segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A Infância ( des ) Protegida

PALESTRA: Dia 03/10/2011 - FAACAMP 1- O QUE É A FAMILIA NESTES TEMPOS PÓS-MODERNOS Por: Carmem Ap. Mendes Fidalgo Breve História: A família monogâmica foi fundamental para o desenvolvimento da sociedade, sua prevalência e reconhecimento entre os povos beneficiam o exercício da paternidade, proteção e assistência. Em decorrência, tornou-se também fator econômico de produção, pois muitos membros trabalhavam juntos pela subsistência do grupo. Além disso, foi com a agregação da família que surgiu a propriedade individual. Com o advento da industrialização, ocorreu o fim dessa concepção familiar. A industria retirou da família a função de fator de produção, e conseqüentemente, a autoridade do chefe sobre os demais membros. O homem passa a trabalhar nas fabricas, e, a mulher também ingressa no mercado de trabalho com fim de ajudar no sustento da família, causando assim profundas transformações na hierarquia familiar. E aqui vemos o nascimento, o surgimento de idéias de igualdade de direitos, advindos da Declaração Universal dos Direitos do Homem, sendo outro ponto significativo, é que, as famílias antes numerosas começam a restringir o número de filhos, adquirindo, portanto, uma nova estrutura, onde os filhos não mais são gerados para prover o sustento familiar. Surge então no século XX a família nuclear, compreendendo: pai, mãe e filhos ( no máximo 3 ). E neste sentido, o casamento perde a vinculação anterior, social/econômica - passa a ser a união afetiva entre dois indivíduos. Dando um salto na história, em meados da década de 1970, surgem as famílias monoparentais (Este neologismo, é bastante amplo, pois procura abranger, simultaneamente, as situações novas e as antigas. As primeiras advindas das rupturas voluntárias de casamentos e uniões e as segundas, oriundas de falecimentos, abandono de um dos cônjuges, nascimentos extramatrimoniais, etc) formadas por um dos genitores e a prole. O primeiro país a tratar deste tema foi a Inglaterra, em 1960, diante das estatísticas de divórcio. Atualmente a situação da família brasileira clássica vem dando lugar à relações abertas de convívio em comum, de pais e filhos e suas novas formações, filhos de outros relacionamentos convivendo sob o mesmo teto. E aqui percebemos que não muda somente a família, mudam os relacionamentos, onde aquilo que era certo ontem, hoje não é mais. O sentimentos e a vida afetiva são modificados, comprometer-se com um relacionamento em longo prazo é uma “faca de dois gumes”, porque o amor romântico foi substituído pelo “amor confluente” ( termo cunhado por Antony Giddens, que é uma a relação, que só pode durar enquanto permanecer a satisfação que traz a ambos os parceiros, e nem um minuto a mais. “ No caso dos relacionamentos, você deseja que a “permissão de entrar” venha acompanhada da “permissão de sair” no momentos em que não veja mais razão para ficar” ( Bauman, 2005, pg 72 ) A vida amorosa agora é mediatizada pela tela do computador, assim evitamos uma intimidade indesejável com a presença do parceiro, e neste mundo mágico podemos ser aquilo que quisermos, sem laços, sem vínculos, sem compromisso, apenas sendo bonitos e felizes nas fotos, tornando nossas relações cada vez mais fluidas e menos concretas, nos tornando seres virtuais, intocáveis. 2- A CRIANÇA DIANTE DA NOVA REALIDADE (Resiliência/Cuidar do ser) Diante destes novos relacionamentos que se vem estabelecendo, os filhos (frutos do descuido, e não uma opção pensada/planejada/desejada) sofrem as conseqüências das inconseqüências de seus pais. Cada vez mais crianças são deixadas aos cuidados de terceiros, e, com esta atitude terceirizam também a educação, os sentimentos os cuidados básicos. Os avós, em sua grande maioria (e aqui tendo uma visão muito otimista) assumem a criação de seus netos, diante da instabilidade econômica e emocional dos filhos, vem tornando-se provedores do lar, arcando com responsabilidades que não lhes são pertinentes, porque ainda carregam consigo valores tradicionais da educação que receberão no passado e com a noção ainda da família nuclear. Embora estes avós assimilem os conceitos de família monoparental, eles vivem seus próprios conflitos, ficando em situação de sofrimento, temendo pelo futuro dos filhos e dos netos, porém exercem diante de situações delicadas papéis conciliadores, contribuindo inclusive, para a harmonização de sentimentos e conflitos resultantes dos relacionamentos dos filhos. Porque os novos pais e a nova configuração familiar traz em seu bojo, uma fragmentação de saberes, entre o tradicional e as novas ideologias, onde o ser deu lugar ao ter, e você vale pelo que aparenta e não pelo que é, de fato. Os altos valores humanos, como: amor, respeito, cuidado, solidariedade, foram ultrapassados, tornaram-se obsoletos, demodês. Embora ainda sejamos seres gregários e necessitemos uns dos outros, os valores que hoje nos unem são outros pertencem à esfera do individualismo e do egocentrismo, os laços são frágeis e, as certezas provisórias. Os pais contemporâneos tem suas prioridades e como tal cuidam muito de si, pois necessitam estar bem, bem vestidos, boa aparência, bem falantes, comunicativos, produtivos e sempre bem humorados, freqüentar academia, cursar faculdade, ter facebook, estar plugado no mundo, atualizado, o que não é nada errado, uma vez que precisamos de uma auto-estima saudável, e disto sabemos, depende nossa sobrevivência no mundo. O que nos leva ao cuidado, cuidar de si, não exclui cuidar do outro. Quando você se prioriza relega o outro a segundo plano, e os filhos deixados aos cuidados dos avós, vizinhos, babás, creches, escolas, são uma preocupação desnecessária, uma vez que estão sendo “cuidados”. E aqui entramos no conceito de resiliência – É importante destacar dessas definições que a energia de impacto é armazenada pelo material, ou seja, provoca uma certa alteração neste, entretanto tal alteração não modifica a estrutura, retornando à sua posição de origem, a exemplo: uma mola, um elástico. Fundamentado na psicologia o conceito de resiliência traz em si a idéia de elasticidade, flexibilidade, capacidade de recuperação, adaptação, naquilo que concerne ao humano. Desenvolvemos a superação diante de uma dificuldade considerada de risco, e, a possibilidade de construção de novos caminhos de vida, a partir do enfrentamento de situações estressantes e traumáticas. E neste sentido aprendendo a lidar com os problemas que surgem (internos ou externos), e saindo relativamente bem diante dos conflitos, o que não significa que o ser saia ileso da crise, é que a criança, desenvolve cada vez mais cedo a resiliência, aprendendo a lidar com emoções, suas e dos pais, amadurecendo antes do tempo, criando autonomia e responsabilidades que não lhe são próprias da idade. A exemplo disso: relacionamentos rompidos com violência presenciados pelos filhos, pais irresponsáveis que promovem a alienação parental, onde a criança fica exposta a um “fogo cruzado” que se dá antes, durante e depois da separação dos pais, maus tratos, filhos mais velhos (5 anos) que cuidam de irmãos menores (2 anos), e inúmeras situações que aqui poderiam ser citadas. Caracterizando deste modo a desproteção de seus filhos, tornando assim, a infância tortuosa, o que provavelmente lhes trará problemas futuros. E quando pais se separam, e aqui não estamos generalizando, mas constatando comportamentos, eles regridem emocionalmente, encontram-se em estado de “juventude terminal”, estão com 30 a 35 anos, e precisam começar de novo, com urgência, namorar, sair, criar novos grupos . Ficam tão ou mais infantilizados que os filhos. E a criança assiste a tudo isso ( mesmo presenciando o pai ou a mãe com novos parceiros ) em seu imaginário, com uma esperança tácita de que o amor dos pais se restabeleça, pois não consegue assimilar o porque do amor dos pais terminou. E, se ele é fruto deste amor, o que ele é agora? O resto de um amor que acabou? E este “resto” atrapalha, pois o conflito já antes instaurado, tende a piorar. A criança fica com a identidade abalada diante do desamparo, cai no vazio e precisa desenvolver a resiliência criando suas próprias experiências de manter sua identidade, construir uma nova vida que não esta mais dada pela convivência, mas pela vontade. Não estamos fazendo apologia a casamentos perpétuos, chamamos a atenção para a consciência e a necessidade de cuidar do ser a fim de minimizar sofrimentos desnecessários, por irresponsabilidades pessoais. E o contrário também é perigoso, pais que superprotegem seus filhos, cobrindo-os de mimos, compensando sua ausência com presentes, passeios ao shopping, dando razão aos filhos quando este não há tem. Isto são recortes da nova realidade que se apresenta, e cabe ha nós pais, educadores, professores, termos uma visão objetiva da vida contemporânea, e buscarmos novas soluções, para estas novas realidades que se apresentam. No filme – Onde vivem os monstros – vemos claramente a reação da criança em adaptar-se a esta nova realidade. A relação familiar e o amadurecimento de Max através de sua imaginação. Quão necessário nos é amadurecer, a tempo oportuno, a maturidade vem, e traz consigo a autonomia necessidade básica para estarmos e sermos no mundo. Max quando não consegue cumprir a promessa de ser um rei que fará os monstros felizes, assume sua identidade enquanto menino, só um menino que por mais que queira deixar a vida segura, permanecer naquele momento de sua história, em sua zona de conforto, não consegue impedir as mudanças, mudanças inexoráveis, que constroem o ser, mesmo que isso decepcione a nós mesmos e aos outros, não podemos deixar de crescer, e crescer significa construir, desconstruir, se reinventar, aceitar, seguir em frente com tudo que a vida nos apresenta, ter sempre um novo olhar, e o olhar deseja sempre mais do que lhe é dado ver. E para que isso aconteça, necessário é, olhar para si mesmo, para o outro, saber quem somos, no contexto no qual estamos inseridos, na sociedade em que vivemos, e, neste sentido devemos traduzir o visível e exercitar o invisível, pois como já dizia o Pequeno Príncipe “ O essencial é invisível para os olhos” ... e, isso ... é para sempre! Referências Bibliográficas Augras, Monique – O ser da Compreensão (fenomenologia da situação de psicodiagnóstico) 2ª edição, Ed. Vozes – Petrópolis – 1981 Bauman, Zygmunt – Modernidade Liquida; tradução Plínio Dentzien – Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2001 Moysés, Maria Ap.Af – A Institucionalização invisível: Crianças que não aprendem na escola – Campinas,SP: Mercado das Letras, 2001 Morin, Edgar – Epistemologia da complexidade, in,: Schinitman, D. F. (org.). Novos paradigmas, cultura e subjetividade. Porto Alegre, Artes Médicas, 1996a. Novaes, Adauto – O Olhar – São Paulo – Cia das Letras, 1997, 6ª reimpressão. Saint-Exupéry, Antoine de, - O Pequeno príncipe/ 48ª edição/42ª reimpressão - Agir Editora Ltda. 2009

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Método e Controle

COMPROMETIMENTO, MÉTODO E CONTROLE: A LIÇÃO DE BENJAMIN FRANKLIN GESTÃO DO TEMPO Benjamin Franklin, inventor, estadista, escritor, editor...