quinta-feira, 29 de abril de 2010

Por que tornar-se Psicopedagogo ?

Por que tornar-se Psicopedagogo ?
TORNAR-SE PSICOPEDAGOGO: UMA QUESTÃO INSTIGANTE.

João Beauclair

Introdução

Tornar-se psicopedagogo/a é uma questão instigante porque nós nos fazemos à medida que caminhamos nas trilhas abertas por outros/as. Minha inserção pessoal no campo psicopedagógico aconteceu num momento de busca de referenciais que sustentasse minha própria prática enquanto educador preocupado com os dilemas vivenciados no espaçotempo escola. Acredito que cada um de nós constrói seus próprios conhecimentos por meio de aproximações sucessivas direcionadas aos objetos que queremos conhecer. Percebo que neste processo modificamos nossas compreensões e podemos também contribuir para que outros/as possam resignificar as compreensões anteriormente construídas.

Assim, entendo que a busca teórica deve sinalizar para a construção de referenciais que podem ser re-elaborados, reestruturados, à medida que teoria e prática são termos em contínua aproximação e revisão permanente.

Muitas são as referencias que trazemos de nossa formação inicial e, em nossa continuada trajetória enquanto aprendentes, muitas são as leituras feitas de diversos autores que caracterizam as buscas anteriormente citadas, propiciadoras de estudos, discussões, sínteses e fomentadoras de nossos movimentos de autoria de pensamento.
...
Em minha trajetória recente, em cursos de pós-graduação e nas produções deles resultantes, minha maior preocupação tem sido a de ampliar conhecimentos sobre o cotidiano institucional da escola, onde Direitos Humanos, Ética, Valores Humanos, Cidadania, Interdisciplinaridade e Transversalidade sejam presentes e apontem a alternativas possíveis aos dilemas vivenciados - e nem sempre enfrentados- no espaçotempo da escola. ( ... )

1-A Psicopedagogia, área do conhecimento relativamente nova, ainda apresenta pouco consenso no que se refere ao seu objeto de estudo, mas concordo com SILVA (1998), quando nos diz que é “o homem enquanto ser em processo de construção do conhecimento, ou seja, enquanto ser cognoscente” o foco central de sua pesquisa, estudo e aprofundamento.

2-Desta forma, podemos observar que o psicopedagogo é profissional de ação cuja práxis implica um amplo conjunto de atitudes, que envolve a si mesmo e aos outros/as enquanto seres humanos nos processos de aprendência.
Na procura de sedimentar esta observação, torna-se psicopedagogo é uma questão instigante pois nossas ações, enquanto aprendensinantes e no nosso desenvolvimento profissional em ações refletidas, devem privilegiar uma outra racionalidade: reflexiva, interativa, dialógica.

Torna-se psicopedagogo exige nossa compreensão que as organizações e instituições produzem valores, crenças, conhecimentos e práticas sociais. Tais produções são movidas pelo desejo, pela busca de soluções novas para os complexos problemas por nós vivenciados, sabendo que a profissionalidade do psicopedagogo perpassa pela complexidade dos diferentes desafios que atualmente se colocam à escola, de um modo geral , e aprendizagem em particular.

Cabe sabermos que soluções prontas e acabadas não existem e nem são aplicadas rotineiramente no cotidiano da escola e que é, cada vez mais, nos é exigido um olhar, uma escuta, uma capacidade de leitura e de releitura para encontrarmos soluções estratégicas adequadas a cada “espaçotempo” de nossas ações e inserções.

Torna-se psicopedagogo é um processo que, pela sua complexidade, nos exige a criação de competências e habilidades fomentadoras de multidimensionais olhares de investigação (na e pela) ação permanente, além da consciência de que a nossa formação nunca será concluída, visto que na nossa práxis a pesquisa e a continuada formação deve ser uma constante (BEAUCLAIR,2004a, 2004b).

O protagonismo do psicopedagogo e sua profissionalidade

Entre os estudiosos da Psicopedagogia é idéia aceita definir que a Psicopedagogia está se constituindo como campo do conhecimento humano voltado ao agir, ao fazer e ao pensar sobre as dificuldades de aprendizagem e os processo que lhe são inerentes. Em nosso cotidiano, inúmeros desafios ocorrem em nosso “espaçotempo” vivencial, pois estamos todos/as imersos no nosso complexo mundo em permanente movimento, impulsionados pelo desejo de superar as limitações que possuímos em nossas formas e modos de agir e pensar na cotidianidade que nos inserimos.

Dois desafios distintos surgem aqui: o primeiro vincula-se a própria formação do psicopedagogo/a, percebida em sua rede repleta de interrogações e que precisa tratar, cada vez mais, do resgate da reflexão e do reconhecimento das autorias de pensamento. O segundo vincula-se a própria profissionalidade do psicopedagogo, que ainda não está reconhecida e que, no caso especifico de nosso país, possui a ABPp como grande elo de interlocução neste sentido, voltada, entre outros objetivos, para que a profissão seja efetivamente reconhecida.

3-Desafios da Psicopedagogia hoje: suportes teóricos e práticos e pressupostos à práxis psicopedagógica.

O encontro com suportes teóricos e práticos para a práxis psicopedagógica deve se dar deste o momento inicial da formação do psicopedagogo. A própria proposta curricular da ABPp é um belo desafio, pois há sempre entraves a serem vencidos quando que o que se fomenta é a vontade e o desejo de fazer o melhor possível para que nos cursos que temos e atuamos, a formação seja a melhor possível. Claro que aqui se delineia um tema complexo e polêmico, mas o fundamental é ter como foco o fato de que é

“preciso (re)aprender, ou melhor, des-aprender: des-aprender a separação e a divisão dos fenômenos; é mister a-preender, a-prender a compreensão, as nossas potencialidades de síntese e de elaboração sistêmica. Neste processo, busca-se uma visão mais aberta, ampliada das próprias tramas da vida.”

4-Discuto, numa proposta de matriz de competências e habilidades para formação em Psicopedagogo, a necessidade do desenvolvimento humano que privilegia a herança cultural de nossa trajetória histórica, sendo que este processo deve ser efetivamente vivenciado nos cursos de formação: é preciso saber da complexidade de nossa formação enquanto seres historicamente constituídos e socialmente aprendentes e ensinantes, que no hoje, no aqui e no agora, estamos imersos numa era complexa e pós-industrial, onde os desafios são outros, diferentes de tempos anteriores, vividos por outras gerações que nos antecederam e até mesmo por nós, nesta nossa trajetória de mundo em rápidas transformações ocorridas a partir dos meados do século XX.5

Como sujeitos autônomos, que agimos/interagimos neste mundo complexo e mutante, e enquanto psicopedagogos ocupados em dar novos significados à vida daqueles que por ventura nos deparamos em nossas ações clínicas e/ou institucionais, é essencial estabelecer vínculos com nossos próprios processos de desenvolvimento humano, percebendo que os conceitos de alteridade, compreensão do ser, pensar reflexivo, ócio criativo, atividade espontânea, brincar e aprender, jogos, subjetividade, psicodrama entre outros, não são modismos, mas sim estratégias para que, enquanto seres humanos, possamos avançar, rompendo barreiras num processo permanente e desafiador, propiciador de posturas novas, que nos levem para além dos poucos minutos que nossa atenção pode deter-se.

Tornar-se psicopedagogo: uma questão instigante, que nos leva a reflexão, pesquisa, busca por uma práxis profissional onde nossa percepção seja aguçada e possibilitadora de um novo olhar, de uma nova maneira de ser, de estar bem, nos nossos espaços solitários, nas nossas ações coletivas, em nossa vida, com o encorajamento de sabermos que o essencial é intercambiar, ousar aproximar-se, pois esta é, talvez a maior possibilidade que temos para irmos ir adiante, para que enquanto humanos possamos “e-vo-lu-ir”, fluir. Então façamos, todos, este movimento.

Um comentário:

  1. Obrigado Carmem, pela postagem. Um Abraço.
    Prof. João Beauclair
    www.profjoaobeauclair.net

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