terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Escola e família



RELAÇÃO ESCOLA E FAMÍLIA
Juliana Cesário Ferreira

Sumário

Relação escola e família: contribuições para o processo de ensino aprendizagem

Atualmente, vivemos em uma sociedade moderna em constante transformação, na qual os valores éticos e morais estão sendo esquecidos pelo ser humano, e praticamente excluídos da formação dos indivíduos.
Valores como o respeito, a moral e a ética parecem estar sendo abandonados pela sociedade, e a educação parece que ocupa um maior espaço para mudar essa realidade, preparando o educando para um futuro melhor. Nessa perspectiva, instituições sociais como a escola e a família devem está unidas, contribuindo com a formação intelectual e profissional da criança, e fortalecendo a formação desses valores, necessários a formação humana.
Para pensarmos em uma boa formação e uma educação de qualidade nos dias de hoje, é importante que a família esteja em parceria com a escola, a fim de que ambas trilhem num mesmo caminho, e que esta última participe ativamente da vida escolar dos seus filhos.
A família deve estar informada de todas as ações e projetos que a escola desenvolve com o seu filho/estudante, a mesma tem o direito de saber e o dever de acompanhar como essa instituição funciona, e como acontece o processo ensino-aprendizagem desse sujeito aprendiz. E para que isso ocorra, a família tem que ser parceira da escola, cotidianamente.
Esse procedimento está prescrito no parágrafo único do Capítulo IV do Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990. p.20), “É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais”.
A família é o grupo primário em que a criança tem o seu primeiro contato social, recebendo amor, carinho, passando por momentos de felicidade, e também por momentos de tristezas, medos, entre outros. É nesse espaço que a criança se constrói como sujeito e vai compreendendo que no meio em que vive, existem regras e normas a serem cumpridas.

Assim o art. 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990, p.15) afirma:

Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.
A escola é o espaço de construção e socialização do conhecimento, a mesma é destinada a cuidar e educar a criança. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 2001. p.46): “A escola, por ser uma instituição social com propósito explicitamente educativo, tem o compromisso de intervir efetivamente para promover o desenvolvimento e a socialização de seus alunos”.
Nesse sentido, pode-se afirmar que a escola não deve viver sem a família e esta sem a escola, pois ambas se complementam e precisam estar em harmonia, desenvolvendo um lugar agradável e afetivo para seus filhos/estudantes, uma vez que escola e família devem trilhar um mesmo objetivo.
A presença da família na escola é de suma importância não só para a criança, como também para o professor. Essa presença é tão importante que o MEC (Ministério da Educação) criou o Dia Nacional da Família na Escola, comemorado na data de 24 de abril. Nesse dia, todas as instituições escolares são estimuladas a convidar os familiares dos alunos, para participarem de palestras, reuniões e atividades educativas, envolvendo os pais cada vez mais na educação de seus filhos.
É nesse cenário de alegria e de prazer que a família deve estar engajada na escola, participando da vida escolar de seus filhos, mostrando que eles são importantes e que merecem carinho e atenção. Vale ressaltar que essa parceria entre escola e família envolve comprometimento, responsabilidade e colaboração de ambas as partes, pois o que a escola e a família almejam é o melhor para seus filhos/estudantes.
Segundo algumas bases teóricas que investigam a relação família e escola, a exemplo de: (FURLANETO, MENESES E PEREIRA, 2007), (FREIRE, 1979), (MIELNIK, 1974), (CARVALHO, 2004) e (GENTILLE, 2006), uma criança que tem a presença da família na sua vida escolar, é bem provável que a mesma tenha um bom desempenho na escola, e quando a família permanece ativamente presente na vida da criança, quando os pais não jogam a total responsabilidade de educar exclusivamente na escola, o percentual dessa criança ter um desenvolvimento educacional de qualidade é enorme.
Uma vez estabelecida a parceria escola e família, ambas devem compreender que igualmente são responsáveis pelo processo formativo do estudante, e que essa união só contribuirá para o desempenho deste, em seu processo de escolarização.

Dialogando com a teoria
A escola e a família compartilham funções educacionais sociais que influenciam no desenvolvimento humano de cada indivíduo. A escola é um ambiente de aprendizagens, buscas, questionamentos, diferenças e sentimentos que norteiam a vida do estudante.
O sistema educacional deve se constituir como um ambiente multicultural que apresenta inúmeras diversidades entre os estudantes, que retratam vontades, interesses, pensamentos e intenções variadas, preparando-os para a inserção na sociedade, para superar dificuldades, e buscar seus direitos como cidadão, contribuindo para o desenvolvimento do indivíduo, como sujeito ativo na sociedade (DESSEN & POLONIA, 2007).
Quando se faz referência ao termo escola, considera-se que esta é uma instituição sólida na sociedade, onde estão inseridos indivíduos de todas as classes sociais, de culturas diferentes e com perspectivas de cumprir o que nela está estabelecido. (PENIN, 1995).
A escola é uma instituição fundamental na vida de todo indivíduo, pois é nesse âmbito que aprendemos a nos relacionar com o outro, a cumprir regras, a desenvolver atividades e a nos comportar em sociedade. (DESSEN & POLONIA, 2007).
Nessa perspectiva, percebemos a importância da instituição escolar como aquela que está inserida no contexto histórico-social dos indivíduos, de modo estruturada, organizada e envolvendo o currículo em todas as suas instâncias, como retrata (DESSEN & POLONIA, 2007. p.7):

Em síntese, a escola é uma instituição em que se priorizam as atividades educativas formais, sendo identificada como um espaço de desenvolvimento e aprendizagem e o currículo, no seu sentido mais amplo, devem envolver todas as experiências realizadas nesse contexto.

Ou seja, o papel da escola é formar o cidadão critico reflexivo para atuar na sociedade como um ser ativo. A escola juntamente com o seu corpo docente transmite ao aluno conhecimentos e ensinamentos de que os estudantes precisam para viver no mundo globalizado e na sociedade moderna que vivemos.
E para que isso aconteça, é necessário o trabalho e a dedicação do professor para mostrar a importância e o papel dos indivíduos na sociedade, como cidadão crítico, atuantes e conscientes de seus direitos e deveres. Tal instituição deve dar ao estudante condições de se inserir no meio social, orientando-o a prosseguir nos seus estudos e buscar sempre novos horizontes.
Nessa perspectiva, com base na leitura dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 2001. p. 45):

[...] Se concebe a educação escolar como uma prática que tem a possibilidade de criar condições para que todos os alunos desenvolvam suas capacidades e aprendam os conteúdos necessários para construir instrumentos de compreensão da realidade e de participação em relações sociais, políticas e culturais diversificadas e cada vez mais amplas, condições estas fundamentais para o exercício da cidadania na construção de uma sociedade democrática e não excludente.

Como podemos ver, os PCNs apresentam esse compromisso para a escola desenvolver um trabalho satisfatório e democrático, através do qual os estudantes possam exercer seus direitos e deveres como sujeitos críticos e participativos na sociedade.
Nessa perspectiva, caracteriza-se a escola como a instituição que é responsável pela educação escolar e conduz os estudantes á socialização, ao desenvolvimento intelectual, realizando um trabalho coletivo, voltado para a construção do ser cidadão, exercendo a cidadania e aprimorando o conjunto de valores que está intrínseco ao ser humano, assim como a família também é responsável por desenvolver esses valores como afirma Gentille (2006, p.35):

A família é o primeiro grupo com o qual a pessoa convive e seus membros são exemplos para a sua vida. No que diz respeito á Educação, se essas pessoas demonstrarem curiosidade em relação ao que acontece em sala de aula e reforçarem a importância do que está sendo aprendido, estarão dando uma enorme contribuição para o sucesso da aprendizagem. Pode parecer simples, e é. Tanto que é exatamente o que tem sido pedido aos responsáveis pelos estudantes de todos os níveis de ensino.

Dessa forma, tanto a escola como a família tem os mesmos interesses, devem estar unidas e estabelecerem parceria, pois ambas assumem a responsabilidade de educar seus filhos/estudantes.
A partir da leitura de Furlaneto, Meneses e Pereira (2007, p.64) compreendemos que: “De um modo cada vez mais significativo, a escola (lugar de lazer) passa a assumir a responsabilidade, cada vez maior, de ser, na sociedade, o campo especifico da Educação intencional, formal e sistemática”.
Nessa perspectiva, percebemos a responsabilidade que é atribuída a escola em educar o sujeito praticamente sozinha, mas sabemos que a família deve se responsabilizar e cumprir com o seu dever de educar também o seu filho. Como afirma Carvalho (2004. p.47):

A educação tem um papel fundamental na produção e reprodução cultural e social e começa no lar/família, lugar da reprodução física e psíquica cotidiana – cuidado do corpo, higiene, alimentação, descanso, afeto, que constituem as condições básicas de toda a vida social e produtiva.

Assim, é na família que a criança começa a se relacionar com o meio social, aprendendo e entendendo aos poucos como se estabelece a sua vivência, compreendendo pequenas noções de como se constitui uma família, o que pode ou não fazer, desenvolvendo seus sentimentos e entendendo como se constrói o seu contexto histórico social.
A família é a base fundamental na vida de qualquer indivíduo. Constitui-se uma instituição importante na formação e educação dos filhos. Desse modo, a família deveria cumprir o seu papel, como parte essencial no processo ensino-aprendizagem do seu filho e considerar que a educação deste é de sua responsabilidade.
Desse modo, a família deveria educar os filhos desde pequeninos e mostrar como deve ser seu comportamento na sociedade, impondo limites, dizendo não quando necessário e sim no momento certo, não deixando toda a responsabilidade para a instituição escolar, como afirma (OLIVEIRA, 2007. p. 175):

Historicamente, a família tem sido considerada o ambiente ideal para o desenvolvimento e a educação de crianças pequenas. Essa é a posição de alguns sistemas educacionais, que sustentam que a responsabilidade da educação dos filhos, particularmente quando pequenos, é da família, e assumem um papel de meros substitutos dela, repetindo as metas embutidas nas práticas familiares.

Como sabemos a educação não começa apenas no âmbito escolar, mas se inicia em casa, com a família, com a interação entre seus membros e com o desenvolvimento de relações que se estabelecem entre eles. Nesse sentido, Mielnik, (1974, p.27), reforça a nossa discussão quando diz:
Desde que nasce está a criança praticamente observando o meio ambiente para começar cedo a sua aprendizagem, suas tentativas, erros e acertos. Nesse trabalho, árduo e contínuo, a criança é auxiliada e estimulada pelos pais, que visam facilitar seu desenvolvimento. A família é, pois o meio social que inicia a educação do indivíduo.

Nessa perspectiva é no espaço familiar que a criança começa a se desenvolver, mostrando suas vontades, seus desejos, criando ideias e descobrindo os seus sentimentos. E para que aconteça realmente a parceria entre escola e família, esta última deve estar envolvida no desenvolvimento escolar de seu filho, como afirma: (CARVALHO, 2004. p.44):

Do ponto de vista da escola, envolvimento ou participação dos pais na educação dos filhos e filhas significa comparecimento ás reuniões de pais e mestres, atenção á comunicação escola-casa e, sobretudo, acompanhamento dos deveres de casa e das notas.
Nesse sentido, a família deve cumprir seu papel, estando atenta a educação dos filhos, apoiando-os, incentivando-os e comprometendo-se a ajudar a escola no que for necessário para a melhoria de suas aprendizagens.
A escola e a família são duas instituições que desempenham importante papel na socialização da criança. A escola transmite conhecimentos científicos, desenvolve as capacidades cognitivas, estimula o interesse do estudante em aprender, refletir sobre acontecimentos na sociedade e trabalha para formar cidadãos, que exerçam seus deveres e lutem por seus direitos, tornando-se sujeitos ativos no meio social.
A família é o alicerce para o indivíduo, lócus em que ele encontra confiança e apoio. Ela é responsável pela segurança, proteção, afeto e cuidado da criança; características intrínsecas à cultura de cada grupo. As práticas e os saberes acumulados por cada família são repassados para os indivíduos desde o nascimento, mostrando o modo de como a família pensa e reflete sobre o meio em que vive.
A partir desse entendimento fica visível a importância de se trabalhar com essas duas instituições unidas, pois o compromisso de ensinar e de educar não compete apenas à escola, mas a família também tem que fazer a sua parte. A escola deveria encontrar na família um apoio, uma aliada para juntas trabalharem numa mesma perspectiva e desenvolver resultados satisfatórios. Ambas deveriam lutar para beneficiar o estudante com uma educação que o desenvolva em suas potencialidades.
É com o envolvimento entre escola e família que o trabalho entre ambas começa a fluir na perspectiva da melhoria da educação das crianças, por isso a importância da escola abrir as portas para a família e que essa também aceite a parceria, participando realmente da vida escolar de seus filhos.
Com isso, o compromisso é a palavra chave para que a parceria escola e família seja efetivada. Quando a família cumpre o seu papel e estabelece um vínculo de compromisso com a escola, ambas começam a se entender e progredir no desenvolvimento de um trabalho educativo satisfatório e de qualidade em prol do estudante.
Nesse sentido, é importante destacar o que Freire (1979. p.21) diz: “Na medida em que um compromisso não pode ser um ato passivo, mas práxis – ação e reflexão sobre a realidade, inserção nela, ele implica indubitavelmente um conhecimento da realidade”.
Desse modo, para que a família esteja em parceria com a escola, ela necessita conhecer o ambiente em que seu filho está inserido. Conhecendo a realidade que o estudante vivencia, a família pode e deve comprometer-se em melhorar a educação do seu filho.
Quando falamos na relação escola e família, falamos também na divisão do trabalho com a educação de crianças e jovens, envolvendo participação, compromisso e responsabilidade dessas duas instituições, com a perspectiva de promover o sucesso escolar dos estudantes (CARVALHO, 2004).
Há várias maneiras de trazer a família para o espaço escolar como: definir os eixos que podem se comunicar, convocar reuniões, convidar os pais ou responsáveis para conversar sobre o progresso ou não de seus filhos, promover palestras e debates, enfim, mostrar para a família, que ela é importante e que a escola precisa de seu apoio para conquistar o sucesso escolar do estudante. Completando essa afirmação, Mielnik (1974. p.32) diz:

Os pais devem ser solicitados pela escola, apoiados, estimulados e frequentemente aconselhados, afim de que cooperem e completem a ação educativa escolar, mantendo a mesma atitude de cooperação, e estímulo no ambiente familiar.

Dessa forma, a escola necessita da relação com a família, pois os professores precisam conhecer o meio sociocultural vivenciado pelos seus estudantes, para poder compreendê-los e respeitá-los, destacando o apoio da família para efetivação da aprendizagem dos seus filhos.
Uma simples conversa entre professores e pais nas reuniões, pode ser o início de uma parceria entre escola e família. Quando há o diálogo, os pais falam e opinam referente a educação dos filhos, essas informações são de grande valor na tentativa do professor entender melhor seu aluno e com essa aproximação poder influenciar de forma satisfatória na aprendizagem do estudante.
Vale ressaltar que a participação dos pais na escola influencia o desempenho escolar do seu filho, pois quando há motivação, interesse e compromisso destes na educação dos filhos, eles se sentem mais animados e desempenham maior progresso em seus estudos. (CARVALHO, 2004).
Assim, com essa parceria estabelecida, escola e família poderão trabalhar em uma mesma linha, planejando, educando e formando um sujeito livre, um cidadão crítico e atuante em nossa sociedade, desenvolvendo uma educação de qualidade recebida tanto na escola, como na família.

Bibliografia

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Secretária Especial dos Direitos Humanos; Ministério da Educação. Brasília: MEC, ACS, 1990.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução, vol. 1, Secretária de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 2001.
CARVALHO, Maria Eulina Passoa de. Modos de educação, gênero e relações escola-família. In: Caderno de Pesquisas, São Paulo, n. 121, p. 41-57, jul. 2004.
DESSEN, Maria Auxiliadora; POLONIA, Ana da Costa. A família e a escola como contextos de desenvolvimento humano. Paidéia. V. 17 n.36. Ribeirão Preto. Jan/abr. 2007. Disponível em: http://www.scielo.br. acesso em 17/03/12
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Tradução; Moacir Gadotti e Lillian Lopes Martin. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
FULANETO, Ecleide Cunico; MENESES, João Gualberto de Carvalho; PEREIRA, Poliguara Acácio. (Orgs). A Escola e o Aluno. São Paulo: Avercamp, 2007.
GENTILLE, Paola. Nova Escola: A revista de quem educa. Escola e Família. Belo Horizonte: Positivo, 2006, p.32-39.
MIELNIK, Isaac. Problemas de pais e mestres: Relações humanas no lar e na escola. 2.ed. São Paulo: Edart, 1974.
OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Educação Infantil: fundamentos e métodos. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
PENIN, Sônia. Cotidiano e escola. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995

Publicado em 05/11/2013 15:24:00

Currículo(s) do(s) autor(es)

Juliana Cesário Ferreira - (clique no nome para enviar um e-mail ao autor) - Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal De Campina Grande – UFCG, cursando Especialização em Psicopedagogia pela Faculdades Integradas De Patos – FIP, trabalha na educação de jovens e adultos.

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