”.
De acordo com Bordin, o aparecimento do TDAH nos diagnóstico de Transtorno de Conduta pode chegar a 43% dos casos, envolvendo principalmente os meninos, já no sexo feminino é mais comum o aparecimento do quadro de ansiedade e depressão (33% dos casos).
Conforme Mondoni (2.006, p.05) “A prevalência do Transtorno de Conduta varia de acordo com muitos estudos, ficando entre 5 a 10%, sendo 2 a 3 vezes mais comuns em meninos”.
Pacheco et. al.(2.005, p.04) aborda que “Crianças que recebem o diagnóstico de Transtorno Desafiador de Oposição na infância, tendem a apresentar um risco aumentado para desenvolver posteriormente Transtorno de Conduta na adolescência”.
A maior parte das crianças diagnosticadas por Transtorno de Conduta ou Transtorno Desafiador de Oposição tendem a apresentar dificuldades de aprendizagem e fracasso escolar.
O que se observa é que comportamentos antissociais apresentados logo na infância, quando não tratados adequadamente, podem ser protótipos de comportamentos delinquentes para a fase adulta, discórdia conjugal, problemas de relacionamento social, uso de drogas e álcool.
Alguns fatores podem estar associados ao comportamento antissocial da criança. O que se observou em alguns estudos em clínicas psiquiátricas, foi que o ambiente familiar e social desajustado poderiam ser fatores de desencadeamento dos Transtornos.
Conforme aponta Bordin (2.000, p.04) alguns fatores seriam “Receber cuidados maternos inadequados, viver em meio à discórdia conjugal, pais agressivos e violentos, mães com problemas de saúde mental e viver em áreas urbanas”. Ainda esta autora nos afirma que há uma taxa maior de criminalidade nos pais biológicos do que nos pais adotivos, formulando a hipótese de uma predisposição biológica para o comportamento anitssocial.
De acordo com Morana (2.006, p.03) sobre o entendimento desses pacientes “É fundamental se considerar o ambiente em que vive o indivíduo e a interação com ele estabelecida”. Ressalta ainda a autora que a negligência e os maus-tratos recebidos por uma criança em que o cérebro está sendo esculpido pela experiência, induz a uma anomalia da circuitaria cerebral, podendo conduzir à agressividade, hiperatividade, distúrbio da atenção, delinquência e abuso de drogas. (Morana, 2.006)
4.AVALIAÇÃO
Segundo Barbieri (2.004, p.02) a avaliação da criança será feita a partir de “Assinalamentos e interpretações desde a primeira entrevista com o paciente e envolvidos com o mesmo, e durante a aplicação de técnicas projetivas”.
Para Morana (2.006, p.04) “A avaliação diagnóstica enfrenta polêmica, pois há uma divergência entre valorização das entrevistas livres ou aplicação de testes padronizados.” Com tudo, há profissionais que se utilizam de entrevistas e outros que se apóiam em testes psicológicos.
De qualquer maneira, independente dos procedimentos utilizados para se fazer o psicodiagnóstico, faz-se importante investigar toda a história de vida do examinado, verificando se há ou não padrão anormal de conduta, tomando como base os critérios estabelecidos pelo DSM-IV e CID-10.
Com base nos estudos e relatos de Barbieri (2.004), para se fazer o diagnóstico do transtorno, foi possível notar o uso dos seguintes instrumentos: entrevistas de anamnese, técnica de Rorschach, sessões psicanalíticas lúdicas, entrevista familiar diagnóstica e devolutiva.
5.TRATAMENTO
As pessoas diagnosticadas pelo Transtorno desafiador de Oposição, Transtorno de Conduta ou Transtorno de Personalidade necessitam de uma excessiva atenção e acompanhamento precoce, com o intuito de se amenizar os comportamentos antissociais.
Os tratamentos citados na literatura são bastante variados, podendo incluir: acompanhamento do indivíduo diagnosticado, intervenções familiares e junto a equipe escolar, orientando e treinando a família, comunidade e professores.
Os melhores resultados têm sido apontados por aqueles que têm por objetivo o tratamento de sintomas específicos, e a terapia comportamental dialética vem recebendo um reconhecimento internacional de sua eficácia em Transtorno de Personalidade. (MORANA, 2.006)
O que se observa é que nenhum tratamento obtém um resultado satisfatório quando aplicado isoladamente, isto é, faz-se necessário uma equipe multidisciplinar atuante, família, paciente, sociedade, escola e terapeuta, para que desta forma se encontre harmonia na intervenção.
No estudo de Bordin (2.000) é ressaltada a importância de se fazer o diagnóstico precocemente e quanto mais jovem o paciente, melhores os resultados obtidos nas intervenções. Neste mesmo estudo é apontada a importância de apoio aos pais, com o objetivo de se estabelecer métodos mais apropriados para educar o filho, bem como o contato do terapeuta com a escola, com o intuito de amparar a equipe pedagógica no relacionamento aluno/professor, aluno/aluno.
O que se nota é que o envolvimento do paciente com oficinas de artes, pintura, música e esportes contribuem bastante para o tratamento do transtorno, pois se observa a oportunidade do indivíduo estabelecer vínculo afetivo com os profissionais responsáveis pelas atividades, além do paciente se sentir capaz na realização das atividades.
Bordin(2.000) aponta ainda que o uso de medicações faz-se necessário somente em casos onde o paciente manifeste convulsões, agressividades ou depressão. Já na fase adulta, caso haja indícios de suicídio, autoagressão ou homicídio, a hospitalização é um dos recursos utilizados.
Outra contribuição que se tem referente ao tratamento do indivíduo diagnosticado com os transtornos acima citados, é a de Barbieri (2.004, p.05 apud GRUSPUN, 2.004) “Práticas como psicoterapia, atendimento psicopedagógico ou mudança do ambiente da criança devem ser acompanhadas por intervenções com os pais, senso a profilaxia da doença dirigida principalmente a eles”.
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Buscou-se apresentar no presente trabalho o conceito e intervenções no tratamento de crianças diagnosticadas com Transtorno de Conduta. Com base nos estudos apresentados, podemos concluir que o Transtorno de Conduta é um problema comportamental possível de ser diagnosticado e tratado, evitando seu agravamento no futuro. Muitas vezes esse transtorno pode vir acompanhado de TDAH, o que poderá acarretar em consequências negativas na vida acadêmica, social e familiar da criança.
Faz-se imprescindível um olhar criterioso por parte da equipe pedagógica que acompanha o aluno, avaliando adequadamente os comportamentos apresentados, e se necessário encaminhando-o para os profissionais competentes. Muitos dos comportamentos apresentados atualmente nas escolas públicas e privadas podem ser indícios de Transtorno de Oposição e Desafio ou até mesmo, Transtorno de Conduta.
Bibliografia
REFERÊNCIAS
BARBIERI,V.;JACQUEMIN, A.;ALVES, Z. M. M. B. Alcances e limites do psicodiagnóstico interventivo no tratamento de criança antissociais. In: Paideia. Ribeirão Preto, v. 14, n.28, 2004.
BORDIN, I. A. S.; OFFORD, D. R. Transtorno da conduta e comportamento anti-social. In: Revista Brasileira de Psiquiatria. São Paulo, v.22, n. 2, 2.000.
CID-10 – Classificação de Transtornos Mentais e do Comportamento. Descrições clínicas e Diretrizes Diagnósticas. Porto Alegre. Ed.Artes Médicas, 1993.
DSM-IV – Manual Diagnóstico e Estatístico. Porto Alegre. Ed. Artes Médicas, 1995.
GREVET, E. H. et al. Transtorno de Oposição e Desafio e Transtorno de Conduta: os desfechos no TDAH em adultos. Rio Grande do Sul: Bireme, 2007.n.56, v.1.Disponível em: ? http://www.portal.revistas.bvs.br? Acesso em 27 nov. 2009.
SILVA, A.B.B. Mentes Perigosas. O Psicopata mora ao lado. Rio de janeiro: Ed. Fontanar, 2.008.
MONDONI, Susan. Transtorno de Conduta. São Paulo, 2006. Disponível em : ? HTTP://www.psiquiatriainfantil.com.br? Acesso em : 23 nov. 2009.
MORANA, C.P; STONE, M.H.; ABDALLA FILHO, E. Transtorno de personalidade, psicopatia e serial Killer. In: Revista Brasileira de Psiquiatria. São Paulo, v.28, n.3, 2006.
PACHECO,J.; ALVARENGA P.; REPPOLD, C.; PICCININI, C.A.; HUTZ, C.S. Estabilidade do comportamento antissocial na transição da infância para a adolescência: uma perspectiva desenvolvimentista.In: Revista Psicologia: Reflexão e Crítica. Porto Alegre, v. 18, n.01, 2005.
PSICOLOGIA. Psiquiatria geral. Coordenado por: GJBallone. Disponível em:Acesso em: 19 maio 2010.
Publicado em 04/02/2011 17:13:00
Currículo(s) do(s) autor(es)
Fabiane Cristina Favarelli Navega - (clique no nome para enviar um e-mail ao autor) -
Aluna do curso de pós-graduação do curso de Psicopedagogia pela Universidade Anhanguera. Formada em Pedagogia com habilitação em Educação Especial pela UNIMEP (2.000) atua na área da educação desde janeiro de 2.001.
Fabiane Cristina Favarelli Navega
Sumário
Transtorno de conduta: uma orientação a educadores
Objetivou-se no presente trabalho informar e orientar os profissionais ligados a educação sobre as principais características, evolução, diagnóstico e tratamento do transtorno de conduta, desde a infância até a fase adulta. Pretendeu-se também esclarecer as principais diferenças entre a indisciplina e o transtorno apontado, bem como ressaltar a importância de um diagnóstico precoce e as possíveis intervenções medicamentosas, terapêuticas, familiares e escolares.
Palavras-Chave: Transtorno de conduta; caracterização da doença; diagnóstico; curso e prognóstico; tratamento.
Aimed to this present job to inform and to manage the professionals connected with the education about the main features, evolution, diagnosis and treatment of conduct disorder, since the childhood until adulthood. It was intended also to explain the main differences between the indiscipline and the conduct emphasized, as well as highlight the importance of an early diagnosis and the possible drug interventions, therapeutic, family and school.
Keywords: < conduct disorder; characterization of disease; diagnosis; course and prognosis; treatment >
INTRODUÇÃO
Com base nos relatos de educadores e familiares sobre atitudes inadequadas ou consideradas inaceitáveis para crianças e adolescentes, o artigo levantará algumas considerações importantes sobre o Transtorno de Conduta, desde a infância até a fase adulta. Todavia, serão apontadas os principais aspectos tais como: caracterização do transtorno, diagnóstico, curso e prognóstico, fatores associados ao comportamento, avaliação e tratamento, critérios avaliativos, prevalência e intervenções.
O objetivo do presente trabalho é transmitir algumas informações relevantes aos profissionais ligados à área da educação, com o intuito de informar e diferenciar a indisciplina de um Transtorno de Conduta, tendo em vista os inúmeros casos de violência física e moral que emergem hoje nas salas de aula, nas famílias e na sociedade.
O artigo busca dar subsídios aos educadores, orientando o seu trabalho educacional e visando o bem estar da criança.
Acredito que o esclarecimento de tal transtorno seja válido, pois nota-se que atualmente o número de violência, homicídios e uso de drogas aumenta avassaladoramente, sendo assim, através da informação tentar precocemente amenizar as más condutas.
1.CARACTERIZAÇÃO DO TRANSTORNO
Alguns comportamentos apresentados durante a infância podem ser observados no desenvolvimento normal de uma criança, tais como: mentir e matar aula, mas segundo Bordin (2.000, p.01), “Para diferenciar normalidade de psicopatologia, é importante verificar se esses comportamentos ocorrem esporadicamente e de modo isolado ou se constituem síndromes”.
Para que o indivíduo possa se enquadrar no diagnóstico de Transtorno de Conduta deverá ter apresentado nos últimos 12 meses comportamentos que incomodem ou perturbem o próximo, se envolver em atividades perigosas e ilegais, a maioria dos envolvidos não apresentam sofrimento ou constrangimento pelas suas atitudes, bem como não se importam em ferir ou maltratar animais e pessoas moralmente ou fisicamente.
Mondoni (2.006, p.01) ressalta também que, “Comportamentos que transgridem a lei constituem a elinqüência”. Todavia, o que se observa é que este distúrbio do comportamento é mais frequente na infância e adolescência e a primeira causa de encaminhamento ao psiquiatra infantil.
Com base em critérios diagnósticos internacionais (DSM-IV), na infância e na adolescência tais comportamentos fazem parte das categorias Transtorno Desafiador de Oposição (TDO) e Transtorno de Conduta (TC), já na fase adulta, a partir dos 18 anos, se enquadram no Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS).
2.DIAGNÓSTICO
Segundo o DSM-IV (1.995) O Transtorno de Conduta implica um padrão repetitivo e persistente de comportamentos no qual são violados os direitos dos outros e regras sociais.
Para que o diagnóstico seja fidedigno, faz-se imprescindível a presença de pelo menos, três das condutas abaixo apontada, e persistente por um período de 12 meses.
•Frequentemente persegue, atormenta, ameaça ou intimida os outros.
•Frequentemente inicia lutas corporais.
•Já usou armas que podem causar ferimentos graves.
•Foi cruel com pessoas, ferindo-as fisicamente.
•Foi cruel com animais.
•Roubou ou assaltou confrontando a vítima.
•Submeteu alguém a atividade sexual forçada.
•Iniciou incêndio com a intenção de provocar sérios danos.
•Destruiu propriedade alheia.
•Arrombou ou invadiu, casas, prédios ou carros.
•Mente ou engana para obter ganhos materiais, favores ou para fugir de obrigações.
•Furtou objetos de valor.
•Frequentemente passa a noite fora, apesar da proibição dos pais.
•Fugiu de casa pelo menos duas vezes, passando a noite fora, enquanto morava com os pais ou substitutos.
•Falta da escola sem motivo, matando aula frequentemente.
Fonte: http://www.psicologia.com.pt/instrumentos/dsm_cid.php
O DSM-IV subdivide o Transtorno de Conduta em dois subtipos: surgimento antes dos 10 anos de idade e após os 10 anos. Tais comportamentos, quando persistentes até a fase adulta (após 18 anos), se caracterizam por Transtorno de Personalidade Antissocial.
O CID-10 aponta que os transtornos de conduta são caracterizados por padrões persistentes de conduta dissocial, agressiva ou desafiante. Tal comportamento deve comportar grandes violações das expectativas sociais próprias à idade da criança; deve haver mais do que as travessuras infantis ou a rebeldia do adolescente e se trata de um padrão duradouro de comportamento (seis meses ou mais) (CID-10, 1993)
O diagnóstico se baseia na presença de condutas do seguinte tipo:
•manifestações excessivas de agressividade e de tirania;
•crueldade com relação a outras pessoas ou a animais;
•destruição dos bens de outrem;
•condutas incendiárias;
•roubos;
•mentiras repetidas;
•cabular aulas e fugir de casa;
•crises de birra e de desobediência anormalmente freqüentes e graves.
Fonte: CID-10, 1993.
A referida norma citada anteriormente, também subdivide o Transtorno de conduta em: socializados e não socializados. Transtorno de conduta não socializado é caracterizado pela presença de um comportamento dissocial ou agressivo persistente associado a uma alteração significativa e global das relações com as outras crianças.
Já os diagnosticados com o transtorno socializado apresentam comportamento dissocial ou agressivo manifestando-se em indivíduos habitualmente bem integrados com seus companheiros.
Segundo Silva (2.002 apud DSM-IV-TR, 2.008, p.207) o diagnóstico dado pelo especialista deve especificar a gravidade do transtorno em leve, moderado e grave.
Baseado nos critérios do CID-10 (1.992/1.993) os indivíduos com Transtorno de Oposição e Desafio e Transtorno de Conduta devem apresentar comportamentos pouco empáticos ou pouco preocupados com os sentimentos, desejos e bem-estar dos outros. Podem não apresentar sentimentos de culpa e remorso, que aprendem a simular para evitar punições. A autoestima é baixa e há reduzida tolerância à frustração, ocorrem acessos de raiva, irritabilidade imprudência, ocasionando um número alto de acidentes.
3.CURSO E PROGNÓSTICO
Evidências empíricas sugerem que as primeiras manifestações do comportamento antissocial podem aparecer precocemente, aproximadamente aos 18 meses, onde a criança já apresenta comportamentos como agredir os pais e destruir objetos.
Como visto anteriormente os sintomas do Transtorno de Conduta podem surgir desde a infância e persistir até a fase adulta. Na maior parte dos casos, quando o Transtorno de Conduta surge antes dos 10 anos de idade, é muito comum a presença do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). De acordo com Bordin (2.000, p.03) pode observar-se também “A presença de comportamento agressivo, déficit intelectual, convulsões e comprometimento do sistema nervoso central”.
De acordo com Bordin, o aparecimento do TDAH nos diagnóstico de Transtorno de Conduta pode chegar a 43% dos casos, envolvendo principalmente os meninos, já no sexo feminino é mais comum o aparecimento do quadro de ansiedade e depressão (33% dos casos).
Conforme Mondoni (2.006, p.05) “A prevalência do Transtorno de Conduta varia de acordo com muitos estudos, ficando entre 5 a 10%, sendo 2 a 3 vezes mais comuns em meninos”.
Pacheco et. al.(2.005, p.04) aborda que “Crianças que recebem o diagnóstico de Transtorno Desafiador de Oposição na infância, tendem a apresentar um risco aumentado para desenvolver posteriormente Transtorno de Conduta na adolescência”.
A maior parte das crianças diagnosticadas por Transtorno de Conduta ou Transtorno Desafiador de Oposição tendem a apresentar dificuldades de aprendizagem e fracasso escolar.
O que se observa é que comportamentos antissociais apresentados logo na infância, quando não tratados adequadamente, podem ser protótipos de comportamentos delinquentes para a fase adulta, discórdia conjugal, problemas de relacionamento social, uso de drogas e álcool.
Alguns fatores podem estar associados ao comportamento antissocial da criança. O que se observou em alguns estudos em clínicas psiquiátricas, foi que o ambiente familiar e social desajustado poderiam ser fatores de desencadeamento dos Transtornos.
Conforme aponta Bordin (2.000, p.04) alguns fatores seriam “Receber cuidados maternos inadequados, viver em meio à discórdia conjugal, pais agressivos e violentos, mães com problemas de saúde mental e viver em áreas urbanas”. Ainda esta autora nos afirma que há uma taxa maior de criminalidade nos pais biológicos do que nos pais adotivos, formulando a hipótese de uma predisposição biológica para o comportamento anitssocial.
De acordo com Morana (2.006, p.03) sobre o entendimento desses pacientes “É fundamental se considerar o ambiente em que vive o indivíduo e a interação com ele estabelecida”. Ressalta ainda a autora que a negligência e os maus-tratos recebidos por uma criança em que o cérebro está sendo esculpido pela experiência, induz a uma anomalia da circuitaria cerebral, podendo conduzir à agressividade, hiperatividade, distúrbio da atenção, delinquência e abuso de drogas. (Morana, 2.006)
4.AVALIAÇÃO
Segundo Barbieri (2.004, p.02) a avaliação da criança será feita a partir de “Assinalamentos e interpretações desde a primeira entrevista com o paciente e envolvidos com o mesmo, e durante a aplicação de técnicas projetivas”.
Para Morana (2.006, p.04) “A avaliação diagnóstica enfrenta polêmica, pois há uma divergência entre valorização das entrevistas livres ou aplicação de testes padronizados.” Com tudo, há profissionais que se utilizam de entrevistas e outros que se apóiam em testes psicológicos.
De qualquer maneira, independente dos procedimentos utilizados para se fazer o psicodiagnóstico, faz-se importante investigar toda a história de vida do examinado, verificando se há ou não padrão anormal de conduta, tomando como base os critérios estabelecidos pelo DSM-IV e CID-10.
Com base nos estudos e relatos de Barbieri (2.004), para se fazer o diagnóstico do transtorno, foi possível notar o uso dos seguintes instrumentos: entrevistas de anamnese, técnica de Rorschach, sessões psicanalíticas lúdicas, entrevista familiar diagnóstica e devolutiva.
5.TRATAMENTO
As pessoas diagnosticadas pelo Transtorno desafiador de Oposição, Transtorno de Conduta ou Transtorno de Personalidade necessitam de uma excessiva atenção e acompanhamento precoce, com o intuito de se amenizar os comportamentos antissociais.
Os tratamentos citados na literatura são bastante variados, podendo incluir: acompanhamento do indivíduo diagnosticado, intervenções familiares e junto a equipe escolar, orientando e treinando a família, comunidade e professores.
Os melhores resultados têm sido apontados por aqueles que têm por objetivo o tratamento de sintomas específicos, e a terapia comportamental dialética vem recebendo um reconhecimento internacional de sua eficácia em Transtorno de Personalidade. (MORANA, 2.006)
O que se observa é que nenhum tratamento obtém um resultado satisfatório quando aplicado isoladamente, isto é, faz-se necessário uma equipe multidisciplinar atuante, família, paciente, sociedade, escola e terapeuta, para que desta forma se encontre harmonia na intervenção.
No estudo de Bordin (2.000) é ressaltada a importância de se fazer o diagnóstico precocemente e quanto mais jovem o paciente, melhores os resultados obtidos nas intervenções. Neste mesmo estudo é apontada a importância de apoio aos pais, com o objetivo de se estabelecer métodos mais apropriados para educar o filho, bem como o contato do terapeuta com a escola, com o intuito de amparar a equipe pedagógica no relacionamento aluno/professor, aluno/aluno.
O que se nota é que o envolvimento do paciente com oficinas de artes, pintura, música e esportes contribuem bastante para o tratamento do transtorno, pois se observa a oportunidade do indivíduo estabelecer vínculo afetivo com os profissionais responsáveis pelas atividades, além do paciente se sentir capaz na realização das atividades.
Bordin(2.000) aponta ainda que o uso de medicações faz-se necessário somente em casos onde o paciente manifeste convulsões, agressividades ou depressão. Já na fase adulta, caso haja indícios de suicídio, autoagressão ou homicídio, a hospitalização é um dos recursos utilizados.
Outra contribuição que se tem referente ao tratamento do indivíduo diagnosticado com os transtornos acima citados, é a de Barbieri (2.004, p.05 apud GRUSPUN, 2.004) “Práticas como psicoterapia, atendimento psicopedagógico ou mudança do ambiente da criança devem ser acompanhadas por intervenções com os pais, senso a profilaxia da doença dirigida principalmente a eles”.
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Buscou-se apresentar no presente trabalho o conceito e intervenções no tratamento de crianças diagnosticadas com Transtorno de Conduta. Com base nos estudos apresentados, podemos concluir que o Transtorno de Conduta é um problema comportamental possível de ser diagnosticado e tratado, evitando seu agravamento no futuro. Muitas vezes esse transtorno pode vir acompanhado de TDAH, o que poderá acarretar em consequências negativas na vida acadêmica, social e familiar da criança.
Faz-se imprescindível um olhar criterioso por parte da equipe pedagógica que acompanha o aluno, avaliando adequadamente os comportamentos apresentados, e se necessário encaminhando-o para os profissionais competentes. Muitos dos comportamentos apresentados atualmente nas escolas públicas e privadas podem ser indícios de Transtorno de Oposição e Desafio ou até mesmo, Transtorno de Conduta.
Bibliografia
REFERÊNCIAS
BARBIERI,V.;JACQUEMIN, A.;ALVES, Z. M. M. B. Alcances e limites do psicodiagnóstico interventivo no tratamento de criança antissociais. In: Paideia. Ribeirão Preto, v. 14, n.28, 2004.
BORDIN, I. A. S.; OFFORD, D. R. Transtorno da conduta e comportamento anti-social. In: Revista Brasileira de Psiquiatria. São Paulo, v.22, n. 2, 2.000.
CID-10 – Classificação de Transtornos Mentais e do Comportamento. Descrições clínicas e Diretrizes Diagnósticas. Porto Alegre. Ed.Artes Médicas, 1993.
DSM-IV – Manual Diagnóstico e Estatístico. Porto Alegre. Ed. Artes Médicas, 1995.
GREVET, E. H. et al. Transtorno de Oposição e Desafio e Transtorno de Conduta: os desfechos no TDAH em adultos. Rio Grande do Sul: Bireme, 2007.n.56, v.1.Disponível em: ? http://www.portal.revistas.bvs.br? Acesso em 27 nov. 2009.
SILVA, A.B.B. Mentes Perigosas. O Psicopata mora ao lado. Rio de janeiro: Ed. Fontanar, 2.008.
MONDONI, Susan. Transtorno de Conduta. São Paulo, 2006. Disponível em : ? HTTP://www.psiquiatriainfantil.com.br? Acesso em : 23 nov. 2009.
MORANA, C.P; STONE, M.H.; ABDALLA FILHO, E. Transtorno de personalidade, psicopatia e serial Killer. In: Revista Brasileira de Psiquiatria. São Paulo, v.28, n.3, 2006.
PACHECO,J.; ALVARENGA P.; REPPOLD, C.; PICCININI, C.A.; HUTZ, C.S. Estabilidade do comportamento antissocial na transição da infância para a adolescência: uma perspectiva desenvolvimentista.In: Revista Psicologia: Reflexão e Crítica. Porto Alegre, v. 18, n.01, 2005.
PSICOLOGIA. Psiquiatria geral. Coordenado por: GJBallone. Disponível em:
Publicado em 04/02/2011 17:13:00
Currículo(s) do(s) autor(es)
Fabiane Cristina Favarelli Navega - (clique no nome para enviar um e-mail ao autor) -
Aluna do curso de pós-graduação do curso de Psicopedagogia pela Universidade Anhanguera. Formada em Pedagogia com habilitação em Educação Especial pela UNIMEP (2.000) atua na área da educação desde janeiro de 2.001.
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Os Equívocos sobre a psicopedagogia
OS EQUÍVOCOS SOBRE O PSICOPEDAGOGO
Laura Monte Serrat Barbosa
É preciso que os colegas que estão levantando a bandeira da oposição à Psicopedagogia lembrem que saímos da era industrial, na qual a ciência foi supervalorizada; a precisão era objetivo importante e perseguido por todas as disciplinas e práticas profissionais; os limites entre as disciplinas era crucial; a identificação de causa e efeito era entendida de forma linear, como uma grande linha de montagem, em que cada um faz seu papel para que o produto final seja a soma dos esforços
Como você vê a evolução da psicopedagogia ao longo destes 20 anos de prática?
A Psicopedagogia teve uma evolução invejável, nestes 20 anos, pois partiu de uma preocupação com um aspecto específico da questão da aprendizagem (a dificuldade de aprendizagem) e hoje estuda o ser cognoscente como um ser inteiro, mergulhado em um contexto, com possibilidades de aprendizagem em vários âmbitos da sociedade.
Tem se caracterizado como uma área que evoluiu rapidamente por ser uma das áreas do conhecimento necessárias na era da informação e da comunicação. Como comunicar se não houver o que comunicar. Aprendizagem nos dias de hoje é fundamental. A área de estudo que aprofundou os conhecimentos e experimentou relacioná-lo com a prática, nestes últimos 20 anos, foi a Psicopedagogia, e por isso está sendo reconhecida e valorizada.
Muitas pessoas com espírito investigativo e empreendedor tomaram parte deste movimento, chamado Psicopedagogia, e graças a elas esta área encontra-se tão fortalecida.
A Psicopedagogia está muito presente nas atuais propostas educacionais nacionais, em forma de assessoria, de bibliografia e, principalmente, em forma de idéias, as quais já vêm sendo colocadas em prática em muitos pontos do país.
A Psicopedagogia se preocupou, nestes anos todos, com o "aprender a aprender"; "aprender a fazer" de forma autônoma; com o "aprender a ser" humano; o "aprender a compartilhar" o mundo, a natureza, as idéias, as intenções e as ações. A visão psicopedagógica está presente em vários municípios do interior e em quase todas as capitais brasileiras e está fazendo parte do esquema conceitual referencial operativo (ECRO) de um grande número de educadores.
É importante que as pessoas saibam que a Psicopedagogia chegou aonde chegou por mérito dos psicopedagogos, e não por causa de alguma lei criada 40 anos atrás. O que se deseja é melhorar as condições de aprendizagem neste país e não apossar-se de conhecimentos, de práticas, de mercado de trabalho ou mesmo do espaço de outros profissionais que, na verdade, não são outros mas sim nós pedagogos, nós psicólogos, nós fonoaudiólogos que, sedentos de um conhecimento que superasse aquele de nossa graduação, buscamos uma área de estudo que nos proporcionou a oportunidade de nos especializarmos em aprendizagem e de ir bem além do que poderíamos se ficássemos contentes com o conhecimento que possuíamos até então.
A Psicopedagogia cresceu tanto que, apesar de ter somente 20 anos, aqui no Brasil, está tendo o poder de assustar psicólogos, pedagogos e fonoaudiólogos que, por algum motivo, desejaram ficar à parte desse movimento e agora se percebem ameaçados pela atualidade dos estudos, pela profundidade do trabalho, pela qualidade das pesquisas e pelo desejo destes profissionais de regulamentarem esta atividade, para que não se caracterize como "terra de ninguém", e pessoas menos preparadas possam se utilizar de uma fachada em detrimento do desenvolvimento de pessoas.
Em seu livro: "Projeto de Trabalho - Uma forma de atuação psicopedagógica", que está em sua 2ª edição, você explicita bem a complexidade da área psicopedagógica, e o engano em se acreditar que a psicopedagogia é a junção das áreas pedagogia + psicologia. Nos fale um pouco sobre esta confusão.
Temos ouvido, no decorrer de nosso caminho, muitas pessoas acreditando que a Psicopedagogia é a soma dos conhecimentos da Psicologia e da Pedagogia e outros acreditando, por causa do prefixo "psi", que é a Psicologia aplicada à Pedagogia e, portanto, campo de atuação do psicólogo.
Isto acontece mesmo com profissionais que têm acompanhado nossa caminhada e contribuído conosco em nossos estudos e encontros científicos. Agora em nosso último Congresso (em São Paulo, em julho deste ano), ouvimos mais de um profissional da área de Psicologia e de Neurologia afirmando, diante de um público de mais de 1400 pessoas, esta adição de duas áreas.
Sabemos que ambas participam da síntese que é a Psicopedagogia; porém, sabemos também que mesmo sendo muito amplas não são suficientes para compreender toda a extensão e a complexidade do processo de aprender.
Provavelmente, o nome Psicopedagogia contribui para isto e, atualmente, a oposição de psicólogos, pedagogos e também dos fonoaudiólogos acaba reforçando a idéia de que a nossa área de estudo resume-se a uma simples soma, e que a Psicopedagogia está se apropriando de algo que não é seu, que pertence a outros profissionais.
No entanto, é preciso pensar a questão de forma contextualizada e não de forma simplista, acreditando que uma estratégia política de somar esforços das cúpulas responsáveis pelas referidas áreas seria suficiente para fazer retroagir a história. Muitos profissionais já conhecem o trabalho do profissional da Psicopedagogia; muitas pessoas já se beneficiaram do trabalho realizado pela Psicopedagogia; muitos professores já puderam experimentar as conseqüências de um trabalho psicopedagógico na sua formação continuada, na aprendizagem de seus alunos e na assessoria prestada a sua escola. Como negar a eficiência de um trabalho que vem mostrando resultados eficientes? Como devolver para o centro da Terra um conhecimento que já foi construído? Como engolir a demanda que continua existindo?
O que acredito, de coração, é que não importa se o nome é Psicopedagogia, Psicologia Educacional, Pedagogia Terapêutica, Fonoaudiologia Educacional, e nem se quem deve fazer a intervenção tenha uma profissão regulamentada; o que realmente importa é que esta intervenção seja realizada tendo como foco a completude de cada pessoa, a seriedade e o conhecimento do profissional envolvido.
Penso ser muita onipotência dos movimentos reacionários acreditar que é possível reverter a história depois do início de seu curso.
É preciso que os colegas que estão levantando a bandeira da oposição à Psicopedagogia lembrem que saímos da era industrial, na qual a ciência foi supervalorizada; a precisão era objetivo importante e perseguido por todas as disciplinas e práticas profissionais; os limites entre as disciplinas era crucial; a identificação de causa e efeito era entendida de forma linear, como uma grande linha de montagem, em que cada um faz seu papel para que o produto final seja a soma dos esforços.
Na verdade, a ciência foi analisando tanto o mundo, estudando cada aspecto que acabou por fragmentar o conhecimento, fazendo parecer que a super especialização é a única saída para a existência.
Já neste século que ora finda, aconteceram importantes integrações disciplinares, visando entender a complexidade do mundo. Os limites começaram a ficar mais frouxos, e surgiram as disciplinas que fazem interseção, tais como: a Engenharia Mecânica, o Desenho Técnico, a Educação Física, a Educação Informática, a Arte Educação e outras.
Estes indícios foram apontando para visões mais amplas que pudessem compreender o mundo em movimento e a era da comunicação e da informação na qual adentramos.
A Psicopedagogia surge neste contexto em que a Visão Sistêmica, os Estudos Holísticos, Ecológicos, a Epistemologia Convergente, a complexidade tentam compreender o homem em interação, num interjogo de influências entre ele e o meio em que vive.
A Psicopedagogia, no entanto, não é uma soma que permite com que o profissional matricule-se num curso para aprender apenas a parte que lhe falta. Ela é uma disciplina com especificidades tais que precisa ser aprendida inteira e não através de pedaços e retalhos. É o resultado de aproximações recíprocas de esquemas teóricos e práticos de várias áreas do conhecimento.
Em sua opinião, por que tanta demora na regulamentação da profissão?
Não acreditamos que um sintoma possa ser causado por apenas um fenômeno. A demora da regulamentação tem a ver também com as mudanças de paradigmas que a sociedade enfrenta.
Estamos saindo de uma época de rigidez e de delimitações estanques para uma era em que ainda não temos claro os limites. Os avanços tecnológicos nos mostram situações que colocam em cheque as regras existentes, a ética, os interesses econômicos e políticos.
O que pensar sobre as clonagens? Como criar uma ética para a Internet? Como regulamentar profissões num mundo extremamente ágil, no qual as profissões terão uma vida curta? Como pensar em formações longas diante de um mercado de trabalho mutante?
A regulamentação da profissão Psicopedagogia, considerada como resultado de uma especialização no nível de pós-graduação, é uma solicitação revolucionária e inédita, pós-moderna, que entende que as necessidades do homem mudam e por isto as demandas vão sendo diferentes, num espaço mais curto de tempo, exigindo decisões mais ágeis. No entanto, as leis já existentes não conseguem acompanhar esta agilidade.
Além disto, a demora se dá devido à resistência prevista nos processos de transformação. Para que o processo dialético possa se dar e resultar em uma síntese necessita de líderes de mudança e líderes de resistência.
Sem a oposição da Psicologia e da Pedagogia, por exemplo, a Psicopedagogia não poderá legitimar-se como uma profissão diferenciada.
Muitas vezes temos pressa; porém, quando estamos vivendo a história temos de admitir que o processo histórico demora mais tempo do que gostaríamos.
Sabemos que o livro "Projeto de Trabalho - Uma forma de atuação psicopedagógica", tem sido utilizado em clínicas e escolas com muito sucesso. Qual é o ponto forte do livro?
Fico feliz em saber que o livro foi bem recebido.
Acredito, pelos retornos que recebi dos leitores, que o ponto forte do livro está ligado ao fato de integrar a teoria à prática e a prática à teoria, usando uma linguagem simples e séria.
Creio que consegui sintetizar neste livro a paixão que possuo por aquilo que faço e a importância que dou à aprendizagem como um movimento que se dá dentro de quem aprende, resultado de um significado.
O que vem a ser "Projeto de Trabalho"?
Apresentamos o projeto de trabalho como uma forma de ação psicopedagógica que lida com alguns fenômenos cognitivos, tais como a antecipação, a previsão e o planejamento, seguido de uma atividade que precisa concretizar o que foi antecipado.
É uma situação na qual o aprendiz traça uma meta e compromete-se como autor, passando por vários momentos desta autoria: o planejamento, a execução, as avaliações contínuas, as conclusões e a avaliação final, com possibilidades de reelaboração do produto realizado.
É uma situação de investigação e de pesquisa que possibilita o desenvolvimento de competências gerais e, conforme o projeto de trabalho, o desenvolvimento de competências específicas.
As competências gerais estão atreladas às habilidades metacognitivas, tais como: observação, planejamento, atenção, memória e avaliação, enquanto que as específicas estão ligadas ao tema do projeto e aos procedimentos adotados.
Qual a importância da Metacognição?
A metacognição mobiliza recursos cognitivos que são responsáveis pelo movimento geral de aprender. O aprender a aprender só é possível na medida em que desenvolvemos habilidades metacognitivas. Quanto mais conscientes do nosso funcionamento para aprender mais aprendizagens acontecerão.
Qual a importância da leitura e escrita no processo de aprendizagem?
A aprendizagem pode se dar através das mais variadas linguagens. A linguagem escrita tem o poder de registrar o conhecimento, eternizá-lo. Esta função era única há alguns anos atrás; porém, a linguagem visual também tem esta função. O que diferencia a linguagem escrita das outras formas de linguagem é o fato dela possibilitar a reflexão dentro de um tempo possível para quem está lendo ou escrevendo. Neste sentido, a leitura e escrita são ferramentas importantes da aprendizagem, da comunicação e da história.
Ler, antes de tudo, é adivinhar, como afirma Jean Foucambert. Isto permite o exercício de levantar hipóteses, a verificação posterior, os ajustes e a aprendizagem; o escrever exige a antecipação do pensamento, a organização de idéias, o traçar de metas, a realização, a avaliação e a reelaboração.
Para os aprendizes da era da informação e da comunicação, a leitura e a escrita se constituem em instrumentos de estudo, de trabalho e de troca. Exige compreensão e rapidez; marcas do mundo pós-moderno.
Laura Monte Serrat Barbosa - graduação em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1972) e mestrado em Educação pela Universidade Federal do Paraná (1993). Tem formação em Psicopedagogia (1993) e Teoria e Técnica de Grupos Operativos (1994) pelo Centro de Estudos Psicopedagógicos de Curitiba. Atualmente é professora convidada da Universidade Paranaense, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, da Universidade Católica de Goiás, da Universidade Católica do Salvador, da Faculdades Integrado de Campo Mourão, da Faculdade de Artes do Paraná. É sócia da Síntese - Centro de Estudos, Aperfeiçoamento e Desenvolvimento da Aprendizagem. É associada titular e conselheira da Associação Brasileira de Psicopedagogia. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Psicopedagogia, atuando principalmente nos seguintes temas: projeto de aprender, atuação psicopedagógica, dificuldade de aprendizagem, avaliação psicopedagógica institucional, instituição escolar, inclusão, relação professor/aluno, operatividade na aprendizagem e desenvolvimento simbólico no processo de aprender. É autora de livros e artigos na área de Psicopedagogia e Educação.
Laura Monte Serrat Barbosa
É preciso que os colegas que estão levantando a bandeira da oposição à Psicopedagogia lembrem que saímos da era industrial, na qual a ciência foi supervalorizada; a precisão era objetivo importante e perseguido por todas as disciplinas e práticas profissionais; os limites entre as disciplinas era crucial; a identificação de causa e efeito era entendida de forma linear, como uma grande linha de montagem, em que cada um faz seu papel para que o produto final seja a soma dos esforços
Como você vê a evolução da psicopedagogia ao longo destes 20 anos de prática?
A Psicopedagogia teve uma evolução invejável, nestes 20 anos, pois partiu de uma preocupação com um aspecto específico da questão da aprendizagem (a dificuldade de aprendizagem) e hoje estuda o ser cognoscente como um ser inteiro, mergulhado em um contexto, com possibilidades de aprendizagem em vários âmbitos da sociedade.
Tem se caracterizado como uma área que evoluiu rapidamente por ser uma das áreas do conhecimento necessárias na era da informação e da comunicação. Como comunicar se não houver o que comunicar. Aprendizagem nos dias de hoje é fundamental. A área de estudo que aprofundou os conhecimentos e experimentou relacioná-lo com a prática, nestes últimos 20 anos, foi a Psicopedagogia, e por isso está sendo reconhecida e valorizada.
Muitas pessoas com espírito investigativo e empreendedor tomaram parte deste movimento, chamado Psicopedagogia, e graças a elas esta área encontra-se tão fortalecida.
A Psicopedagogia está muito presente nas atuais propostas educacionais nacionais, em forma de assessoria, de bibliografia e, principalmente, em forma de idéias, as quais já vêm sendo colocadas em prática em muitos pontos do país.
A Psicopedagogia se preocupou, nestes anos todos, com o "aprender a aprender"; "aprender a fazer" de forma autônoma; com o "aprender a ser" humano; o "aprender a compartilhar" o mundo, a natureza, as idéias, as intenções e as ações. A visão psicopedagógica está presente em vários municípios do interior e em quase todas as capitais brasileiras e está fazendo parte do esquema conceitual referencial operativo (ECRO) de um grande número de educadores.
É importante que as pessoas saibam que a Psicopedagogia chegou aonde chegou por mérito dos psicopedagogos, e não por causa de alguma lei criada 40 anos atrás. O que se deseja é melhorar as condições de aprendizagem neste país e não apossar-se de conhecimentos, de práticas, de mercado de trabalho ou mesmo do espaço de outros profissionais que, na verdade, não são outros mas sim nós pedagogos, nós psicólogos, nós fonoaudiólogos que, sedentos de um conhecimento que superasse aquele de nossa graduação, buscamos uma área de estudo que nos proporcionou a oportunidade de nos especializarmos em aprendizagem e de ir bem além do que poderíamos se ficássemos contentes com o conhecimento que possuíamos até então.
A Psicopedagogia cresceu tanto que, apesar de ter somente 20 anos, aqui no Brasil, está tendo o poder de assustar psicólogos, pedagogos e fonoaudiólogos que, por algum motivo, desejaram ficar à parte desse movimento e agora se percebem ameaçados pela atualidade dos estudos, pela profundidade do trabalho, pela qualidade das pesquisas e pelo desejo destes profissionais de regulamentarem esta atividade, para que não se caracterize como "terra de ninguém", e pessoas menos preparadas possam se utilizar de uma fachada em detrimento do desenvolvimento de pessoas.
Em seu livro: "Projeto de Trabalho - Uma forma de atuação psicopedagógica", que está em sua 2ª edição, você explicita bem a complexidade da área psicopedagógica, e o engano em se acreditar que a psicopedagogia é a junção das áreas pedagogia + psicologia. Nos fale um pouco sobre esta confusão.
Temos ouvido, no decorrer de nosso caminho, muitas pessoas acreditando que a Psicopedagogia é a soma dos conhecimentos da Psicologia e da Pedagogia e outros acreditando, por causa do prefixo "psi", que é a Psicologia aplicada à Pedagogia e, portanto, campo de atuação do psicólogo.
Isto acontece mesmo com profissionais que têm acompanhado nossa caminhada e contribuído conosco em nossos estudos e encontros científicos. Agora em nosso último Congresso (em São Paulo, em julho deste ano), ouvimos mais de um profissional da área de Psicologia e de Neurologia afirmando, diante de um público de mais de 1400 pessoas, esta adição de duas áreas.
Sabemos que ambas participam da síntese que é a Psicopedagogia; porém, sabemos também que mesmo sendo muito amplas não são suficientes para compreender toda a extensão e a complexidade do processo de aprender.
Provavelmente, o nome Psicopedagogia contribui para isto e, atualmente, a oposição de psicólogos, pedagogos e também dos fonoaudiólogos acaba reforçando a idéia de que a nossa área de estudo resume-se a uma simples soma, e que a Psicopedagogia está se apropriando de algo que não é seu, que pertence a outros profissionais.
No entanto, é preciso pensar a questão de forma contextualizada e não de forma simplista, acreditando que uma estratégia política de somar esforços das cúpulas responsáveis pelas referidas áreas seria suficiente para fazer retroagir a história. Muitos profissionais já conhecem o trabalho do profissional da Psicopedagogia; muitas pessoas já se beneficiaram do trabalho realizado pela Psicopedagogia; muitos professores já puderam experimentar as conseqüências de um trabalho psicopedagógico na sua formação continuada, na aprendizagem de seus alunos e na assessoria prestada a sua escola. Como negar a eficiência de um trabalho que vem mostrando resultados eficientes? Como devolver para o centro da Terra um conhecimento que já foi construído? Como engolir a demanda que continua existindo?
O que acredito, de coração, é que não importa se o nome é Psicopedagogia, Psicologia Educacional, Pedagogia Terapêutica, Fonoaudiologia Educacional, e nem se quem deve fazer a intervenção tenha uma profissão regulamentada; o que realmente importa é que esta intervenção seja realizada tendo como foco a completude de cada pessoa, a seriedade e o conhecimento do profissional envolvido.
Penso ser muita onipotência dos movimentos reacionários acreditar que é possível reverter a história depois do início de seu curso.
É preciso que os colegas que estão levantando a bandeira da oposição à Psicopedagogia lembrem que saímos da era industrial, na qual a ciência foi supervalorizada; a precisão era objetivo importante e perseguido por todas as disciplinas e práticas profissionais; os limites entre as disciplinas era crucial; a identificação de causa e efeito era entendida de forma linear, como uma grande linha de montagem, em que cada um faz seu papel para que o produto final seja a soma dos esforços.
Na verdade, a ciência foi analisando tanto o mundo, estudando cada aspecto que acabou por fragmentar o conhecimento, fazendo parecer que a super especialização é a única saída para a existência.
Já neste século que ora finda, aconteceram importantes integrações disciplinares, visando entender a complexidade do mundo. Os limites começaram a ficar mais frouxos, e surgiram as disciplinas que fazem interseção, tais como: a Engenharia Mecânica, o Desenho Técnico, a Educação Física, a Educação Informática, a Arte Educação e outras.
Estes indícios foram apontando para visões mais amplas que pudessem compreender o mundo em movimento e a era da comunicação e da informação na qual adentramos.
A Psicopedagogia surge neste contexto em que a Visão Sistêmica, os Estudos Holísticos, Ecológicos, a Epistemologia Convergente, a complexidade tentam compreender o homem em interação, num interjogo de influências entre ele e o meio em que vive.
A Psicopedagogia, no entanto, não é uma soma que permite com que o profissional matricule-se num curso para aprender apenas a parte que lhe falta. Ela é uma disciplina com especificidades tais que precisa ser aprendida inteira e não através de pedaços e retalhos. É o resultado de aproximações recíprocas de esquemas teóricos e práticos de várias áreas do conhecimento.
Em sua opinião, por que tanta demora na regulamentação da profissão?
Não acreditamos que um sintoma possa ser causado por apenas um fenômeno. A demora da regulamentação tem a ver também com as mudanças de paradigmas que a sociedade enfrenta.
Estamos saindo de uma época de rigidez e de delimitações estanques para uma era em que ainda não temos claro os limites. Os avanços tecnológicos nos mostram situações que colocam em cheque as regras existentes, a ética, os interesses econômicos e políticos.
O que pensar sobre as clonagens? Como criar uma ética para a Internet? Como regulamentar profissões num mundo extremamente ágil, no qual as profissões terão uma vida curta? Como pensar em formações longas diante de um mercado de trabalho mutante?
A regulamentação da profissão Psicopedagogia, considerada como resultado de uma especialização no nível de pós-graduação, é uma solicitação revolucionária e inédita, pós-moderna, que entende que as necessidades do homem mudam e por isto as demandas vão sendo diferentes, num espaço mais curto de tempo, exigindo decisões mais ágeis. No entanto, as leis já existentes não conseguem acompanhar esta agilidade.
Além disto, a demora se dá devido à resistência prevista nos processos de transformação. Para que o processo dialético possa se dar e resultar em uma síntese necessita de líderes de mudança e líderes de resistência.
Sem a oposição da Psicologia e da Pedagogia, por exemplo, a Psicopedagogia não poderá legitimar-se como uma profissão diferenciada.
Muitas vezes temos pressa; porém, quando estamos vivendo a história temos de admitir que o processo histórico demora mais tempo do que gostaríamos.
Sabemos que o livro "Projeto de Trabalho - Uma forma de atuação psicopedagógica", tem sido utilizado em clínicas e escolas com muito sucesso. Qual é o ponto forte do livro?
Fico feliz em saber que o livro foi bem recebido.
Acredito, pelos retornos que recebi dos leitores, que o ponto forte do livro está ligado ao fato de integrar a teoria à prática e a prática à teoria, usando uma linguagem simples e séria.
Creio que consegui sintetizar neste livro a paixão que possuo por aquilo que faço e a importância que dou à aprendizagem como um movimento que se dá dentro de quem aprende, resultado de um significado.
O que vem a ser "Projeto de Trabalho"?
Apresentamos o projeto de trabalho como uma forma de ação psicopedagógica que lida com alguns fenômenos cognitivos, tais como a antecipação, a previsão e o planejamento, seguido de uma atividade que precisa concretizar o que foi antecipado.
É uma situação na qual o aprendiz traça uma meta e compromete-se como autor, passando por vários momentos desta autoria: o planejamento, a execução, as avaliações contínuas, as conclusões e a avaliação final, com possibilidades de reelaboração do produto realizado.
É uma situação de investigação e de pesquisa que possibilita o desenvolvimento de competências gerais e, conforme o projeto de trabalho, o desenvolvimento de competências específicas.
As competências gerais estão atreladas às habilidades metacognitivas, tais como: observação, planejamento, atenção, memória e avaliação, enquanto que as específicas estão ligadas ao tema do projeto e aos procedimentos adotados.
Qual a importância da Metacognição?
A metacognição mobiliza recursos cognitivos que são responsáveis pelo movimento geral de aprender. O aprender a aprender só é possível na medida em que desenvolvemos habilidades metacognitivas. Quanto mais conscientes do nosso funcionamento para aprender mais aprendizagens acontecerão.
Qual a importância da leitura e escrita no processo de aprendizagem?
A aprendizagem pode se dar através das mais variadas linguagens. A linguagem escrita tem o poder de registrar o conhecimento, eternizá-lo. Esta função era única há alguns anos atrás; porém, a linguagem visual também tem esta função. O que diferencia a linguagem escrita das outras formas de linguagem é o fato dela possibilitar a reflexão dentro de um tempo possível para quem está lendo ou escrevendo. Neste sentido, a leitura e escrita são ferramentas importantes da aprendizagem, da comunicação e da história.
Ler, antes de tudo, é adivinhar, como afirma Jean Foucambert. Isto permite o exercício de levantar hipóteses, a verificação posterior, os ajustes e a aprendizagem; o escrever exige a antecipação do pensamento, a organização de idéias, o traçar de metas, a realização, a avaliação e a reelaboração.
Para os aprendizes da era da informação e da comunicação, a leitura e a escrita se constituem em instrumentos de estudo, de trabalho e de troca. Exige compreensão e rapidez; marcas do mundo pós-moderno.
Laura Monte Serrat Barbosa - graduação em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1972) e mestrado em Educação pela Universidade Federal do Paraná (1993). Tem formação em Psicopedagogia (1993) e Teoria e Técnica de Grupos Operativos (1994) pelo Centro de Estudos Psicopedagógicos de Curitiba. Atualmente é professora convidada da Universidade Paranaense, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, da Universidade Católica de Goiás, da Universidade Católica do Salvador, da Faculdades Integrado de Campo Mourão, da Faculdade de Artes do Paraná. É sócia da Síntese - Centro de Estudos, Aperfeiçoamento e Desenvolvimento da Aprendizagem. É associada titular e conselheira da Associação Brasileira de Psicopedagogia. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Psicopedagogia, atuando principalmente nos seguintes temas: projeto de aprender, atuação psicopedagógica, dificuldade de aprendizagem, avaliação psicopedagógica institucional, instituição escolar, inclusão, relação professor/aluno, operatividade na aprendizagem e desenvolvimento simbólico no processo de aprender. É autora de livros e artigos na área de Psicopedagogia e Educação.
domingo, 9 de janeiro de 2011
Brincadeira e Psicopedagogia
TIPOS DE BRINCADEIRAS E COMO AJUDAR A CRIANÇA BRINCAR
Angela Cristina Munhoz Maluf
(capítulo do livro: brincar prazer e aprendizado -vozes, 2003)
As crianças precisam atravessar diversos estágios no aprendizado de brincar em conjunto, antes de serem capazes de aproveitar as brincadeiras de grupo. Mesmo depois que ela ganhou confiança em brincar com outras crianças ela gostará, às vezes, de voltar a brincar sozinha ou apenas na presença de amigos, sem colaboração de alguma parte.
Podemos identificar diferentes tipos de brincadeiras sob o ponto de vista da participação social, cada um deles implicando num maior envolvimento entre as crianças e uma maior capacidade de se relacionar e se comunicar com os outros.
Brincadeiras solitárias
Brincar pode prender totalmente a atenção da criança. Há muito que explorar no mundo: forma, textura (áspero, liso, escorregadio) consistência (duro, macio) cor, gosto. Tudo deve ser explorado, sentido, cheirado, experimentado. No início do brincar, significa isso, e a presença de outra criança não oferece nenhum interesse. Absorvido nas próprias atividades, separado de outras crianças, brinca com coisas diferentes. Freqüentemente silenciosamente, às vezes fala consigo mesmo.
Brincadeiras em paralelo... Brincar na presença do outro
Antes de mostrar interesse nas brincadeiras de outras crianças, a criança que está brincando sozinha vai querer passar boa parte do tempo brincando ao lado de seus novos amiguinhos, sem fazer esforço para estabelecer contato. Contentar-se-á em brincar ao lado de outras crianças, “em paralelo” e se absorverá na sua própria atividade. No máximo defenderá seus brinquedos. A fala não é geralmente dirigida a ninguém em particular. Até é possível que as crianças brinquem em silêncio.
Observar brincadeiras
Uma modificação muito grande acontece quando a criança passa a mostrar interesse nas atividades de outras crianças. No início, tal interesse parecerá bastante passivo, e bom espaço de tempo será gasto, simplesmente, na observação das brincadeiras. Pode-se notar, porém, que esse comportamento será bem diferente de uma olhada sem compromisso, pois a criança estará obviamente envolvida, muito absorvida em sua observação. Não há conversas entre eles.
Juntar se à brincadeira... Brincar com os outros do próprio grupo.
Os primeiros movimentos em direção a juntar-se às brincadeiras de um grupo podem tanto se tranqüilos quanto tempestuosos; isto depende do grupo em questão e da criança que pretende juntar-se. Seja como for, os relacionamentos no interior do grupo tendem a se formar rapidamente, talvez cessar com a mesma rapidez e, freqüentemente, se refazer minutos depois.
Existem dois tipos característicos de brincadeiras nessa fase:
O primeiro envolve fazer o que todos estão fazendo, apenas para não ser diferente, ou talvez como um meio de tornar-se um membro do grupo. É o que pode acontecer, por exemplo, quando um pequeno grupo de crianças está correndo juntas, gritando qualquer coisa.
O segundo surge quando membros do grupo estão engajados numa mesma atividade, como, por exemplo, desenhando ou montando um quebra-cabeça em volta de uma mesa, tendo, porém, como principal interesse conversar entre si.
O assunto da conversa pode afastar-se completamente da atividade que esteja sendo desenvolvida e incluir a troca de informações sobre os pais, os acontecimentos especiais como aniversários e passeios. A atividade em si pode ser mencionada na conversa, mas outra vez ocorrerá em uma situação mais ampla, relacionada com o que as crianças gostam ou não gostam, ou sobre o que cada uma está fazendo.
Brincadeiras Cooperativas
Em algum momento, o interesse do grupo se desvia da troca de idéias para o jogo no qual está envolvido. Na brincadeira cooperativa, é muito importante pertencer ao grupo. A criança tem um lugar definido, bastante diferente daquele decorrente da atividade individual que caracteriza as brincadeiras solitárias ou em paralelo e, diferente até, da simples socialização peculiar ao processo de se juntar a um grupo. (Cooperação simples).Brincadeiras cooperativas podem constituir, simplesmente, a atividade conjunta de montar objetos com peças de encaixe, ou fazer castelos de areia. A criança toma parte em atividades compartilhadas, fazendo as mesmas coisas, divide brinquedos, espera a sua vez, trabalha com os outros. A conversa é principalmente em torno da própria atividade.
Cooperação Complexa
Nesse tipo de brincadeira as crianças assumem papéis, esperam a vez, e toda a atividade depende mais do desempenho conjunto do grupo.
A criança brinca de faz-de-conta, assume um papel e o representa. Participa também de jogos com regras complexas. Certas brincadeiras, como imitar papai e mamãe, por exemplo, podem durar vários dias ou semanas, com graus variáveis de elaboração e com interrupções causadas por outros interesses. A conversa gira principalmente em torno dos papéis representados.
À medida que cresce, a criança vai incluindo mais tipos de brincadeiras em suas atividades. Assim, aos dois anos ela não é capaz de brincar cooperativamente, mas aos quatro já consegue. Quando mais crescida ela, ocasionalmente, brinca sozinha ou em paralelo.
As brincadeiras sociais vão se desenvolvendo à proporção que a criança descobre como se comunicar com as outras, usando a palavra. De um modo geral somente aos dois anos, ela começa a se interessar em observar outras crianças brincando, e até tentar brincar junto. Mas sempre estas crianças são suas rivais, e quando encontra problemas, procura a mãe. Aos três anos ela começa a brincar mais com outras crianças, fica feliz em ser aceita em um grupo.A partir dos quatro anos participa de jogos de faz-de-conta, brinca de forma cooperativa simples, em paralelo, solitária. Nessa idade a criança gosta de todos os tipos de atividade.
Observando as brincadeiras das crianças, vamos notar o desenvolvimento e as mudanças em seus interesses e nos padrões de seu relacionamento social. Uma tal compreensão tem vantagem adicional de ajudar bastante na vida com uma criança pequena. Por exemplo, sabemos que, uma festa de aniversário com muitas crianças de dois anos de idade não será, jamais, um sucesso. Já aos três anos enquanto algumas crianças estão prontas para participar de brincadeiras de grupo, outras ainda se encontram no estágio solitário ou em paralelo.
Quando as crianças estão doentes ou sentindo-se inseguras, suas brincadeiras regridem a fases anteriores e elas passam a brincar da forma como o faziam há seis meses ou um ano. Isto é de se esperar e devemos tomar providências para satisfazer as necessidades da criança.
A maior parte das crianças que brinca sozinha, leva mais tempo para atravessar diversos estágios de aprender a brincar em grupo. Nunca devemos forçar uma criança a participar de brincadeiras em grupo se ela não quiser; é perfeitamente possível que ela não saiba como fazer isto, por ainda não estar preparada.
Como podemos ajudar a criança brincar
À medida que a criança cresce ela vai aprendendo várias brincadeiras, começa a gostar de brincar com outras crianças, e não perde a necessidade e nem o interesse como fazia nos estágios anteriores.
A melhor maneira de a criança aprender a brincar é respeitarmos seu próprio ritmo, ajudá-la e encorajá-la, se necessário. Se a criança possui oportunidade de brincar com outras crianças da mesma idade, a maioria delas aprende; antes do cinco anos, saberá dividir, compartilhar e conviver bem em grupos. Devemos proporcionar à criança muitas oportunidades de atravessar os diversos estágios de aprendizado. Além disso, é importante se ter idéia do que fazer durante as atividades das crianças, para tornar as coisas mais fáceis para todas elas.
Os adultos podem, dessa maneira, cumprir várias funções:
•Dar apoio;
•Escolher o momento certo para ajudar a criança a se retirar da brincadeira, quando sentir que ela está insegura.
•Assegurar sempre que a criança esteja pronta para novas experiências, deixando que ela se manifeste.
•Dar idéias: sugerir novas atividades, e estar sempre preparado a ter idéias rejeitadas, quando as crianças ficarem determinadas e seguirem outro rumo.
•Estimular conversas: às vezes a conversa decorre naturalmente da brincadeira, desviando a atenção da criança do aqui e agora.
•Dar conselhos: julgar cuidadosamente quando a criança será capaz de aprender com a experiência, ou se é melhor intervir.
•Atuar como juiz: avaliar situações intervir, para resolver atritos ou evitá-los.
•Tomar parte na brincadeira: aceitar qualquer papel que lhe seja atribuído.
•Ajudar uma criança em dificuldades quando alguma tarefa está além das suas capacidades.
Nunca devemos esquecer que brincar é altamente importante na vida da criança, primeiro por ser uma atividade na qual ela já se interessa naturalmente e, segundo, porque desenvolve suas percepções, sua inteligência, suas tendências à experimentação, seus instintos sociais.
Angela Cristina Munhoz Maluf
(capítulo do livro: brincar prazer e aprendizado -vozes, 2003)
As crianças precisam atravessar diversos estágios no aprendizado de brincar em conjunto, antes de serem capazes de aproveitar as brincadeiras de grupo. Mesmo depois que ela ganhou confiança em brincar com outras crianças ela gostará, às vezes, de voltar a brincar sozinha ou apenas na presença de amigos, sem colaboração de alguma parte.
Podemos identificar diferentes tipos de brincadeiras sob o ponto de vista da participação social, cada um deles implicando num maior envolvimento entre as crianças e uma maior capacidade de se relacionar e se comunicar com os outros.
Brincadeiras solitárias
Brincar pode prender totalmente a atenção da criança. Há muito que explorar no mundo: forma, textura (áspero, liso, escorregadio) consistência (duro, macio) cor, gosto. Tudo deve ser explorado, sentido, cheirado, experimentado. No início do brincar, significa isso, e a presença de outra criança não oferece nenhum interesse. Absorvido nas próprias atividades, separado de outras crianças, brinca com coisas diferentes. Freqüentemente silenciosamente, às vezes fala consigo mesmo.
Brincadeiras em paralelo... Brincar na presença do outro
Antes de mostrar interesse nas brincadeiras de outras crianças, a criança que está brincando sozinha vai querer passar boa parte do tempo brincando ao lado de seus novos amiguinhos, sem fazer esforço para estabelecer contato. Contentar-se-á em brincar ao lado de outras crianças, “em paralelo” e se absorverá na sua própria atividade. No máximo defenderá seus brinquedos. A fala não é geralmente dirigida a ninguém em particular. Até é possível que as crianças brinquem em silêncio.
Observar brincadeiras
Uma modificação muito grande acontece quando a criança passa a mostrar interesse nas atividades de outras crianças. No início, tal interesse parecerá bastante passivo, e bom espaço de tempo será gasto, simplesmente, na observação das brincadeiras. Pode-se notar, porém, que esse comportamento será bem diferente de uma olhada sem compromisso, pois a criança estará obviamente envolvida, muito absorvida em sua observação. Não há conversas entre eles.
Juntar se à brincadeira... Brincar com os outros do próprio grupo.
Os primeiros movimentos em direção a juntar-se às brincadeiras de um grupo podem tanto se tranqüilos quanto tempestuosos; isto depende do grupo em questão e da criança que pretende juntar-se. Seja como for, os relacionamentos no interior do grupo tendem a se formar rapidamente, talvez cessar com a mesma rapidez e, freqüentemente, se refazer minutos depois.
Existem dois tipos característicos de brincadeiras nessa fase:
O primeiro envolve fazer o que todos estão fazendo, apenas para não ser diferente, ou talvez como um meio de tornar-se um membro do grupo. É o que pode acontecer, por exemplo, quando um pequeno grupo de crianças está correndo juntas, gritando qualquer coisa.
O segundo surge quando membros do grupo estão engajados numa mesma atividade, como, por exemplo, desenhando ou montando um quebra-cabeça em volta de uma mesa, tendo, porém, como principal interesse conversar entre si.
O assunto da conversa pode afastar-se completamente da atividade que esteja sendo desenvolvida e incluir a troca de informações sobre os pais, os acontecimentos especiais como aniversários e passeios. A atividade em si pode ser mencionada na conversa, mas outra vez ocorrerá em uma situação mais ampla, relacionada com o que as crianças gostam ou não gostam, ou sobre o que cada uma está fazendo.
Brincadeiras Cooperativas
Em algum momento, o interesse do grupo se desvia da troca de idéias para o jogo no qual está envolvido. Na brincadeira cooperativa, é muito importante pertencer ao grupo. A criança tem um lugar definido, bastante diferente daquele decorrente da atividade individual que caracteriza as brincadeiras solitárias ou em paralelo e, diferente até, da simples socialização peculiar ao processo de se juntar a um grupo. (Cooperação simples).Brincadeiras cooperativas podem constituir, simplesmente, a atividade conjunta de montar objetos com peças de encaixe, ou fazer castelos de areia. A criança toma parte em atividades compartilhadas, fazendo as mesmas coisas, divide brinquedos, espera a sua vez, trabalha com os outros. A conversa é principalmente em torno da própria atividade.
Cooperação Complexa
Nesse tipo de brincadeira as crianças assumem papéis, esperam a vez, e toda a atividade depende mais do desempenho conjunto do grupo.
A criança brinca de faz-de-conta, assume um papel e o representa. Participa também de jogos com regras complexas. Certas brincadeiras, como imitar papai e mamãe, por exemplo, podem durar vários dias ou semanas, com graus variáveis de elaboração e com interrupções causadas por outros interesses. A conversa gira principalmente em torno dos papéis representados.
À medida que cresce, a criança vai incluindo mais tipos de brincadeiras em suas atividades. Assim, aos dois anos ela não é capaz de brincar cooperativamente, mas aos quatro já consegue. Quando mais crescida ela, ocasionalmente, brinca sozinha ou em paralelo.
As brincadeiras sociais vão se desenvolvendo à proporção que a criança descobre como se comunicar com as outras, usando a palavra. De um modo geral somente aos dois anos, ela começa a se interessar em observar outras crianças brincando, e até tentar brincar junto. Mas sempre estas crianças são suas rivais, e quando encontra problemas, procura a mãe. Aos três anos ela começa a brincar mais com outras crianças, fica feliz em ser aceita em um grupo.A partir dos quatro anos participa de jogos de faz-de-conta, brinca de forma cooperativa simples, em paralelo, solitária. Nessa idade a criança gosta de todos os tipos de atividade.
Observando as brincadeiras das crianças, vamos notar o desenvolvimento e as mudanças em seus interesses e nos padrões de seu relacionamento social. Uma tal compreensão tem vantagem adicional de ajudar bastante na vida com uma criança pequena. Por exemplo, sabemos que, uma festa de aniversário com muitas crianças de dois anos de idade não será, jamais, um sucesso. Já aos três anos enquanto algumas crianças estão prontas para participar de brincadeiras de grupo, outras ainda se encontram no estágio solitário ou em paralelo.
Quando as crianças estão doentes ou sentindo-se inseguras, suas brincadeiras regridem a fases anteriores e elas passam a brincar da forma como o faziam há seis meses ou um ano. Isto é de se esperar e devemos tomar providências para satisfazer as necessidades da criança.
A maior parte das crianças que brinca sozinha, leva mais tempo para atravessar diversos estágios de aprender a brincar em grupo. Nunca devemos forçar uma criança a participar de brincadeiras em grupo se ela não quiser; é perfeitamente possível que ela não saiba como fazer isto, por ainda não estar preparada.
Como podemos ajudar a criança brincar
À medida que a criança cresce ela vai aprendendo várias brincadeiras, começa a gostar de brincar com outras crianças, e não perde a necessidade e nem o interesse como fazia nos estágios anteriores.
A melhor maneira de a criança aprender a brincar é respeitarmos seu próprio ritmo, ajudá-la e encorajá-la, se necessário. Se a criança possui oportunidade de brincar com outras crianças da mesma idade, a maioria delas aprende; antes do cinco anos, saberá dividir, compartilhar e conviver bem em grupos. Devemos proporcionar à criança muitas oportunidades de atravessar os diversos estágios de aprendizado. Além disso, é importante se ter idéia do que fazer durante as atividades das crianças, para tornar as coisas mais fáceis para todas elas.
Os adultos podem, dessa maneira, cumprir várias funções:
•Dar apoio;
•Escolher o momento certo para ajudar a criança a se retirar da brincadeira, quando sentir que ela está insegura.
•Assegurar sempre que a criança esteja pronta para novas experiências, deixando que ela se manifeste.
•Dar idéias: sugerir novas atividades, e estar sempre preparado a ter idéias rejeitadas, quando as crianças ficarem determinadas e seguirem outro rumo.
•Estimular conversas: às vezes a conversa decorre naturalmente da brincadeira, desviando a atenção da criança do aqui e agora.
•Dar conselhos: julgar cuidadosamente quando a criança será capaz de aprender com a experiência, ou se é melhor intervir.
•Atuar como juiz: avaliar situações intervir, para resolver atritos ou evitá-los.
•Tomar parte na brincadeira: aceitar qualquer papel que lhe seja atribuído.
•Ajudar uma criança em dificuldades quando alguma tarefa está além das suas capacidades.
Nunca devemos esquecer que brincar é altamente importante na vida da criança, primeiro por ser uma atividade na qual ela já se interessa naturalmente e, segundo, porque desenvolve suas percepções, sua inteligência, suas tendências à experimentação, seus instintos sociais.
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