quarta-feira, 16 de junho de 2010

Agressividade nos desenhos

Parecer psicológico sobre o desenho animado "Pokémons"

pelo psicólogo Fernando Falabella Tavares de Lima (fernando@netpsi.com.br)




O Desenho Pokémon’s e a Agressividade nas Crianças e Adolescentes

Inicialmente, é conveniente salientar que este texto não tem como base nenhuma pesquisa específica sobre o tema em questão. Até o presente momento não tivemos contato com nenhuma publicação específica relacionando o desenho animado em questão com o comportamento agressivo nas crianças e adolescentes. Convém salientar, ainda, que não estamos fazendo um estudo médico-neurológico sobre possíveis efeitos do desenho animado em questão como desencadeador de possíveis crises epilépticas do tipo fotossensível. Há alguns anos atrás, foram registrados alguns casos desses no Japão, mas até aonde temos conhecimento, o fator desencadeador das crises foi solucionado.

Contudo, é sabido que os programas de televisão, assim como os jogos eletrônicos violentos (videogame e/ou microcomputadores), podem exercer alguma influência sobre o comportamento apresentado por crianças e adolescentes. Procuraremos debater o assunto de forma sucinta, tomando-se como base alguns artigos e pesquisas relacionadas indiretamente a esta questão específica – os Pokémon’s.

Tomando-se por base um trecho de um artigo sobre a influência da mídia em crianças e adolescentes, estudo de 1998, é possível verificar a dificuldade em se concluir a influência de programas de televisão sobre o comportamento de crianças: "O grau de influência da TV no comportamento infanto-juvenil, assim como as conseqüências psicológicas a longo prazo de sua programação não encontram consenso, em face de sua difícil mensuração ou padronização de instrumentos de avaliação e porque se mesclam a outros fatores que influenciam o comportamento e que não podem ser estudados separadamente."

Embora seja muito difícil afirmar que a programação de televisão ou os jogos eletro-eletrônicos possuam relações diretas no comportamento humano, o Professor de Ciências da Computação da Universidade de São Paulo, Valdemar Setzer, afirma que: "Em termos de comportamento, pode-se afirmar que os jogos eletrônicos têm como conseqüência a desumanização e a mecanização do ser humano. O jogador é reduzido às reações típicas de animais reagindo a um estímulo exterior".

Conforme afirma o professor Setzer, as reações dos seres humanos ficam parecidas com a de animais, ou seja, ficam puramente instintivas. Outros estudos, publicados no Estados Unidos, vêm corroborar a opinião do professor, no que diz respeito a pessoas que apresentam predisposição para comportamentos agressivos: "Trinta anos de pesquisas nos Estados Unidos sobre os efeitos da brutalidade na televisão chegaram a duas conclusões. Primeira: a TV estimula comportamentos agressivos em crianças predispostas ou criadas em ambientes hostis. A segunda: ela induz à imitação, influenciando a construção dos valores"

Tomando-se por base essas pesquisa, supracitada, parece não restar dúvidas que para algumas crianças o fato de ficarem o dia todo sentadas à frente da televisão não pode ser produtivo. Não há como afirmar que qualquer manifestação de violência possa ser procedente, diretamente, de uma identificação com algum personagem de filmes ou até desenhos animados. Contudo, fica patente a necessidade de um grande rigor ao se escolher qual programa deve ser liberado para as crianças e em que horários.

Especificamente em relação ao desenho Pokémon’s não há como afirmar que ele traga qualquer tipo de conseqüência danosa à formação moral das crianças. A televisão, assim como todo o mundo está em plena evolução. Cada vez mais as imagens são mais fortes e os enredos dos programas mais elaborados. Não podemos culpar o desenho animado em questão por nada, pois assim como ele, a grande maioria dos programas destinados à criança, de uma forma ou de outra, exploram excessivamente aspectos violentos ou de sexualidade.

Como forma de exemplificar a temática que estamos debatendo, acreditamos que possa ser bastante interessante inserirmos aqui, antes das considerações finais deste texto, algumas das imagens do desenho animado em questão – OS Pokémon’s

N a opinião de um grupo de professores de Psicologia da Universidade de São Paulo, a sociedade deve se conscientizar das questões que envolvem a violência e suas formas de disseminação, buscando a minoração das conseqüências danosas: "O computador, a televisão e o videogame são recursos tecnológicos que a sociedade possui, de forma que seus efeitos positivos ou negativos serão frutos do modo que estes serão utilizados. Cabe à sociedade saber aproveitar os recursos positivos destas tecnologias e, se possível, restringir seus efeitos negativos."

Considerações Finais:

Como foi apontado pelos relatos acima citados, não há como negar o fato de que tanto a programação da televisão, quanto alguns jogos violentos podem exercer uma séria influência no comportamento de crianças e adolescentes que, ao se identificarem com os heróis e personagens, passam a seguí-los muitas vezes como exemplos. Entretanto, não há dados suficientes para se afirmar que o desenho animado "Pokémon’s" exerça uma influência mais danosa ou nefasta do que os outros desenhos do mesmo gênero, gerando comportamento agressivo em seus espectadores.

Realmente a programação infantil da televisão brasileira apresenta muitos desenhos violentos e agressivos, contudo não há como afirmar que esses desenhos geram algum tipo de violência. Vale lembrar que muito antes de existir televisão, portanto bem antes de toda essa polêmica em torno dos programas infantis, nossos antepassados sempre leram estórias infantis e contaram lendas para as crianças. Estórias essas que em sua maioria são bastante violentes, tristes e angustiantes. Contudo, para as crianças essa é uma forma, imprescindível, de elaboração dos seus conflitos psíquicos.

Será que não é exagero culpar os desenhos animados pela crises de agressividade e violência das crianças? Claro que a programação infantil deveria ser de um nível educativo mais alto, isso nem se discute; contudo, os desenhos animados violentos e trágicos de hoje não exercem o mesmo papel que algumas lendas antigas? Não há como negar a violência e a grande carga de emoções contidas em estórias como "Os três porquinhos", "A branca de neve" ou mesmo em "Pinóquio".

Assim sendo, não acreditamos que um desenho animado tenha tanto poder de influência. Deveríamos considerar outras características desse mundo "pós-modernos", que apresenta famílias desestruturadas, onde os pais (quando existem) muitas vezes não tem tempo para assistir um programa televisivo com os filhos e fazer a leitura crítica, ajudando as crianças a assimilarem os comportamentos certos e distinguirem-nos dos errados.

Cabe aos adultos possibilitarem às crianças outras formas de diversão que "ampliem os horizontes" para além da televisão, dos jogos eletrônicos e dos computadores. O adulto deve acompanhar o crescimento e o desenvolvimento da criança, servindo como apoio, como referência, apontando o que é certo e o que é errado, colocando os limites, que sabemos serem tão importantes para a estruturação do psiquismo. Convém, lembrar a importância das brincadeiras para as crianças, sugerindo que este pode ser um caminho bastante divertido e muito saudável. Nas palavras de um especialista em Psicanálise infantil da USP : "...Pelo brincar a criança traduz simbolicamente fantasias, desejos e experiências vividas." E ainda, "... As maneiras de brincar, os modos de representar situações, as mudanças de um brinquedo para outro não são fruto do acaso. São efeitos de determinismo psíquico inconsciente e adquirem sentido se interpretados do modo como se faz com os sonhos".

Considerando-se tudo o que foi apresentado, sugerimos que as crianças, de uma maneira geral, devam ficar menos tempo em frente à televisão e ter mais tempo e oportunidades para brincar. Os pais ou responsáveis devem acompanhar mais de perto a formação das crianças, que tanto precisam dos modelos familiares para alcançarem um desenvolvimento psíquico dito satisfatório.

Referências Bibliográficas

Ajuriaguerra, J. - "Manual de Psiquiatria Infantil" - 2.a. Edição - Rio de Janeiro, Ed. Masson do Brasil, 1980
Campos, L.F.L.; Yukumitsu, M.T.C.; Fontealba, L.H. & Bomtempo, E. – "Videogame: um estudo sobre as preferências de um grupo de crianças e adolescentes" – In "Estudos de Psicologia" – Vol. XI, nº3, 1994
Scherb, E. & Lima, F.F.T. – "Sobre a Mídia e a Infância e Adolescência", - Parecer Psicológico do CAOPJIJ, 1998
Revista Super Interessante, n.º. 6 – Ed. Abril, 1999
Ryad, S. – "Introdução à Psicanálise: Melanie Klein" - São Paulo, E.P.U., 1986

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