domingo, 20 de abril de 2014

Complexo de inferioridade e superioridade

O complexo de inferioridade e superioridade


PSICÓLOGO ANTONIO CARLOS ALVES DE ARAÚJO C.R.P 31341/5




Ambos os conceitos que serão desenvolvidos neste estudo são a parte principal da obra do psicólogo ALFRED ADLER, primeiro discípulo de FREUD e também o primeiro a romper com o mesmo, por discordância na supremacia do instinto sexual na modelagem da personalidade. ADLER achava que o complexo de inferioridade era algo intrínseco à natureza humana, justamente pela fragilidade da criança perante o ambiente que a circunda. Sua extrema dependência dos familiares e impossibilidade de várias coisas acarretavam dito complexo. Em contrapartida desenvolvia fantasias de superioridade para compensar tal situação desvantajosa. Essa trama ou binômio (inferioridade-superioridade) acompanhariam o indivíduo pelo resto de sua vida. Pretendo estudar tais complexos dentro de nossa atualidade e analisando os fenômenos sociais que os acompanham. O complexo de inferioridade nasce quando a criança percebe o simples fato de não ser o único objeto do amor, afeição ou cuidado de seus pais; seja por ter outros irmãos ou os pais darem atenção a outras tarefas; o ciúme e raiva se desenvolvem bem cedo na criança. ADLER inclusive achava determinante na formação da personalidade que posição a criança ocupava no quadro familiar (primogênito, caçula, filho do meio). A ruptura da condição de não ser única ou do narcisismo infantil traz como herança a comparação e competição que também nos acompanharão pelo resto de nossas vidas.



Inferioridade, disputa de poder e rivalidade formam um dos núcleos centrais da alma humana. Todas visam originalmente obter atenção e controle sobre um ambiente hostil ou desconhecido. Seria uma visão completamente equivocada e reducionista achar que tais fenômenos são apenas reproduções dos processos econômicos e sociais; muito pelo contrário, o desenvolvimento de tais instintos é que moldará uma personalidade que mais tarde se tornará ávida pelo poder ou dinheiro. De certa forma não haveria nenhum problema com a competição e disputa de poder se paralelamente se desenvolvesse o núcleo da solidariedade como ADLER apregoava. Quantos de nós carecemos daquela figura generosa que nos mostrasse que uma derrota não é de forma alguma uma humilhação de nosso íntimo. A ausência de tal instrutor já é o primeiro gerador do complexo de inferioridade, pois não houve treino ou acompanhante para o processo da perda.



A grande questão para o pleno desenvolvimento da autoestima é “regar” na criança determinada potencialidade que jamais se dissolva no processo social ou da opinião alheia, sendo a prova máxima da existência de alguma verdade atemporal carregada por um ser humano e no qual dará um uso mais amplo do que meramente um ganho pessoal. Esta é a precisa definição do que vem a ser a segurança pessoal. Pode se iniciar com um mero elogio dos pais perante uma habilidade do bebê, que no decorrer de sua formação irá entender plenamente sua tarefa e responsabilidade por ter algo especial. Mas, infelizmente as coisas não são tão fáceis. Muitas vezes o mestre mais duro em relação ao nosso dever não cumprido ou falta é a inveja. A mesma sempre nos lembra o incômodo de talvez o outro crescer mais rápido, trazendo agonia e angústia perante algo que começamos a desejar e negligenciamos no passado recente. A felicidade é um estado transitório de alienação e afastamento do complexo de inferioridade, e a infelicidade é a dura recordação da tarefa não cumprida exposta acima. O complexo de inferioridade coloca a questão de todo o nosso desenvolvimento nas diferentes etapas da vida perante a opinião alheia, máximo carrasco de nossa era, adquirindo hegemonia perante nossas ações e medos. Personagens são então criados para abafar toda esta ansiedade criada. O que não se tolera é que alguém descubra uma determinada compulsão pessoal que visa encobrir nosso espírito solitário. Inferioridade em todos os níveis é sinônima de solidão, rejeição e exclusão.



A inferioridade mesclada com a solidão é não ter a companhia ou testemunho de alguém acerca de nossa capacidade de proporcionar êxtase, sendo que se desenvolve a convicção profunda de não termos nenhuma importância do ponto de vista pessoal. Solidão e inferioridade são uma poupança cruel ou economia forçada de afetos, também dizem do mais extremado medo de não ter uma pessoa que na convivência possa coibir nossos desequilíbrios. Inferioridade e solidão são o represamento do poder pessoal, dando uma mensagem incessante de que jamais poderemos utilizá-lo, acarretando uma espera agonizante para que alguém nos liberte desse drama. Inferioridade também é o ódio pela expectativa não cumprida. O próprio mecanismo da compensação já é por si mesmo o complexo de inferioridade; se utilizar algo ou alguma característica de ênfase pessoal para encobrir ou facilitar o que se percebe como difícil. Praticamente todos fazem isso, seja através da estética ou dinheiro, como exemplos. Aliás, estética por si só nunca foi sinônima de saúde, apenas um determinado modelo que se procura imitar. O sucesso tão almejado é o mais puro esconderijo de todas as frustrações, e a humanidade sempre encarou tal questão como um segredo, quando na verdade é o sentido da vida dentro da estrutura social de competição que se criou ao longo dos séculos. O sucesso sempre foi protegido ou blindado de sua verdadeira função ou análise, parecendo que é um tabu denegrir tão cobiçado conceito.



Inferioridade diz da imagem de um passado não resolvido, turbulento, que está plenamente ao lado de qualquer prazer ou potencial presente, anulando constantemente o mesmo. O real não é percebido firmemente, podendo ser invadido a qualquer momento pelos fantasmas dos infortúnios vivenciados. O medo instintivo do ser humano, que geneticamente serviu para o instinto de autopreservação se transforma em corriqueiras cargas energéticas de humilhação ou inferioridade para a pessoa em questão; é uma espécie de piloto automático que avisa o indivíduo que o perigo nunca passa, isto é a essência da fragilidade, sendo que a exacerbação do cuidado é o nódulo central de todas as fobias que acometem a mente. Mas porque isto acontece, qual sua origem na infância? Sem sombra de dúvida este pesadelo da inferioridade começou quando a criança percebeu em algum momento a morte ou perigo de aniquilamento de seu ego, disparando todas as cargas extras sensoriais, hormonais e psíquicas para tentar se proteger.



O resultado não é apenas o trauma, mas o hábito do stress literalmente, quando o assunto é se gostar. O complexo de superioridade é justamente o oposto disso tudo, não há a necessidade da preservação, sem limites para o gozo ou exercício do poder. O espaço é da pessoa por natureza, um monarca com o direito a derramar todo o seu potencial agressivo. Obviamente para o desenvolvimento de dito complexo, a criança desde cedo foi mimada ou reforçada em demasia em vários dos eventos nos quais participou, inflacionando a verdadeira dimensão de seu potencial, e conseqüentemente contribuindo para o prejuízo de seu senso de comunidade. Não precisamos ir muito longe para observarmos as crianças e jovens mimados de hoje em dia, verdadeiros tiranos que exploram a culpa dos pais, lhes forçando ao provimento de todos os seus caprichos materiais e pessoais. A competição desde cedo invade a mente e alma destes, sendo que não se enxerga o verdadeiro valor de outro ser humano, apenas utilizando o mesmo contra a solidão ou o pânico da exclusão. A solidão é também extremamente pesada em nossa época por colocar numa regra matemática as desvantagens e vantagens de tal fenômeno. O conceito soa um tanto estranho, mas o fato é que a mente não tolera uma resposta tão precisa de eventos emocionais. A fantasia e fabulação não deixam de ser mecanismos protetores contra a frustração real da afetividade não vivenciada. A solidão primeiramente fornece as vantagens das desobrigações para com o outro e o sentido da liberdade íntima, mas a seguir advém a agonia de saber que se está no mais puro isolamento que um ser humano pode suportar, afora a culpa corrosiva de achar que sempre afastou as pessoas ao seu redor.



Se desde cedo, percebemos o diminuto de nossa existência, é claro que os desejos de poder ou imortalidade ao menos na memória coletiva seriam as compensações. O narcisismo em voga na nossa sociedade é o exemplo máximo dessa tentativa de superioridade, ao contrário da pessoa que se sente inferior, não conseguindo descobrir ou atuar num ramo em que obteria a grandeza. Outro núcleo do complexo de inferioridade se estabelece quando a pessoa no transcorrer de sua vida perdeu quase que totalmente a capacidade para dizer um não. O ceder inicialmente corresponde à expectativa de uma futura gratidão por parte do outro. Mas quando não ocorre o que justifica a continuidade do comportamento nefasto para a pessoa? A resposta é o ódio disfarçado de uma mágoa constante visando cobrar o que lhe seria devido. Porém, tal processo pode se arrastar por anos e coibir completamente a autoestima do indivíduo. A dificuldade do não diz do tabu perante a agressividade e o ódio, elementos fundamentais que precisam ser elaborados em nossa existência. Para alguns atuar o não é desenvolver uma paranóia extrema perante uma retaliação que talvez seja até inexistente. Obviamente há uma ativação total do medo, sendo que a preocupação se torna dilacerante, preenchendo todos os espaços da mente. Isto é exatamente o oposto da chamada “paz de espírito”, e todos temem passar por tal agonia. A sensação de covardia se contradiz com o ter de reagir perante eventos que na maioria das vezes sabemos que são mais do que ínfimos.



Pensemos em um dos conceitos clássicos da psicologia que é a elaboração do luto. O mesmo teria a finalidade de um tempo para que a pessoa vivenciasse a experiência da dor ou perda. O que tal tese não percebe é a diferença radical entre luto e velório. O primeiro é extremamente tendencioso a uma continuidade destrutiva para a saúde psíquica do sujeito; já o velório é um processo de curta duração, sendo que a pessoa é obrigada a encarar frontalmente a perda. O tempo sempre é fundamental para evitar a sedimentação das seqüelas emocionais que uma separação ou perda produzem.Uma separação sempre é igualada ao complexo de inferioridade não apenas pelo receio da crítica social, mas por se achar impossível novamente encontrar alguém que entenda a intimidade da pessoa. Tal fato sempre foi confundido como uma espécie de comodismo ou apego para o reinício de algo, não que tais fenômenos não ocorram, mas muitos se esquecem de analisar que o grande drama é perceber que uma nova ligação coloca sempre o desafio se a pessoa realmente é capaz de conquistar alguém. É engraçado e curioso como no terreno afetivo o ser humano exacerba o medo de perder, permitindo o desperdício do tempo.



A verdade é que em nossa atual sociedade já foram criados nódulos fixos do complexo de inferioridade: não conseguir lucro material, obesidade, solidão, ausência de amizades e exclusão social (entrando o racismo nas diferentes áreas). O dilema de toda pessoa é se a mesma pode vir a possuir algo que a princípio não seja mero fruto da pressão externa, mas que um dia seja reconhecida pela mesma de forma natural, assim sendo, isto seria realmente algo que preencheria o sujeito, e não todos os recalques que se carregam pelo medo da opinião alheia. A questão não é propriamente que tipo de inferioridade se abate sobre o sujeito, mas como irá enfrentá-la, com agressividade, tristeza, inconformismo, timidez. Todas o afastam plenamente da aceitação de sua pessoa. A timidez talvez seja a pior de todas, pois se criou um segredo quase que absoluto sobre a pessoa que não deseja dividir sua intimidade. A lei que passa a vigorar é encaixotar qualquer emoção mais profunda perante outro ser humano. O tímido jamais aceita fazer sua parte quando o assunto é se abrir para os relacionamentos em geral; abstendo-se de tudo, até da denúncia de um sistema que segrega, já que optou por tal modelo pessoal espontaneamente. Percebam mais uma vez que o problema da inferioridade é a proibição da criação no presente; tudo está amplamente ligado ao passado, devendo compensá-lo a todo instante. É quase uma suprema autorização mais do que abstrata para se poder viver, e que nunca chega.



A prática profissional me deu a certeza de que o problema do complexo de inferioridade ou neurose é quando não há mais a discriminação entre o “grande ou pequeno” dentro do esquema mental da pessoa, nivelando quase que toda a experiência pelo medo ou terror. É desnecessário dizer que tal prática deixa seqüelas quase que irreparáveis na socialização e humor do indivíduo. O esquema econômico oportunista inventou uma espécie de vacina para tal moléstia; o consumo. Este parece ser a única cura para quem sofre de algum transtorno com sua autoestima; novamente nivelando ou dando a fuga para todos os males da personalidade. É óbvio que algo ou alguém iriam desenvolver um projeto de lucro ou ganho em cima do sofrimento psicológico; a história da humanidade é prova viva de tal prática. O problema é que tal assunto é apenas encarado de forma ideológica, sendo que a essência não é a fuga citada para o consumo, mas, quais conseqüências irão surgir ao longo do tempo para quem aceita o suborno material para o que não consegue lidar? O sistema criou caricaturas de pessoas consumistas com altas doses de infelicidade (madames, crianças mimadas), quando na verdade todos aguardam a oportunidade de recorrer a tal expediente. O dinheiro há muito tempo não é apenas o seguro contra a privação, sendo a garantia máxima de adiar o confronto contra o balanço pessoal sobre se a pessoa obteve satisfação, plenitude ou ansiedade e desgraça.



FREUD acreditava que o núcleo da neurose era a compulsão para a repetição, um evento mórbido que tinha a característica de repetir diversas vezes o mesmo trauma até uma possível tentativa de assimilá-lo. Além dessa questão indiscutível do ponto de vista técnico, tal fenômeno quando ocorre inicia uma espécie de jogo econômico no plano mental, poupando o sonho ou prazer almejado pelo indivíduo. Isto visa ampliar de forma indireta a experiência do prazer; se concentrar em eventos passados é um disfarce para o tédio que a curta duração da satisfação proporciona, é como conquistar um troféu e apenas esperar pelo próximo, sendo o centro total da ansiedade. A sexualidade não tem a primazia por sua questão de prazer propriamente dita, mas, exatamente pela extrema finitude e curta duração do ato do gozo. O tempo sempre foi e será o centro de toda dimensão e complexidade psicológica, sendo o último complexo, podendo passar por liberdade, sofrimento, confinamento, alívio, dentre outros. O indivíduo que não aceita tal desapego citado acaba adiando sua busca pessoal de satisfação, não percebendo que a cada dia se afasta mais de seus objetivos. Não precisamos ir muito longe para vermos diversos exemplos em nossa sociedade, à busca da perfeição em um parceiro ou companheiro afetivo e sexual, tornando a pessoa arredia e isolada neste terreno. É um tanto estranho que uma sociedade tão consumista e hedonista não consiga efetivamente gastar ou vivenciar o prazer em sua plenitude, exatamente pelo conflito do tempo citado. O mesmo jamais será uma mercadoria, pelo contrário, nosso juiz máximo para o autoconhecimento ou horror da perda.



Seja a passividade de alguém tentando agradar a todos, para se evitar o tormento do conflito, ou a pessoa que faz deste último sua meta de vida, o problema da rejeição está intimamente relacionado ao complexo de inferioridade. O próprio fenômeno do amor não deixa de ser uma tentativa de cura para tal pesadelo de nossa alma. A rejeição também está relacionada à dificuldade de se lidar com o problema do erro. Pessoas que não conseguem lidar com o mesmo, encaram tal fenômeno como único, sendo que talvez não terão mais oportunidades de reparo ou outras chances de reconhecimento; é como se no decorrer do desenvolvimento o lado afetivo fosse uma espécie de um teste de emprego, ou se consegue o cargo ou se está totalmente excluído, sendo que o amor dos pais é visto nesta perspectiva de não ter aproveitado a ocasião. O centro máximo da psicologia na atualidade passa também pela temática do apego. O grande malefício do mesmo é quando cada ser humano faz uma leitura do medo da perda de algo que lhe trouxe felicidade ou satisfação, quando na verdade tudo pode não passar de um núcleo de comportamento vicioso, obstruindo novos caminhos. Obviamente que o conforto, materialismo e raciocínio de segurança de nossa era amplificam tal questão: boa conta bancária como seguro contra a miséria, casamento ou relacionamento para afastar a solidão, dentre outros.



A tentativa de perpetuação com certeza nunca foi o melhor caminho para a saúde psicológica. Porém, sejamos francos, nenhum ser humano em nossa sociedade conseguiu viver outro modelo. A posse enseja a loucura da perda e recomeço, como disse acima, e quem não possui vive o dilema do desejo, que se torna também loucura por ter de vivenciar uma paciência que parece que nunca traz o objeto almejado. Sendo assim, o desejo acaba por ser algo dilacerante, que corrói e transmuta negativamente sua própria origem e finalidade. Então estamos falando da mais pura ilusão, sendo que todo esforço é para compensar medos irreais que quase nunca conseguimos trabalhar, mas que afetam totalmente nossa vida diária. Se a realidade então supre uma necessidade inconsciente quase que fantasmagórica, parece que se vive no limbo, ou talvez isto seja a resposta de todo o nosso fracasso no âmbito pessoal e social. O problema do dinheiro não é sua retenção ou alguém se tornar perdulário, mas assim como o sexo e afetividade, quando se usam tais instrumentos para encobrir o medo da impermanência citada anteriormente. É um mito um tanto tolo achar que o trabalho teria um sentido de expulsão do paraíso, quando na verdade também é usado para encobrir várias angústias existenciais, e este é sempre o problema ontológico, em qualquer direção que seguimos, percebermos a finitude.



A superação do complexo de inferioridade passa por um aspecto na correta efetivação do que chamo de “contabilidade emocional”. O que determinada pessoa recebeu de afeto versus o que pode doar sempre são excludentes, ao contrário do que quase todos pensam. A prova disso é que se a fórmula fosse igual, a pessoa mimada teria necessariamente de doar amplamente, fato que nunca ocorre. Este é o ponto nevrálgico de libertação, pois o que se possui internamente jamais provém apenas do reforço, mas de uma habilidade de reconhecer sua potencialidade. Pensemos no indivíduo que não para de chorar diante da angústia de sua história de vida, paralelamente ao desprezo de outro perante sua suposta fartura emocional (o mimado citado). A cura final é o ponto onde se desperta o prazer, sendo que deve ser um fenômeno da mais pura meditação pessoal, sem qualquer interferência da ditadura da opinião alheia. Mas alguns irão questionar se a descoberta da potencialidade não depende do reforço de outro? Jamais, apenas a conscientização de uma avareza daquele que podia ajudar ou doar e não o fez, assim como enxergar seu histórico de se sentir totalmente privado de algo.



Outro conceito importante para a superação da inferioridade é perceber a semelhança entre o ato do amor e a própria evolução da pessoa. Ambos têm sua junção na percepção do que cada pessoa ao seu redor pode fazer ou não no preenchimento das necessidades afetivas de ambos, tarefa muito mais profícua do que a perda de tempo no sofrimento da expectativa da transformação do outro. A intuição sempre nos alerta de que a insistência já é por si mesma uma mensagem do não retorno daquilo que se almeja. Amar também é abandonar a tempo um sujeito incapacitado para a arte da troca, evitando a cristalização de seqüelas quase que irreversíveis para a saúde afetiva. Isto seria o mais puro uso correto do que podemos chamar de sensibilidade, ao contrário das pessoas que a utilizam apenas na arte da superstição ou no desenvolvimento da angústia ou sintomas. Devemos estar extremamente atentos ao manejo daquilo que sonhamos e ainda não o obtemos. Estar sempre de sentinela perante o desejo não cumprido em nada garante a sua consecução. Lembro-me de um sonho de um paciente onde no mesmo sonhava que estava para ser enterrado vivo, por uma outra pessoa desprezível do ponto de vista estético e higiênico; tentava ganhar tempo a todo custo, para ver se fugia; na seqüência fora transportado para uma outra cena onde conhecia uma mulher que lhe proporcionou o mais intenso e puro momento de felicidade. O inconsciente é a total dualidade, o embate constante de opostos, assim sendo, permanecer fixado apenas no desejo ou só num determinado caminho, sem a percepção de outros processos não garante nenhum êxito como disse acima.



Cada época expressa de forma singular suas idiossincrasias e medos. Nossa era reúne dois núcleos centrais na inferioridade, e que são causadores dos mais graves distúrbios de personalidade: a exclusão sócio-econômica e o abandono afetivo. O receio das pessoas perante estas duas áreas é claríssimo, porém o que ninguém ousa tocar é a natureza de tais fenômenos. É impressionante como ambos são os causadores máximos de vários distúrbios psicossomáticos, e obviamente ninguém deseja passar por tal infortúnio. Além disso, outro ponto de extremo pesar é quando sentimos aquela tristeza contagiante de outra pessoa, e sem sabermos a razão, nosso humor e talvez aquilo que se chame de sorte foi completamente tirado de nós. Seria isto a pura energia negativa? Diria que afora o misticismo, tais acontecimentos negativos têm a capacidade de ativação de nosso lado destrutivo que tanto tentamos abafar ou negar, e por mais que tentemos a negação, sabemos intrinsecamente que qualquer malefício sempre está perto de nossa vida. Mas enfim, como aprender a se gostar com todas as armadilhas citadas no texto? Diria primeiramente que deveria haver uma espécie de equilíbrio entre as exigências estéticas e sociais do meio com os aspectos da personalidade do sujeito, sendo que o mesmo aprenderia a investir no externo e interno, este último possui uma defasagem descabida em nossos dias.



Muitos atrelam seu valor a outra pessoa, uma espécie de “salvador”, para que o mesmo tenha a função de ratificar as potencialidades da pessoa em déficit. Sem dúvida alguma vivemos em sociedade e pouca coisa possui valor na solidão e isolamento. Mas no assunto da autoestima deveria haver uma quebra momentânea, sem aquele cunho neurótico ou esquizofrênico, onde a pessoa em determinado ponto percebesse seu aspecto pessoal de genialidade e capacidade, seja na área sexual, companhia, inteligência ou estímulo e vontade para a mudança. O “se gostar” é amplamente diferente do êxtase de uma felicidade momentânea ou a satisfação de um sonho tão cobiçado, o problema é que a maioria confunde estes setores, se diminuindo e tocando ao longo da vida um projeto de segurança, que nada mais é do que o sinônimo máximo da mediocridade. O ápice da escravidão moderna é a loucura da dependência em todas as áreas: drogas, opinião alheia, companheiro (a), dinheiro, receio de perder o que se conquistou, ou as coisas que nos distraem. O stress é a conspiração diária da ansiedade e desejo irreal de segurança, nos transportando para um mundo ilusório dentro da curta realidade de nossa vida. Por fim, elaborei um teste dinâmico, acerca dos fatores históricos que causam a inferioridade, o mesmo deve ser feito conjuntamente com um profissional da psicologia que tenha ciência da junção entre conflitos psíquicos e esquema social.





Teste sobre o complexo de inferioridade e superioridade:



“Qualquer teste só é válido para uma reflexão pessoal, e não confiar a algo estático um juízo de valor para nossa personalidade”.



1) No decorrer de seu desenvolvimento foi estimulado ou sempre motivo de ironia ou gozação?



2) Lembrar de todos os apelidos que teve e as razões que as pessoas tiveram para os imputar.



3) Quando as lembranças mais agradáveis da infância se dissiparam? Sentiu que conseguiu a satisfação sobre tal período, ou o tempo de felicidade foi extremamente curto?(pergunta fundamental que investiga toda a fantasia e tendência a um saudosismo irreal, fazendo com que a pessoa veja a trajetória de sua carência e falta de oportunidade para vivenciar o prazer, esta pergunta ainda dá pistas sobre como a pessoa não se dá à oportunidade para resolver ou aproveitar aquilo que sempre desejou).



4) Como sempre sentiu a conversa com os pais?(convidativa ou com um tom de reprovação?).



5) Qual a área que sua família priorizou?(material, disciplinar, prazer e amizade entre seus membros? Notem que quanto mais envelhecemos observamos o que mais faltou em nosso meio).





6) História de seu rendimento escolar (destaque, mediano, abaixo da média, sendo que sempre lhe cobraram a mais do que conseguia?).



7) A história de suas relações afetiva e sexual (acabaram como? Em total discórdia, se preservou algo? - pergunta fundamental para se obter onde repousa o núcleo da afetividade; no ódio, agressividade, lamentação dentre outros).





8) Como sempre trabalhou o aspecto da rejeição? (com imensa dose de angústia, desespero, ou procurou refletir o porque da pessoa ou situação darem errados? Sentia que sempre poderia encontrar outra pessoa, ou seu apego dava a noção de ser a última oportunidade de sua vida?).



9) Que tipo de homem ou mulher fantasiou desde a adolescência?(aspectos estéticos, fama, poder, procure refletir sinceramente quais foram às influências que motivaram tais conteúdos).



10)Na área histórica do trabalho como sente que foi sua atitude emocional (paranóia, conflito, sensação de incapacidade, atenuador de discussões ou seguro de si mesmo)?



11)Qual a tônica de seus relacionamentos em geral?(disputa, rebeldia, passividade, paternalismo, indiferença?).



12) Excetuando perdas de familiares, qual foi à vivência mais triste de sua vida? Não confundir com dificuldades cotidianas; o objetivo é localizar determinado fenômeno que deixou seqüelas.



13) Conseguiu avançar no tocante à amargura de determinado desejo não realizado? E sobre a inveja perante os outros, como sempre lidou com tal questão? Parou para analisar o incômodo de tal sentimento quando ocorreu, ou tentou apenas esquecer o acontecimento.



14) Quais foram os acontecimentos que mais lhe proporcionaram arrependimento? O que houve? Demora na ação ou resposta, timidez? O arrependimento deve ser encarado como uma pista de algum bloqueio ou sabotagem perante algum desejo nosso; pois quando se encontra ao alcance, muitas vezes se desenvolve um mecanismo de medo ou temor perante os mesmos. Devemos refletir que o problema não é ter perdido algo, mas, quanto de possibilidade e motivação nos resta para a continuidade de nossas metas.



15) Se tivesse que fazer um balanço de situações de sofrimento, quais das mesmas efetivamente lhe causaram prejuízo, e quantas não foram valorizadas simplesmente pelo medo da exclusão ou repetição de algo?(Novamente insisto na dimensão da mistura do grande e pequeno, e o nível de tolerância de uma pessoa, sendo que o resultado para alguns é um imenso desperdício não apenas de seu humor, mas, da motivação que sempre é subtraída pela preocupação).



16) Consegue analisar o tamanho de sua insegurança ou ciúme? Pensar nas situações de descontrole, exemplo: ligar desesperadamente diversas vezes para uma pessoa, a insistência carregada de ódio modifica algo? Forçar a continuidade é prova de nosso poder pessoal? A insistência não seria também uma prévia de uma futura ruptura?



17) Na questão do sono, qual a essência corriqueira de seus sonhos ou pesadelos? Caso os temas sejam recorrentes, quando começaram? Se há insônia, consegue visualizar o motivo, ansiedade, depressão, falta de iniciativa durante o dia para pensar ou perceber como poderia resolver seus conflitos?



18) Que tipo de prazeres estariam ao seu alcance, mas, que simplesmente você trava na hora de os executar? Sua tentativa de disciplina interna apenas segue o comando da opinião alheia?



19) Quanto tempo calcula que levará para resolver ou alcançar as reais metas de sua vida? Por que não as efetuou até o momento?.



20) Como encara qualquer tipo de ajuda, seja psicológica, familiar, com orgulho? Com naturalidade?(Pergunta fundamental para se iniciar o processo de mudança, pois pessoas com grande soma de inferioridade resistem à qualquer tipo de intervenção externa).



21) Qual o peso que carrega pela falta de investimento naquela área que seria prioritária para sua satisfação pessoal, mas, que por indolência e resistência não o fez?(a pergunta mais importante, pois dá uma dimensão da falta de sentido da vida de determinado sujeito que apenas segue modelos, obstruindo sua criatividade).



BIBLIOGRAFIA: ADLER, ALFRED. O CARÁTER NEURÓTICO. BUENOS AIRES, EDITORA PAIDÓS, 1912.

Dificuldade e distúrbio na linguagem

DIFICULDADE E DISTÚRBIO NA LINGUAGEM


Marcos Tadeu Garcia Paterra

Sumário Dificuldade e distúrbio na linguagem escrita - um olhar psicopedagógico Quando falamos em “Dificuldade” e/ou de “Distúrbio”, devemos saber suas diferenças conceituais para que não haja equívocos na interpretação. A dificuldade de aprendizagem esta relacionada com crianças em fase escolar, por apresentar problemas de ordem pedagógica e ou sócio culturais em um termo geral se refere a um grupo heterogêneo de transtornos manifestados por dificuldades na aquisição e uso da escuta, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. O “distúrbio” de aprendizagem poder ocorrer concomitantemente com outras condições desfavoráveis , por exemplo, alteração sensorial, retardo mental, distúrbio social ou emocional, ou influências ambientais, por exemplo, diferenças culturais, instrução insuficiente, fatores psicogenéticos. Em outras palavras distúrbios de aprendizagem podem ser encontrados em crianças, adolescentes e pessoas na fase adulta. Eles geram dificuldades que estão presentes no cotidiano da escola sendo enfrentadas por educadores e também pelos responsáveis e demais pessoas que convivem com indivíduos detentores desses problemas. Muitas vezes, crianças e adolescentes têm sua imagem denegrida por adjetivos como, por exemplo, preguiçosas e desinteressadas em função da falta de conhecimentos de seus educadores. Existe um grande número de professores que desconhecem os distúrbios de aprendizagem e não possuem as capacidades necessárias para lidar com eles, agindo de forma errônea na execução do seu trabalho. Dificuldade de aprendizagem (DA) é um termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de transtornos que se manifestam por dificuldades significativas na aquisição e uso da recepção, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Estes transtornos são intrínsecos ao indivíduo, são atribuídos à disfunção do sistema nervoso central e podem ocorrer ao longo do ciclo vital. Ao falar sobre dificuldades ou de deficiência na escrita é necessário ressaltar que desde muito cedo a criança, imersa num meio social, aprende e utiliza a linguagem oral com certa eficiência. Isso ocorre de maneira espontânea e só mais tarde ela será capaz de manejar as organizações linguísticas conscientemente, o que se denomina habilidade metalinguística. Isto não quer dizer que a criança, antes desse domínio consciente, não tenha controle sobre a sua linguagem, mas é importante perceber dois momentos distintos no processo de aquisição da linguagem escrita: a ocorrência de epiprocessos , designados também como conhecimentos implícitos e de metaprocessos , designados também como conhecimentos explícitos. Sobre essa ótica Vitor da Fonseca , afirma que: “[...] De fato, só podemos considerar que ascendemos ao estudo do Homo sapiens a partir do momento em que se domina um código visuofonético , que converte a linguagem falada em linguagem escrita. Quando não atingimos esse nível multissensorial simbólico, justificativo de toda a evolução humana, e no fim, de toda a civilização, o nível de domínio da realidade é apenas o do Homo habilis .” Zorzi no diz que : “ [...] apender a falar faz parte de nossa herança biológica, hereditária. Podemos afirmar que o homem, independente de raça, cultura, sexo, cor, condições sociais, econômicas ou geográficas, nasce para falar” “A capacidade de desenvolver a linguagem oral é uma característica universal da humanidade, desde os tempos remotos, resultado da evolução do homem ao longo dos tempos e que o diferencia de outras espécies” (ZORZI.p5) Todavia Zorzi completa a linguagem escrita não é uma herança biológica, mas cultural, ou seja se já nascemos com uma programação hereditária que nos permite adquire a “língua” do meio em que vivemos o mesmo não ocorre com a linguagem escrita. “[...] Existem sociedades que escrevem , e outras que não escrevem, embora todas tenham a língua oral, isso quer dizer que língua escrita seja uma criação social.[...] “ (ZORZI, p5) Para Maria Regina Maluf a linguagem escrita à linguagem é a maior invenção da humanidade e que através dela foi possível fazer registros históricos da humanidade. “Aprender a ler e a escrever é aprender um modo totalmente novo de compreender e representar o mundo em que vivemos.” (MALUF. P.10) A linguagem escrita para que seja aprendida é necessário que a criança viva em sociedade letrada ou que tenha acesso ao letramento, sobre essa perspectiva a leitura implica uma "tradução" (ou equivalência) do que está escrevendo na página, em equivalentes auditivos que são apreendidos previamente; assim o analfabetismo é a falta de acesso e/ou oportunidades para se aprender a ler e escrever. A Comissão de Educação e Cultura afirma que nos últimos 30 anos houve enorme avanço nos conhecimentos a respeito das relações entre habilidades metalinguísticas e aprendizagem da linguagem escrita, com estudos feitos em diferentes línguas. Particularmente frequentes são as pesquisas sobre a habilidade de identificar os componentes fonológicos (unidades linguísticas sonoras) e de manipulá-los de modo intencional (domínio metafonológico ), importante sobretudo no início da aprendizagem da linguagem escrita em línguas alfabéticas, assim muitas vezes as dificuldades de linguagem escrita são sintomas de dificuldades da linguagem oral. Sobre esse prisma, Ferrero nos lembra que a criança, ao ingressar à escola, necessita estar preparada em diversos aspectos: emocional, mental, social e físico. Toda informação colhida permite entender melhor as dificuldades apresentadas no intuito de oferecer uma orientação e propostas mais adequadas à sua situação pessoal. “[...] a criança deve adquirir condições necessárias de “maturidade” antes de entrar em contato com um objeto.” (FERREIRO.1997) Atualmente, é muito comum ouvir de um educador que se uma criança não obteve os resultados esperados é porque sofre de algum transtorno. Mas será que estas crianças fizeram uso de todos os recursos possíveis para a aquisição linguística? Como foi feita a alfabetização desta criança? Todas as questões apontadas acima são de extrema importância, pois nem tudo é transtorno, nem tudo é dificuldade. Existe uma parte que cabe ao sistema e à forma que tal proposta foi estabelecida e conduzida até chegar à aprendizagem. Zorzi afirma que um número muito elevado de crianças tem sido apontado como apresentando dificuldades no processo de aprendizagem, principalmente da língua escrita, no Brasil considerando-se dados publicados pelo INEP (2002) , uma população de mais de quarenta milhões de crianças e jovens compõe o universo de estudantes frequentando o ensino elementar, que vai até a 8ª série. Deste total, cerca de vinte e cinco milhões estão cursando o ensino fundamental de 1ª a 4ª série, em sua grande maioria atendida pela rede escolar pública. Considerando-se o desempenho escolar deste grande número de estudantes, estima-se que cerca de 40%, ou mais, estão tendo dificuldades de aprendizagem. Apesar de ser um índice muito alto, ele poderia ser atribuído às adversidades das condições sociais e econômicas no Brasil. Todavia, o que é mais agravante, os demais estudantes (60%), embora não sejam considerados como portadores de dificuldades, estão apresentando, em sua maioria, um baixo rendimento escolar. Enquanto a criança não domina a leitura e a escrita, é necessário que o professor conduza a leitura e, consequentemente, vá conduzindo o educando a ter autonomia para também ler de forma a expandir seus horizontes na construção do conhecimento. José e Coelho nos diz que: “Um bom caminho para crianças que tem dificuldade de aprendizagem, de acordo com a proposta do letramento, seria contemplá-las com aquilo que elas não fazem uso dentro de seu meio social. Um exemplo é inserir em uma comunidade carente livros, revistas, jornais, material impresso de todo tipo de leitura que será apresentada às crianças e as mesmas farão uso daquela que mais se identifica e tem sentido para ela.” A escrita se dá por estágios de elaboração de hipóteses, a leitura envolve processos para além da decodificação, envolvendo movimentos oculares, memória de trabalho, memória semântica e precisa ser uma aprendizagem com significado. É fundamental que os profissionais que atuam na alfabetização , seja no ensino ou na clínica psicopedagógica, tenham clareza desses dois processos, que estão intimamente ligados ao crescimento da criança, à sua autonomia. Mudando o foco das dificuldades na escrita e abordando distúrbios neuronais, e destacando a disgrafia e agrafia , OBLER e GJERLOW afirmam em seu livro no tópico “Problemas na escrita” que a dificuldade de escrever (pelo menos no sistema inglês) porque a principio, existem duas vias alternativas para a leitura, mas para a escrita é necessário saber soletrar corretamente. Segundo as autoras em alguns pacientes adultos com graves lesões no cérebro, apenas a escrita “automática”; Os problemas de disgrafia superficial começam quando os pacientes já não conseguem imaginar acusticamente como soletram as pseudopalavras. Outro enfoque nesse tópico foi que pacientes com Alzheimer a escrita pode sofrer problemas diversos, além das palavras poderem se tornar ilegíveis , e a conclusão de que na doença de Alzheimer as correspondências “fonema-grafema” permanecem durante mais tempo na memoria das palavras que se pronuncia de forma irregular. Outro tópico abordado por OBLER e GJERLOW com o titulo: “conclusão”, afirma que a leitura e a escrita exigem praticamente todas as capacidades da linguagem falada, juntamente com as de codificar e descodificar a informação ortográfica, e que portanto sobre esse prisma não é surpreendente a diversificação de formas de elas se deteriorarem, além de não ser estranho que haja vias cerebrais adicionais que possam estar implicadas no problema. Pode-se afirmar que a “dislexia de desenvolvimento” resulta de uma perturbação na aprendizagem da capacidade de decodificação do código escrito e pode estar associada a disgrafias. A disgrafia que é também chamada de letra feia. Ocorre devido a uma incapacidade de recordar a grafia da letra. Ao tentar recordar este grafismo escreve muito lentamente o que acaba unindo inadequadamente as letras, tornando a letra ilegível. Algumas crianças com disgrafia possui também uma disortografia amontoando letras para esconder os erros ortográficos. Mas não são todos digráficos que possuem disortografia. Existem dois tipos de disgrafia: - Disgrafia motora (discaligrafia): a criança consegue falar e ler, mas encontra dificuldades na coordenação motora fina para escrever as letras, palavras e números, ou seja, vê a figura gráfica, mas não consegue fazer os movimentos para escrever; - Disgrafia perceptiva: não consegue fazer relação entre o sistema simbólico e as grafias que representam os sons, as palavras e frases. Possui as características da dislexia sendo que esta está associada à leitura e a disgrafia está associada à escrita Fonseca nos lembra em sua obra “Abordagem Psicopedagógica das Dificuldades de aprendizagem” de que as agrafias dependem de lesões localizadas, o que de certa forma constituem uma visão fragmentada das múltiplas funções linguísticas. Da neurologia clássica à neuropsicologia e desta à psiconeurologia, aparece à necessidade de uma revisão radical do conceito clássico de relação direta entre o cérebro e os vários processos comportamentais, nomeadamente a linguagem. (FONSECA P.174) Assim a agrafia é a perda ou deficiência da capacidade em escrever (cartas, sílabas, palavras ou frases) devido a uma lesão em uma área cerebral específica ou ocasionalmente devido a fatores emocionais. Geshwind comenta no livro de OBLER e GJERLOW : “O que provavelmente pode ser dito com certeza é que o conhecimento dos vários aspectos da dislexia pode ser enriquecido se for olhado através de um enfoque biológico e sociológico. Temos que entender sua relação com o talento muito desenvolvido e também com as condições sociais que fazem dele um transtorno. Temos que entender também as outras formas de transtorno de aprendizagem, uma vez que estas podem nos ajudar a perceber aspectos da dislexia que, de outra forma, nos poderiam ter escapado. Quanto mais amplo o contexto em que observamos a dislexia, mais provavelmente poderemos entender suas causas e isto, por sua vez, poderá contribuir para o refinamento do diagnóstico e também para o tratamento mais eficaz.” (GESCHWIND). Concluímos ao final que independente dos problemas na escrita seja m ocasionados por distúrbios ou por dificuldades, o psicopedagogo deve atentar as suas diversas e complexas formas de manifestações, para que possa intervir de maneira adequada no aprendente, sobre esse contexto a intervenção além de uso de diversas estratégias de criar no aluno o desejo de aprender (jogos, brinquedos e brincadeiras) requer uma estimulação linguística global e um atendimento individualizado complementar à escola, reforçar o aluno de forma positiva sempre que conseguir realizar uma conquista, conscientizar o aluno de seu problema e ajudá-lo de forma positiva. O profissional em psicopedagogia, ao ter a consciência de que a leitura não é apenas algo visual, mas que também aponta à compreensão daquilo que foi lido e o que significa para o aluno de acordo com o conhecimento que o mesmo já tem com ele, vai conseguir entender melhor o que são as dificuldades de aprendizagem. O psicopedagogo deve estar apto a captar científica e pedagogicamente as características do comportamento de aprendizagem das crianças, para que possa identificar e intervir em suas dificuldades. “O QI centrado na medição de produtos (nível de realização demonstrado em testes) não diz nada sobre os processos que estão por detrás da realização verbal ou não verbal. Dá indicações do que foi aprendido no passado em termos de conteúdo, mas não fornece dados sobre como se dá a aprendizagem e onde é que o educando tem, ou não tem, em termos de estrutura, potencial para desenvolver a capacidade de aprendizagem. Porque a inteligência é medida, supõe-se que ela seja fixa e imutável, caindo abusivamente na ideia de que ela é largamente dependente do potencial genético e dos limites hereditários e, portanto, inacessível à sua modificabilidade.” (FONSECA. P. 522). Bibliografia A descrição dos Transtornos de Aprendizagem é encontrada em manuais internacionais de diagnóstico, tanto CID 10, elaborado pela organização Mundial de Saúde , como no DSM-IV, organizado pela Associação Psiquiátrica Americana . Epiprocessos : conhecimento tácito Metaprocessos : conhecimento explícito Vítor da Fonseca é professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa e mestre em Dificuldades de Aprendizagem pela Universidade de Northwestern (Evanston – Chicago). Especializado em Psicopedagogia e Psicomotricidade, tem sido responsável clínico ao longo de trinta anos, em diversos centros de observação e reeducação psicoeducacional privados. Desenvolve acções de formação há vários anos com professores, psicólogos, médicos e terapeutas no país e no estrangeiro. Homo sapiens, do latim "homem sábio", a denominação Sapiens origina-se de “Sapientia” (sabedoria) e de “Homo Sapiens” (ser humano) Vsuofonético: que converte a linguagem falada em linguagem escrita. Homo habilis cujo nome significa ” homem habilidoso “, é uma espécie de hominídeo que viveu no princípio do Plistocénico/Holoceno (2,5 milhões a 1,9 milhões de anos), foi a primeira espécie humana a confeccionar e utilizar ferramentas, começando talvez por uma simples pedra.. FONSECA, Vitor da. Abordagem Psicopedagógica das Dificuldades de Aprendizagem- Insucesso Escolar, Âncora Editora, Lisboa.1999. Jaime Luiz Zorzi - Fonoaudiólogo e diretor do Cefac Centro de Pós-Graduação em Saúde e Educação. Possui graduação em fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1976), mestrado em distúrbios da comunicação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1988) e doutorado em educação pela Universidade Estadual de Campinas (1997) ZORZI Jaime Luiz. Aprendizagem e Distúrbios de Linguagem Escrita- questões clinicas e Educacionais. Ed. Artmed. Porto Alegre. 2007 Maria Regina Maluf é doutora em Psicologia pela Universidade de Louvain (Bélgica) e Livre Docente em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo. MALUF Maria Regina Maluf. Metalinguagem e aquisição da escrita - contribuições da pesquisa para a pratica da alfabetização. São Paulo. Casa do Psicologo.2003. Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados (2003). Relatório final do grupo de trabalho alfabetização infantil: Os novos caminhos. Brasília, 160p. (digitado). METAFONOLOGIA Aprendizagem da leitura e consciência fonológica. Emilia Ferreiro, psicóloga e pesquisadora argentina, radicada no México, fez seu doutorado na Universidade de Genebra, sob a orientação de Jean Piaget. FERREIRO, Emília. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999. INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais www.inep.gov.br, 2002. JOSÉ, Elisabete da Assunção & COELHO, Maria Teresa. Problemas de Aprendizagem. Ed Ática. São Paulo. 2006. Segundo Jaqueline Moll : alfabetização é um processo mecânico, vinculado a habilidades de codificação e decodificação. - MOLL, Jaqueline. Alfabetização possível. Porto Alegre: Mediação, 1997. Disgrafia: Incapacidade de o indivíduo produzir uma escrita culturalmente aceitável, apesar do individuo possuir nível intelectual adequado. Agrafia - Impossibilidade de escrever e reproduzir os seus pensamentos por escrito OBLER. Loraine, K. GJERLOW, Kris. PROBLEMAS DA PALAVRA ESCRITA: DISLEXIA E DISGRAFIA (p.141/155) in: A Linguagem e o Cérebro. Ed. Instituto Piaget. Porto Alegre. 2002 Segundo a World Federation of Neurologists (1968), dislexia do desenvolvimento é o distúrbio em que a criança, apesar de ter acesso à escolarização regular, falha em adquirir as habilidades de leitura, escrita e soletração que seriam esperadas de acordo com seu desempenho intelectual. GESHWIND, N. e GALABURDA, A. Cerebral Lateralizacion – Biological mechanisms, associations. And pathology. Camabridge Massachesetts. 1985. FONSECA, Vitor da. Abordagem Psicopedagógica das Dificuldades de Aprendizagem- Insucesso Escolar, Cap. (in) Conclusão. Âncora Editora, Lisboa.1999. Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados (2003). Relatório final do grupo de trabalho alfabetização infantil: Os novos caminhos. Brasília, 160p. FERREIRO, Emília. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999 FONSECA, Vitor da. Abordagem Psicopedagógica das Dificuldades de Aprendizagem- Insucesso Escolar. Âncora Editora, Lisboa. 1999. INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - www.inep.gov.br, 2002. JOSÉ, Elisabete da Assunção & COELHO, Maria Teresa. Problemas de Aprendizagem. Ed Ática. São Paulo. 2006. MALUF Maria Regina Maluf. Metalinguagem e aquisição da escrita - contribuições da pesquisa para a pratica da alfabetização. São Paulo. Casa do Psicologo. 2003. MOLL, Jaqueline. Alfabetização possível. Porto Alegre: Mediação, 1997. OBLER. Loraine, K. GJERLOW, Kris. PROBLEMAS DA PALAVRA ESCRITA: DISLEXIA E DISGRAFIA (p.141/155) in: A Linguagem e o Cérebro. Ed. Instituto Piaget. Porto Alegre. 2002. ZORZI Jaime Luiz. Aprendizagem e Distúrbios de Linguagem Escrita- questões clinicas e Educacionais. Ed. Artmed. Porto Alegre. 2007 Currículo(s) do(s) autor(es) Marcos Tadeu Garcia Paterra - (clique no nome para enviar um e-mail ao autor) - Graduando em Psicopedagogia da UFPB

Complexo de inferioridade



Complexo de Inferioridade


Por Ana Lucia Santana


O termo Complexo de Inferioridade foi criado por Alfred Adler, primeiro seguidor de Freud, que depois se desligou dele por discordar de algumas idéias do pioneiro da Psicanálise. Ele acreditava que este sentimento era inerente ao homem, e nascia do meio em que a criança crescia. Dependente dos pais nos primeiros momentos de seu desenvolvimento, aparentemente fraca e, portanto, incapaz ainda de realizar determinados feitos, ela tinha diante de si o ambiente ideal para o surgimento deste complexo. Para equilibrar este distúrbio, o ser humano gera então sentimentos de superioridade, tentando obter algumas vantagens psíquicas.

Essa pretensa inferioridade que alguns sentem pode ser imaginária, a partir do momento em que a criança se torna consciente de que não é o único alvo de atenção e de amor da família. Neste momento ela sente ciúmes e raiva. Segundo Adler, é fundamental na análise deste complexo saber se o filho é o mais velho, o mais novo ou o do meio. Destas condições nasce a competição que futuramente se desenvolverá entre os irmãos. De qualquer forma, este sentimento é inconsciente, e é compensado por atitudes de uma superioridade compensatória, para esconder estas emoções perturbadoras. O que diferencia uma percepção normal de inferioridade, que tem como função impelir o homem para sua evolução particular, o complexo se constitui em um estado emocional de profundo desânimo, que muitas vezes conduz o indivíduo a uma fuga da realidade, reforçada pelas fantasias de superioridade.
[Complexo de Inferioridade]

O íntimo do ser humano é povoado de lutas pelo poder, sentimentos inferiores e competições. É assim que o homem busca a atenção de seus companheiros, tenta se destacar no meio do todo e se defender de um meio agressivo e desconhecido. Estes processos contribuem para o desenvolvimento da personalidade do indivíduo. Os valores podem, a partir de então, ganhar contornos negativos, com a intensificação da concorrência e da agressividade, ou positivos, com o crescimento da solidariedade entre as pessoas, e a consciência cada vez mais clara de que perder uma disputa não é humilhante. Como geralmente, nestes momentos de derrota, não há ninguém ao nosso lado para nos mostrar esta face afirmativa da realidade, é quase inevitável a queda no Complexo de Inferioridade.

É essencial plantar na criança sementes de auto-estima e de fortaleza moral, que lhe permitam resistir aos pontos de vista dos outros e às provações do caminho que o Ego enfrenta. Os pais precisam criar em torno do filho mecanismos que desenvolvam, ao longo do tempo, uma aura de segurança para protegê-lo das influências externas, e que na infância supram seus sentimentos iniciais de fragilidade, carência de proteção e dependência, vivências que dão origem ao que Adler chama de complexo de inferioridade primário. Esta emoção pode se amplificar se a família adquirir o hábito de compará-lo aos irmãos ou a outras pessoas adultas.

Já o sentimento de inferioridade secundário está associado ao adulto, que tenta alcançar uma meta que reside no inconsciente ou um pretenso êxito pessoal para suprir seu complexo de inferioridade. O espaço que separa o sujeito da realização destes objetivos causa sentimentos de frustração e incita emoções negativas e inferiores. O complexo de inferioridade está, portanto, ligado ao meio em que a criança se desenvolve, ao comportamento dos pais com relação a ela – estes devem evitar discursos negativos e depreciativos, bem como o costume de destacar os deslizes dos filhos -, à presença de determinados defeitos físicos, que provocam muitas vezes zombarias e ironias alheias, a restrições mentais deste ser e também a níveis sociais desvantajosos.

Percebe-se, pelos fatores acima, que o maior algoz e adversário da nossa personalidade hoje é a opinião do outro, que pode provocar em nossas emoções distúrbios os mais variados, bem como patologias psíquicas sérias. Neste momento de ansiedade extrema, é comum inventarmos em nosso interior um super-herói, através do qual podemos atuar emocional e socialmente, com prejuízos atenuados pela nossa criação mental. Afinal, o ser humano não suporta a marginalização, a rejeição social e a solidão.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Escola e família



RELAÇÃO ESCOLA E FAMÍLIA
Juliana Cesário Ferreira

Sumário

Relação escola e família: contribuições para o processo de ensino aprendizagem

Atualmente, vivemos em uma sociedade moderna em constante transformação, na qual os valores éticos e morais estão sendo esquecidos pelo ser humano, e praticamente excluídos da formação dos indivíduos.
Valores como o respeito, a moral e a ética parecem estar sendo abandonados pela sociedade, e a educação parece que ocupa um maior espaço para mudar essa realidade, preparando o educando para um futuro melhor. Nessa perspectiva, instituições sociais como a escola e a família devem está unidas, contribuindo com a formação intelectual e profissional da criança, e fortalecendo a formação desses valores, necessários a formação humana.
Para pensarmos em uma boa formação e uma educação de qualidade nos dias de hoje, é importante que a família esteja em parceria com a escola, a fim de que ambas trilhem num mesmo caminho, e que esta última participe ativamente da vida escolar dos seus filhos.
A família deve estar informada de todas as ações e projetos que a escola desenvolve com o seu filho/estudante, a mesma tem o direito de saber e o dever de acompanhar como essa instituição funciona, e como acontece o processo ensino-aprendizagem desse sujeito aprendiz. E para que isso ocorra, a família tem que ser parceira da escola, cotidianamente.
Esse procedimento está prescrito no parágrafo único do Capítulo IV do Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990. p.20), “É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais”.
A família é o grupo primário em que a criança tem o seu primeiro contato social, recebendo amor, carinho, passando por momentos de felicidade, e também por momentos de tristezas, medos, entre outros. É nesse espaço que a criança se constrói como sujeito e vai compreendendo que no meio em que vive, existem regras e normas a serem cumpridas.

Assim o art. 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990, p.15) afirma:

Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.
A escola é o espaço de construção e socialização do conhecimento, a mesma é destinada a cuidar e educar a criança. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 2001. p.46): “A escola, por ser uma instituição social com propósito explicitamente educativo, tem o compromisso de intervir efetivamente para promover o desenvolvimento e a socialização de seus alunos”.
Nesse sentido, pode-se afirmar que a escola não deve viver sem a família e esta sem a escola, pois ambas se complementam e precisam estar em harmonia, desenvolvendo um lugar agradável e afetivo para seus filhos/estudantes, uma vez que escola e família devem trilhar um mesmo objetivo.
A presença da família na escola é de suma importância não só para a criança, como também para o professor. Essa presença é tão importante que o MEC (Ministério da Educação) criou o Dia Nacional da Família na Escola, comemorado na data de 24 de abril. Nesse dia, todas as instituições escolares são estimuladas a convidar os familiares dos alunos, para participarem de palestras, reuniões e atividades educativas, envolvendo os pais cada vez mais na educação de seus filhos.
É nesse cenário de alegria e de prazer que a família deve estar engajada na escola, participando da vida escolar de seus filhos, mostrando que eles são importantes e que merecem carinho e atenção. Vale ressaltar que essa parceria entre escola e família envolve comprometimento, responsabilidade e colaboração de ambas as partes, pois o que a escola e a família almejam é o melhor para seus filhos/estudantes.
Segundo algumas bases teóricas que investigam a relação família e escola, a exemplo de: (FURLANETO, MENESES E PEREIRA, 2007), (FREIRE, 1979), (MIELNIK, 1974), (CARVALHO, 2004) e (GENTILLE, 2006), uma criança que tem a presença da família na sua vida escolar, é bem provável que a mesma tenha um bom desempenho na escola, e quando a família permanece ativamente presente na vida da criança, quando os pais não jogam a total responsabilidade de educar exclusivamente na escola, o percentual dessa criança ter um desenvolvimento educacional de qualidade é enorme.
Uma vez estabelecida a parceria escola e família, ambas devem compreender que igualmente são responsáveis pelo processo formativo do estudante, e que essa união só contribuirá para o desempenho deste, em seu processo de escolarização.

Dialogando com a teoria
A escola e a família compartilham funções educacionais sociais que influenciam no desenvolvimento humano de cada indivíduo. A escola é um ambiente de aprendizagens, buscas, questionamentos, diferenças e sentimentos que norteiam a vida do estudante.
O sistema educacional deve se constituir como um ambiente multicultural que apresenta inúmeras diversidades entre os estudantes, que retratam vontades, interesses, pensamentos e intenções variadas, preparando-os para a inserção na sociedade, para superar dificuldades, e buscar seus direitos como cidadão, contribuindo para o desenvolvimento do indivíduo, como sujeito ativo na sociedade (DESSEN & POLONIA, 2007).
Quando se faz referência ao termo escola, considera-se que esta é uma instituição sólida na sociedade, onde estão inseridos indivíduos de todas as classes sociais, de culturas diferentes e com perspectivas de cumprir o que nela está estabelecido. (PENIN, 1995).
A escola é uma instituição fundamental na vida de todo indivíduo, pois é nesse âmbito que aprendemos a nos relacionar com o outro, a cumprir regras, a desenvolver atividades e a nos comportar em sociedade. (DESSEN & POLONIA, 2007).
Nessa perspectiva, percebemos a importância da instituição escolar como aquela que está inserida no contexto histórico-social dos indivíduos, de modo estruturada, organizada e envolvendo o currículo em todas as suas instâncias, como retrata (DESSEN & POLONIA, 2007. p.7):

Em síntese, a escola é uma instituição em que se priorizam as atividades educativas formais, sendo identificada como um espaço de desenvolvimento e aprendizagem e o currículo, no seu sentido mais amplo, devem envolver todas as experiências realizadas nesse contexto.

Ou seja, o papel da escola é formar o cidadão critico reflexivo para atuar na sociedade como um ser ativo. A escola juntamente com o seu corpo docente transmite ao aluno conhecimentos e ensinamentos de que os estudantes precisam para viver no mundo globalizado e na sociedade moderna que vivemos.
E para que isso aconteça, é necessário o trabalho e a dedicação do professor para mostrar a importância e o papel dos indivíduos na sociedade, como cidadão crítico, atuantes e conscientes de seus direitos e deveres. Tal instituição deve dar ao estudante condições de se inserir no meio social, orientando-o a prosseguir nos seus estudos e buscar sempre novos horizontes.
Nessa perspectiva, com base na leitura dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 2001. p. 45):

[...] Se concebe a educação escolar como uma prática que tem a possibilidade de criar condições para que todos os alunos desenvolvam suas capacidades e aprendam os conteúdos necessários para construir instrumentos de compreensão da realidade e de participação em relações sociais, políticas e culturais diversificadas e cada vez mais amplas, condições estas fundamentais para o exercício da cidadania na construção de uma sociedade democrática e não excludente.

Como podemos ver, os PCNs apresentam esse compromisso para a escola desenvolver um trabalho satisfatório e democrático, através do qual os estudantes possam exercer seus direitos e deveres como sujeitos críticos e participativos na sociedade.
Nessa perspectiva, caracteriza-se a escola como a instituição que é responsável pela educação escolar e conduz os estudantes á socialização, ao desenvolvimento intelectual, realizando um trabalho coletivo, voltado para a construção do ser cidadão, exercendo a cidadania e aprimorando o conjunto de valores que está intrínseco ao ser humano, assim como a família também é responsável por desenvolver esses valores como afirma Gentille (2006, p.35):

A família é o primeiro grupo com o qual a pessoa convive e seus membros são exemplos para a sua vida. No que diz respeito á Educação, se essas pessoas demonstrarem curiosidade em relação ao que acontece em sala de aula e reforçarem a importância do que está sendo aprendido, estarão dando uma enorme contribuição para o sucesso da aprendizagem. Pode parecer simples, e é. Tanto que é exatamente o que tem sido pedido aos responsáveis pelos estudantes de todos os níveis de ensino.

Dessa forma, tanto a escola como a família tem os mesmos interesses, devem estar unidas e estabelecerem parceria, pois ambas assumem a responsabilidade de educar seus filhos/estudantes.
A partir da leitura de Furlaneto, Meneses e Pereira (2007, p.64) compreendemos que: “De um modo cada vez mais significativo, a escola (lugar de lazer) passa a assumir a responsabilidade, cada vez maior, de ser, na sociedade, o campo especifico da Educação intencional, formal e sistemática”.
Nessa perspectiva, percebemos a responsabilidade que é atribuída a escola em educar o sujeito praticamente sozinha, mas sabemos que a família deve se responsabilizar e cumprir com o seu dever de educar também o seu filho. Como afirma Carvalho (2004. p.47):

A educação tem um papel fundamental na produção e reprodução cultural e social e começa no lar/família, lugar da reprodução física e psíquica cotidiana – cuidado do corpo, higiene, alimentação, descanso, afeto, que constituem as condições básicas de toda a vida social e produtiva.

Assim, é na família que a criança começa a se relacionar com o meio social, aprendendo e entendendo aos poucos como se estabelece a sua vivência, compreendendo pequenas noções de como se constitui uma família, o que pode ou não fazer, desenvolvendo seus sentimentos e entendendo como se constrói o seu contexto histórico social.
A família é a base fundamental na vida de qualquer indivíduo. Constitui-se uma instituição importante na formação e educação dos filhos. Desse modo, a família deveria cumprir o seu papel, como parte essencial no processo ensino-aprendizagem do seu filho e considerar que a educação deste é de sua responsabilidade.
Desse modo, a família deveria educar os filhos desde pequeninos e mostrar como deve ser seu comportamento na sociedade, impondo limites, dizendo não quando necessário e sim no momento certo, não deixando toda a responsabilidade para a instituição escolar, como afirma (OLIVEIRA, 2007. p. 175):

Historicamente, a família tem sido considerada o ambiente ideal para o desenvolvimento e a educação de crianças pequenas. Essa é a posição de alguns sistemas educacionais, que sustentam que a responsabilidade da educação dos filhos, particularmente quando pequenos, é da família, e assumem um papel de meros substitutos dela, repetindo as metas embutidas nas práticas familiares.

Como sabemos a educação não começa apenas no âmbito escolar, mas se inicia em casa, com a família, com a interação entre seus membros e com o desenvolvimento de relações que se estabelecem entre eles. Nesse sentido, Mielnik, (1974, p.27), reforça a nossa discussão quando diz:
Desde que nasce está a criança praticamente observando o meio ambiente para começar cedo a sua aprendizagem, suas tentativas, erros e acertos. Nesse trabalho, árduo e contínuo, a criança é auxiliada e estimulada pelos pais, que visam facilitar seu desenvolvimento. A família é, pois o meio social que inicia a educação do indivíduo.

Nessa perspectiva é no espaço familiar que a criança começa a se desenvolver, mostrando suas vontades, seus desejos, criando ideias e descobrindo os seus sentimentos. E para que aconteça realmente a parceria entre escola e família, esta última deve estar envolvida no desenvolvimento escolar de seu filho, como afirma: (CARVALHO, 2004. p.44):

Do ponto de vista da escola, envolvimento ou participação dos pais na educação dos filhos e filhas significa comparecimento ás reuniões de pais e mestres, atenção á comunicação escola-casa e, sobretudo, acompanhamento dos deveres de casa e das notas.
Nesse sentido, a família deve cumprir seu papel, estando atenta a educação dos filhos, apoiando-os, incentivando-os e comprometendo-se a ajudar a escola no que for necessário para a melhoria de suas aprendizagens.
A escola e a família são duas instituições que desempenham importante papel na socialização da criança. A escola transmite conhecimentos científicos, desenvolve as capacidades cognitivas, estimula o interesse do estudante em aprender, refletir sobre acontecimentos na sociedade e trabalha para formar cidadãos, que exerçam seus deveres e lutem por seus direitos, tornando-se sujeitos ativos no meio social.
A família é o alicerce para o indivíduo, lócus em que ele encontra confiança e apoio. Ela é responsável pela segurança, proteção, afeto e cuidado da criança; características intrínsecas à cultura de cada grupo. As práticas e os saberes acumulados por cada família são repassados para os indivíduos desde o nascimento, mostrando o modo de como a família pensa e reflete sobre o meio em que vive.
A partir desse entendimento fica visível a importância de se trabalhar com essas duas instituições unidas, pois o compromisso de ensinar e de educar não compete apenas à escola, mas a família também tem que fazer a sua parte. A escola deveria encontrar na família um apoio, uma aliada para juntas trabalharem numa mesma perspectiva e desenvolver resultados satisfatórios. Ambas deveriam lutar para beneficiar o estudante com uma educação que o desenvolva em suas potencialidades.
É com o envolvimento entre escola e família que o trabalho entre ambas começa a fluir na perspectiva da melhoria da educação das crianças, por isso a importância da escola abrir as portas para a família e que essa também aceite a parceria, participando realmente da vida escolar de seus filhos.
Com isso, o compromisso é a palavra chave para que a parceria escola e família seja efetivada. Quando a família cumpre o seu papel e estabelece um vínculo de compromisso com a escola, ambas começam a se entender e progredir no desenvolvimento de um trabalho educativo satisfatório e de qualidade em prol do estudante.
Nesse sentido, é importante destacar o que Freire (1979. p.21) diz: “Na medida em que um compromisso não pode ser um ato passivo, mas práxis – ação e reflexão sobre a realidade, inserção nela, ele implica indubitavelmente um conhecimento da realidade”.
Desse modo, para que a família esteja em parceria com a escola, ela necessita conhecer o ambiente em que seu filho está inserido. Conhecendo a realidade que o estudante vivencia, a família pode e deve comprometer-se em melhorar a educação do seu filho.
Quando falamos na relação escola e família, falamos também na divisão do trabalho com a educação de crianças e jovens, envolvendo participação, compromisso e responsabilidade dessas duas instituições, com a perspectiva de promover o sucesso escolar dos estudantes (CARVALHO, 2004).
Há várias maneiras de trazer a família para o espaço escolar como: definir os eixos que podem se comunicar, convocar reuniões, convidar os pais ou responsáveis para conversar sobre o progresso ou não de seus filhos, promover palestras e debates, enfim, mostrar para a família, que ela é importante e que a escola precisa de seu apoio para conquistar o sucesso escolar do estudante. Completando essa afirmação, Mielnik (1974. p.32) diz:

Os pais devem ser solicitados pela escola, apoiados, estimulados e frequentemente aconselhados, afim de que cooperem e completem a ação educativa escolar, mantendo a mesma atitude de cooperação, e estímulo no ambiente familiar.

Dessa forma, a escola necessita da relação com a família, pois os professores precisam conhecer o meio sociocultural vivenciado pelos seus estudantes, para poder compreendê-los e respeitá-los, destacando o apoio da família para efetivação da aprendizagem dos seus filhos.
Uma simples conversa entre professores e pais nas reuniões, pode ser o início de uma parceria entre escola e família. Quando há o diálogo, os pais falam e opinam referente a educação dos filhos, essas informações são de grande valor na tentativa do professor entender melhor seu aluno e com essa aproximação poder influenciar de forma satisfatória na aprendizagem do estudante.
Vale ressaltar que a participação dos pais na escola influencia o desempenho escolar do seu filho, pois quando há motivação, interesse e compromisso destes na educação dos filhos, eles se sentem mais animados e desempenham maior progresso em seus estudos. (CARVALHO, 2004).
Assim, com essa parceria estabelecida, escola e família poderão trabalhar em uma mesma linha, planejando, educando e formando um sujeito livre, um cidadão crítico e atuante em nossa sociedade, desenvolvendo uma educação de qualidade recebida tanto na escola, como na família.

Bibliografia

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Secretária Especial dos Direitos Humanos; Ministério da Educação. Brasília: MEC, ACS, 1990.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução, vol. 1, Secretária de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 2001.
CARVALHO, Maria Eulina Passoa de. Modos de educação, gênero e relações escola-família. In: Caderno de Pesquisas, São Paulo, n. 121, p. 41-57, jul. 2004.
DESSEN, Maria Auxiliadora; POLONIA, Ana da Costa. A família e a escola como contextos de desenvolvimento humano. Paidéia. V. 17 n.36. Ribeirão Preto. Jan/abr. 2007. Disponível em: http://www.scielo.br. acesso em 17/03/12
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Tradução; Moacir Gadotti e Lillian Lopes Martin. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
FULANETO, Ecleide Cunico; MENESES, João Gualberto de Carvalho; PEREIRA, Poliguara Acácio. (Orgs). A Escola e o Aluno. São Paulo: Avercamp, 2007.
GENTILLE, Paola. Nova Escola: A revista de quem educa. Escola e Família. Belo Horizonte: Positivo, 2006, p.32-39.
MIELNIK, Isaac. Problemas de pais e mestres: Relações humanas no lar e na escola. 2.ed. São Paulo: Edart, 1974.
OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Educação Infantil: fundamentos e métodos. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
PENIN, Sônia. Cotidiano e escola. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995

Publicado em 05/11/2013 15:24:00

Currículo(s) do(s) autor(es)

Juliana Cesário Ferreira - (clique no nome para enviar um e-mail ao autor) - Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal De Campina Grande – UFCG, cursando Especialização em Psicopedagogia pela Faculdades Integradas De Patos – FIP, trabalha na educação de jovens e adultos.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Familia disfuncional e Transtorno de Bordeline


A Família Disfuncional e o Transtorno Borderline


A medida que eu fui ganhando estabilidade emocional, pude entender também a dinâmica da minha família. Porque é muito difícil para uma pessoa conseguir enxergar determinados comportamentos dentro da família quando você mesmo é uma dessas pessoas que tem um papel que mantêm essa família disfuncional em funcionamento.

Eu sempre senti que carregava um peso muito grande nas minhas costas e sendo eu um dos pilares que sustentava essa “harmônia” da minha família disfuncional, era quase impossível questionar se esse peso todo que eu carregava (como culpa, raiva, frustação, sentimentos de vazio) era meu de verdade ou se parte desse peso era uma imposição para que eu fizesse parte da família.

Então eu fui atrás de informações sobre essa família que “não funciona bem” ou melhor, não funciona de forma saudável. Vamos entender primeiro o que é essa família disfuncional.

A família disfuncional não consegue se comunicar de uma forma aberta. Numa família saudável os sentimentos podem ser expressados e não existe um “vencedor”, ou seja, todos os pontos de vista e sentimentos são levados em conta na comunicação familiar. Na família disfuncional isso não acontece, as pessoas não conversam olhando nos olhos, a empatia falha e prevalece a intolerância, um ponto de vista único que deve ser aceito por todos os indivíduos da família.

No site “Boa Saúde”da UOL, há uma matéria que diz:

Sempre que se fala em família disfuncional, estamos falando de doença nas famílias. Assim, temos todo o funcionamento familiar envolvido nesse problema”. Alguns autores psicanalistas, como José Bleger e Eduardo Kalina, desenvolveram bastante a questão das dinâmicas familiares. Pode-se falar em dois modelos básicos de desestruturação nas relações familiares: “há as famílias ‘cindidas’ e as famílias ‘simbióticas’”.

Nas primeiras, os membros das famílias não conseguem se relacionar entre si. Encontram-se divididos, dispersos. Funcionam e se relacionam como se, ao ficarem juntos, todos corressem riscos do ponto de vista emocional. Assim, as pessoas não podem ter um relacionamento afetivo, são frias entre si. A doença dessas famílias cindidas está na dificuldade de convívio. Os membros percebem que ao conviverem entre si eles se machucam e se afetam negativamente, uns aos outros.
Já no extremo oposto, temos as famílias simbióticas, aquelas em que os membros da família vivem num estado de fusão. Não há diferenciação entre os papéis familiares, estes são confusos e não divididos. As pessoas sentem dificuldades em viver independente dos outros membros da família, estão num estado de constante ‘grude’. Em ambos os casos, está-se falando de doenças familiares do ponto de vista do desenvolvimento afetivo, inter-relacional e de organização psíquica.”

Para que vocês possam entender ainda melhor, vamos olhar algumas “regras” (não faladas, mas que estão impostas) que podem haver numa família disfuncional:

- Faça o que “pareça bom”, ainda que não seja honesto

- Não perturbe e não afunde o barco

- Negue coisas que você não quer ver, e elas Irão embora

- Faça o que eu digo, ainda que eu faça o oposto

- Expresse somente bons sentimentos

- Não é certo sentir raiva ou tristeza

- Você nunca deve questionar o nosso comportamento e sim aceitá-lo

- Você deve se conformar com o que esperamos de você, aconteça o que acontecer

- Sua necessidades não são mais importantes que nossas necessidades

Agora veremos algumas crenças e traços da personalidade de adultos criados em famílias disfuncionais:

- Eles se sentem diferentes de outras pessoas e alguns acham que por alguma razão estão sendo punidos pela vida ou (para quem acredita) por Deus.

- Eles tem dificuldade para confiar nas pessoas

- Eles julgam a si mesmos e ignoram suas próprias necessidades

- Sentem muita culpa

- São “viciados em sinais de aprovação”, constantemente buscando afirmação

- Eles tem dificuldade em sentir, identificar e expressar emoções

- Eles tem medo de pessoas com raiva ou de criticas pessoais

- Normalmente tentam controlar circunstâncias e relações e reagem de forma extrema a mudanças pelas quais não possuem nenhum controle

- Costumam sentir-se desesperados, presos e vitimizados

- Farão qualquer coisa para evitar dor e abandono

- Tem dificuldades para terminar projetos

- Podem ser impulsivos

- Tem tendência a adicção de drogas

Então… o que tem o Transtorno Borderline a ver com a dinâmica da família disfuncional? Acho que eu não preciso dizer, não é?

Sei que o texto é grande, mas agüentem só mais pouco porque se vocês chegaram até aqui é porque talvez tenham se identificado com o tema e agora vem a parte dos papéis que a família escolhe para determinadas pessoas.

Esses papéis são imprescindíveis para que a família disfuncional possa sobreviver e manter seu “equilíbrio”. Normalmente eles são impostos na infância, porém, na vida adulta, o indivíduo continua a cumprir o mesmo papel. Quando a pessoa decide deixar o papel, a família tenta manter-lo ou substituir-lo por outra pessoa.

Vou colocar 4, mas existem outros:

O Herói: O herói costuma ser a criança mais velha. Ele é caracterizado por sua super-responsabilidade e conquistas. O herói permite que a família se assegure de que tudo está indo bem, já que pode sempre olhar para as conquistas do filho ou filha mais velho como uma fonte de orgulho e auto-estima. Os pais usam o herói como prova de que eles foram bons pais. Enquanto o herói pode ser um excelente aluno na escola e um líder nos esportes ou um empregado bem pago e sucedido, ele ou ela estão sofrendo de uma grande dor emocional e sentem culpa, como se nada que ele ou ela fizessem fosse bom o suficiente para curar a dor da família. A compulsão do herói por sucesso pode se transformar em estress e trabalho compulsivo. As qualidades do herói de ser o que ajuda e que cuida da família chama atenção positiva à pessoas que estão fora da família. Mas, apesar disso, o herói se sente isolado e incapaz de expressar seus verdadeiros sentimentos e experimentas intimidade nas relações.

O Scapegoat ou Bode Expiatório: (como eu fui o scapegoat na minha família, tenho mais material sobre isso. Quem quiser mande e-mail que eu envio o material): é normalmente o segundo filho. É caracterizado por seu comportamento agressivo, mas na verdade ele ou ela estão sofrendo porque a atenção positiva da família quase não existe ele tem sido ignorado. O bode expiatório costuma ir mal na escola, pode experimentar drogas, se envolver em relações caóticas como um pedido de socorro. Ele é um indivíduo que a família quer esconder. Por ele prefere chamar a atenção negativamente do que não ter atenção nenhuma. É normalmente a criança mais sensível e seus sentimentos são feridos facilmente. A família, para poder senti-se “sã”, usa o scapegoat como o representante de tudo que eles não querer ser e na verdade são. O scapegoat normalmente desenvolve problemas mentais. E sendo ele “doente”, a família pode ser “normal”. Assim eles escondem seus problemas psicológicos usando o scapegoat. A criança que é escolhida como scapegoat é aquela que “não faz nada certo”. Essa criança é vista como a culpada de tudo que é indesejável e ruim. Alguns scapegoats entram na armadilha de tentar cada vez mais e mais se redimirem nos olhos da família, para que eles possam finalmente serem respeitados e apreciados por quem eles realmente são. Porém, aos olhos da família, eles nunca poderão ser bons o suficiente e nessa tentativa em vão eles acabam se destruindo ou vão embora para longe da família. Alguns sucumbem ao papel de “problemático” e se comportam de forma oscilante, já que eles sempre só recém atenção negativa. Assim desistem de tentar agradar a família e se tornam realmente pessoas agressivas e se comportam como vitimas. O Scapegoat normalmente acorda tarde para a vida e só depois de muito tempo percebe que as coisas não eram como deveriam ser, e que o problema não era sua falta de esforço para conseguir respeito da família e que se ele não aceitasse o papel que recebeu, poderia conseguir respeito fora da família disfuncional.

A criança perdida: É caracterizada pela timidez, solidão e isolação. Ele ou ela se sentem como um estranho na família, ignorado pelos pais e familiares e sentindo-se sozinho. A criança perdida busca a privacidade da sua própria companhia para estar longe do caos familiar e pode ter uma vida rica em fantasia, dentro da qual, ele ou ela mergulham. A criança perdida normalmente tem pouca habilidade comunicativa, dificuldade com a intimidade e em relações. E pode ter confusões ou conflito a respeito da sua orientação sexual e sua função. Essa criança pode estar buscando atenção ficando doente. Essa criança pode tentar cuidar de si mesma se comportando de maneira compulsiva, levando a problemas como obesidade, uso de drogas, etc. A solidão a criança perdida pode levar a problemas mentais e baixa auto-estima. Ele ou ela costumam ter poucos amigos e tem dificuldade em encontrar um parceiro para as relações amorosas.

O mascota: Esse papel se manifesta como o indivíduo que faz “palhaçada”, é divertido, hiperativo. O mascota é normalmente a criança menor e busca ser o centro das atenções na família (piadinha interna: eu tentei ser a mascota, mas já tinham o papel de bode expiatório prontinho pra mim), normalmente é aquele que entretém os familiares fazendo com que todos se sintam melhor com sua comédia e suas piadas. Porém o mascota pode estar sendo super protegido dos reais problemas da vida. Ele experimenta intensa ansiedade e medo e persiste em comportamentos imaturos quando se torna um adulto. Ao invés de lidar com os problemas , o mascota foge deles mudando de assunto e fazendo piado. Ele usa a diversão para gerar risos no seu circulo de amigos, mas normalmente não é levado a sério ou não recebe bem rejeição e criticas. Ele normalmente tem dificuldade em concertar-se e focar-se e pode desenvolver déficits de aprendizagem. Ele também sente medo de olhar honestamente para seus sentimentos e/ou comportamentos, portanto não está nunca em contato com eles. A atividade social frenética do mascota expressa na verdade um mecanismo de defesa contra sua intensa ansiedade e tensão interior. A incapacidade em ligar com esses sentimentos pode levá-lo a pensar que está louco. Se essa ansiedade e desespero não forem tratados, não é incomum que o mascota desenvolva uma doença mental, se torne dependente de drogas ou até mesmo cometa suicídio.

O que é dislexia

O que é dislexia?



A dislexia é uma dificuldade de leitura e escrita que pode afetar também a percepção dos sons da fala e se manifesta inicialmente durante a fase de alfabetização. É uma condição de aprendizagem de base genética, ou seja, tem natureza hereditária. Existem vários genes envolvidos nesta condição e pesquisadores no mundo todo estão trabalhando para identificar quais são esses genes.
A dislexia consta da Classificação Internacional de Doenças (CID) que descreve suas características e sintomas. Entretanto, o Instituto ABCD prefere abordá-la como um transtorno de aprendizagem persistente e inesperado, pois a criança não apresenta deficiências intelectuais nem sensoriais. As dificuldades podem ser minimizadas utilizando-se métodos pedagógicos alternativos, que se adaptam às dificuldades e necessidades da criança.

Estima-se que 4% da população brasileira tenham dislexia. Portanto são mais de 7 milhões de pessoas convivendo com o problema.
Se um dos pais tiver dislexia, obrigatoriamente os filhos também terão?

Não. A herança genética aumenta a tendência para desenvolver a dislexia, ou seja, é maior a probabilidade da criança apresentar o problema caso um dos pais seja portador. Mas, se ela tiver dislexia, vários fatores podem contribuir para atenuar ou reforçar os sinais, como o estímulo que ela tem em casa e o ambiente sócio-cultural, que pode oferecer a ela recursos para lidar com suas dificuldades. O ambiente vai moldar esta tendência genética. Por isso mesmo em gêmeos idênticos a manifestação pode ser diferente.
Quais são os sinais da dislexia?

Leitura com erros de reconhecimento das palavras, leitura não fluente de textos e com alteração de ritmo e entonação (por exemplo, leitura de sílaba por sílaba), dificuldade de compreensão de textos, escrita com erros de ortografia, inversão de letras e/ou sílabas, leitura e escrita com rendimento abaixo do esperado para a idade e a escolaridade. A intensidade dos sintomas varia caso a caso.
Como é feito o diagnóstico?

Ao ser identificada a dificuldade para o aprendizado da leitura e da escrita, a criança é encaminhada para a avaliação de uma equipe multidisciplinar composta, em geral, por um neuropediatra, um fonoaudiólogo e um psicólogo que farão as avaliações específicas. São aplicadas provas e testes para avaliar o nível de leitura, o vocabulário e habilidades específicas, como memória, atenção e velocidade de processamento.
Existem diferentes níveis de dislexia?

Sim. Atualmente, considera-se mais correto pensar em uma escala de desempenho contínuo que vai desde casos leves até os severos. Em casos leves, por exemplo, ocorrem alguns erros na escrita e a compreensão de texto é possível após algumas leituras. Já em casos graves, há pessoas que não conseguem ser alfabetizadas porque não conseguem ler ou escrever, mas, ainda assim, compreendem textos se alguém fizer a leitura para elas e conseguem fazer uma redação ditando para um digitador. De qualquer maneira, é importante fazer o diagnóstico correto, pois algumas dificuldades leves podem ser decorrentes de uma alfabetização mal feita.
Como é o tratamento?

Não há prescrição de medicamentos, e, sim, adaptações pedagógicas aliadas ao atendimento especializado. O tratamento varia de acordo com a dificuldade e a idade da criança ou do jovem. Algumas crianças conseguem se alfabetizar apesar das dificuldades, utilizando figuras e outros elementos visuais e contando com o estímulo dos pais e professores para melhorar a compreensão, por exemplo. Uma forma de fazer isso é conversar sobre o que foi apresentado, seja um filme, uma peça de teatro ou outro recurso. São coisas simples que podem ser feitas no dia a dia.

Algumas crianças não conseguem ler nem palavras isoladas e, nestes casos, é necessário desenvolver o conhecimento das letras, das sílabas e assim por diante. A resposta ao tratamento depende da condição geral da criança com dislexia, do estímulo que ela tem em casa e na escola, da motivação pessoal etc.
Quem é o profissional responsável pelo tratamento?

Dependendo da dificuldade da criança, ela pode precisar de acompanhamento especializado de um psicólogo, psicopedagogo ou fonoaudiólogo. Entretanto, o tratamento não acontece apenas no contexto da clínica. É necessário o envolvimento da família e dos professores para estimular continuamente a criança.
É possível prevenir a dislexia?

Por se tratar de uma doença genética, não é possível prevenir seu surgimento. Mas o diagnóstico precoce e a aplicação de atividades específicas podem minimizar os sintomas. Além disso, quanto antes o transtorno for diagnosticado, menor será a defasagem escolar e os impactos emocionais da criança com dislexia.
A dislexia pode vir acompanhada de outros transtornos?

Sim. A base genética comum favorece o surgimento de outros transtornos de aprendizagem, como a discalculia (dificuldade em aprender e manipular conceitos matemáticos), a disortografia (dificuldade no aprendizado e desenvolvimento da linguagem escrita expressiva), a dispraxia (que afeta a noção de espaço, coordenação e habilidade motora). O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) não é considerado um transtorno específico de aprendizagem, mas, pode afetar o desempenho escolar quando o grau de desatenção é grande, e neste caso o tratamento com medicamento pode ser recomendado. Quando há mais de um transtorno associado considera-se uma comorbidade.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Adolescentes viajando sozinhos. O que os pais devem fazer ?

Entrevista de Carmem Fidalgo, psicopedagoga, cedida a repórter da Disney sobre o que os pais devem fazer quando seus filhos viajam sozinhos.


Entrevista Helena Dias



http://www.disneybabble.com.br/



1- Com que idade é comum que os adolescentes queiram viajar sozinhos?
A idade apropriada para viajar sozinho é quando o adolescente sente que esta pronto a ousar, aventurar-se. Essa manifestação costuma ocorrer entre 12 e 15 anos de idade, é quando o jovem experimenta uma inquietude, impulsionado a descobrir o mundo, saindo do seu entorno, de sua zona de conforto, quer alçar seus próprios voos, sair do ninho, explorar o novo. A companhia dos pais nesta nova fase faz com que o adolescente fique embaraçado perante os amigos, porque sente (emocionalmente) estar apto para a vida, porém os pais devem esperar que os filhos manifestem sua vontade em viajar sozinho, mesmo que o apego familiar seja intenso, é sempre bom o incentivo familiar, filhos apoiados pelos pais, são seguros e se tornarão adultos autônomos.
2- Os pais devem permitir?
Sim, os pais devem permitir que seus filhos viagem sozinhos, é um exercício de autonomia, que contribuirá, em muito, para o crescimento individual, intelectual e emocional de seus filhos; Entretanto existem alguns pré-requisitos que os pais devem considerar, tais como: a confiança na relação existente entre eles, construída no cotidiano, o comportamento junto aos amigos, escola, em eventos sociais, se cumpre os compromissos, horários, e, se essa relação for sólida, seu filho acatara suas recomendações quando estiver longe, embora haja uma rebeldia inerente ao adolescente, os pais devem avaliar a responsabilidade, a maturidade emocional, desenvoltura para pedir informações, ou seja, se sabe cuidar-se sozinho.
3- Como deve ser a conversa sobre esse assunto?
A conversa deve ser honesta, sem subterfúgios, dialogo claro e objetivo trás resultados positivos, pais e filhos precisam avaliar ações, comportamentos, se é cumpridor de seus deveres, se corresponde aos limites atribuídos, como se comporta fora de casa, como lida com a saudade, com dinheiro, se o jovem é responsável pelos seus atos e consequências, se existem princípios internalizados em como lidar com bebidas alcoólicas, drogas, pois estará longe de tudo que lhe é familiar e não terá com quem contar. Se o adolescente apresenta essas condições, se existe confiança familiar, e certeza na educação que lhe foi dada ao longo da vida, o quadro é favorável para que tudo transcorra com tranquilidade. Após todas as questões avaliadas e com tempo para reflexão, a família decidirá se aprova ou não a viagem, pois as regras que valem em casa devem valer para a viagem também, e, é extremamente importante que haja consenso, reflexão e confiança.
4- Quais cuidados os pais devem ter ao deixar os filhos viajarem sem supervisão?
A viagem deve ser planejada com antecedência, documentação prevista por lei (passaporte, Rg, autorização dos pais ou responsáveis), é importante que os pais tenham uma cópia desta documentação, e o adolescente também possua na bagagem uma cópia. O numero do voo, telefone da companhia aérea, se irá viajar individualmente, averiguar hospedagem, roteiro de viagem, caso seja por agencia, se a empresa é idônea, se possui recomendações positivas, são providencias práticas que requerem muita atenção, a fim de evitar contratempos. Os pais devem ter anotado o endereço e o telefone fixo do local onde o jovem ficará instalado. Particularmente tome algumas precauções se faz uso de algum medicamento. Calcule a quantidade necessária de roupas, não leve objetos valiosos, como relógios e joias, leve somente o necessário. Os pais devem orientar os filhos em como agir em situações adversas, o que fazer se for assaltado ou perder os documentos, quem procurar nessas situações, telefones úteis (policia, bombeiros, resgate, embaixada de seu país de origem) localização de hospitais. É necessário também repassar regras de segurança, como não andar sozinho em locais escuros e desertos, obter informações do lugar onde o passeio irá ocorrer. Embora pareça excesso, prevenção, indica pró-atividade, excluindo os perigos que podem ocorrer em qualquer lugar, em casa ou longe, acidentes acontecem.
5- Como os pais devem orientar os filhos para que não cometam excessos?
Os cuidados recomendados para a viagem deve ser uma extensão da educação que o adolescente recebeu em casa, pois não existem princípios adquiridos de imediato, imprevistos acontecem, portanto outro aspecto que os pais devem reforçar e orientar seus filhos a não usarem bebidas alcoólicas, ir a festas de desconhecidos, a não aceitar bebidas e comidas oferecidas por pessoas estranhas, não comprar objetos fora do centro comercial, respeitar as prevenções básicas de segurança, tendo cuidado consigo próprio, já que não conhece o lugar e os costumes, e, prudência e cautela nunca fizeram mal a ninguém.
6- E durante a viagem? Os pais devem ligar sempre? Controlar de que forma o que os filhos fazem?
Os pais precisam conter a ansiedade e a preocupação (ao menos tentar), e lembrar que é só uma viagem de férias, e seus filhos estão lá para divertir-se, não ligar a toda hora, combine um horário, de manhã ou à noite, e faça todas as perguntas que lhe tragam tranquilidade, como esta se alimentando, esta gostando do lugar, teve algum desconforto físico. Aja com naturalidade, seja sutil nas perguntas para averiguar o que seu filho tem feito; Mostre apenas seus cuidados e amor e não seus medos, não tente controlar as ações do adolescente, não cause conflito, uma vez que ele perceba, poderá mentir, acarretando outras situações, expresse confiança, isso fará com que se sintam mais protegidos. Inseguranças, choro, demonstração exagerada de saudade podem contaminar seus filhos e, isso não é positivo em nenhuma circunstância, apenas se tranquilize e deixe que aproveite a viagem.
7- E em relação ao dinheiro? Como os pais devem "liberar a verba" para a viagem?
Se tudo foi acertado previamente, os cálculos para despesas foram feitos, bem como para alguns presentes e emergências, se isso foi muito bem conversado, questões financeiras não serão problemas, se os pais incluíram uma educação financeira adequada em seu cotidiano, não haverá excessos, porém as “tentações” estarão expostas, cabe aos pais lembrarem aos filhos a importância no domínio da ansiedade, e dos impulsos, já que é tudo diferente, bonito, e, que isso é um convite ao consumismo. Cartão pré-pago é sempre a melhor solução, uma vez que existe um limite a ser gasto, e evita consumo em excesso, porém é necessário dinheiro em espécie, e este deve ser usado com moderação. O adolescente estará no lugar para se divertir e brincar, o dinheiro trará segurança, garantia que tudo ocorrerá como previsto. Dinheiro em demasia não é sinônimo de diversão, todo exagero é prejudicial. Uma viagem bem planejada só traz felicidades. Depois de todas as questões definidas, abrace seu filho, acredite que tudo acontecerá como o planejado e terá uma boa viagem e deseje que ele faça como o Buzz Lightyear “Ao infinito e além” ...





Carmem Fidalgo
Psicopedagoga




Contato: carmemfidalgo@gmail.com
http://www.carmemfidalgo.blogspot.com.br

Método e Controle

COMPROMETIMENTO, MÉTODO E CONTROLE: A LIÇÃO DE BENJAMIN FRANKLIN GESTÃO DO TEMPO Benjamin Franklin, inventor, estadista, escritor, editor...