sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Violência Escolar

Violência Escolar

Fontes primárias da violência escolar
Por Chafic Jbeili – psicanalista e psicopedagogo

A violência escolar tende a diminuir quando a impositividade ao estudo é substituída pela compreensão do estudar. Ninguém deveria ir para escola antes de entender suas razões para aprender.

Há muito tempo pesquiso, informalmente, as causas mais remotas da violência escolar, motivo de tanto mal estar no sistema educacional, razão para o sofrimento de pais, educadores e educandos. Na multiplicidade de fatores desencadeantes da violência escolar pude abstrair um forte componente, dentre tantos: a impositividade ao estudo.

A fonte primária de toda violência está associada à tentativa de ajustamento do ego por meio de seus mecanismos de defesa. é o sujeito tentando sobreviver! Precisa processar milhões de informações, muitas vezes conflitantes, para se adaptar às imposições do ambiente.

Desta forma, compreendo a violência escolar como uma espécie de refugo da neurose criada pelas demandas de adaptação ao ambiente. A neurose dura até o exato momento em que o ego consegue uma solução para o impasse entre pensamentos contraditórios; e se estabelece justamente quando as defesas do ego falham. Idéias não elaboradas causam irritação.

Mas de onde vem esta irritação? Ela vem da supremacia de uma idéia conflitante com outras idéias anteriormente estabelecidas, a exemplo do princípio político de erradicação do analfabetismo e a falta de interesse pelo estudo por parte do aluno. Como mediador deste processo fadado ao fracasso está o professor mal remunerado, mal amparado tecnicamente e, por isto, mal reconhecido profissionalmente, quando na verdade tem feito milagres.

O Estado que se diz livre e democrático impõe, por força de lei, algumas regras que fazem muito sentido à sociedade como um todo, mas estas regras são, em sua essência, contrárias à natureza humana, causando, portanto, a neurose objeto do conflito de idéias fortes e consistentes, cada vez mais difícil para o ego despreparado sublimar, compensar, racionalizar, enfim, elaborar tal conflito. Daí a ansiedade, o estresse e depressão, considerados doenças do homem moderno e também por isto o estresse tem se antecipado às crianças.

O Governo, por meio de suas leis, determina a obrigatoriedade da pessoa fazer ou deixar de fazer certas coisas e, inadvertidamente, interfere nas escolhas consideradas de foro íntimo e pessoal, a exemplo da quantidade de cônjuges que uma pessoa deve ter; interrupção de gravidez; votar em tempos de eleição; prestar o serviço militar; declarar bens e rendas; idade para iniciar a trabalhar e até mesmo estudar. Estudar é obrigatório no Brasil. Pais podem perder a guarda de filhos que estejam fora do sistema de ensino.

Como é nocivo, em termos psíquicos, a pessoa ser constrangida a fazer algo contrário às suas crenças, vontades ou demandas. Como é revoltante fazer ou deixar de fazer algo por pura imposição. Embora a violência esteja também presente no código genético é no limiar das pressões do ambiente que o sujeito descobrirá uma forma para lidar com a situação opressora, muitas vezes precisando utilizar da força que dispõe, na forma que consegue aplicá-la.

Para a maioria dos estudantes, desde crianças a pós-graduandos, estudar é uma destas coisas que se faz à força, contra a vontade. Basta comparar a energia de expressão das crianças entre o momento de ir para a aula e a hora do recreio ou das férias. Nas aulas de pós-graduação não é diferente, pois boa parte dos acadêmicos está interessada apenas no certificado para melhorar sua renda ou status social, mas poucos os que se dedicam ao estudo e pesquisa.

Toda impositividade, independente de seu agente originário, pode deixar qualquer um com os nervos à flor da pele. Por isso, psiquiatras famosos escrevem livros e enchem auditórios em congressos sobre Educação. Fazem sucesso pregando o amor como alternativa eficiente para se efetivar o processo ensino-aprendizagem.

O amor, neste sentido, é apenas mais uma forma direta e objetiva de compensar a brutalidade da imposição ao estudo, auxiliando o ego destas crianças, adolescentes ou adultos que se vêem obrigados a frequentarem a sala de aula, seja por força de lei, por constrangimento social ou pela necessidade financeira. Repito: Ninguém deveria poder entrar na sala de aula antes de entender suas razões para aprender.

De qualquer forma, toda impositividade suscita desde simples irritação até a ira como resposta e, por conseguinte, o produto final quase sempre será a violência, pois é a forma como a sociedade ensina as pessoas lidarem com situações adversas. Observe as cantigas de crianças, os desenhos animados, os filmes de maior bilheteria. Todos os enredos ensinam e incitam a violência, nenhum enfatiza a moral, a ética e o caráter.

Continuarei a pesquisa sobre violência escolar, mas no momento encerro este texto citando Theodore Palmquistes: “O grande segredo da educação pública de hoje é sua incapacidade de distinguir conhecimento e sabedoria. Forma a mente e despreza o caráter e o coração. As conseqüências são estas que se vê”.

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