quarta-feira, 2 de junho de 2010

Stress afeta memória e aprendizagem

Para entender como o stress afeta a memória, vamos a alguns dados básicos sobre como as memórias são formadas (consolidadas), como são recordadas e como podem desaparecer. A memória não é monolítica: pode ter vários “sabores”. Uma dicotomia particularmente importante é a entre memórias de curto e longo prazo. Com a primeira, você lê um número de telefone, corre pela sala antes de esquecê-lo e martela os dígitos. Depois o número se perde para sempre. Já a memória de longo prazo é a que você usa para se lembrar do que comeu no jantar de ontem, quantos netos tem ou onde fez a faculdade. Outra distinção importante é entre memória explícita (também conhecida como declarativa) e implícita (que inclui um subtipo importante, a chamada memória processual), memória explícita se refere a fatos e eventos, ao lado de sua percepção consciente de sabê-los: sou um mamífero, hoje é segunda-feira, meu dentista tem sobrancelhas grossas. Já as memórias implícitas processuais têm a ver com habilidades e hábitos,como fazer coisas mesmo sem ter de pensar conscientemente nelas: mudar as marchas do carro, andar de bicicleta, dançar foxtrote. Com prática suficiente, essas memórias podem ser transferidas entre as formas explícita e implícita de armazenamento. Assim como existem diferentes tipos de memória, áreas distintas do cérebro estão envolvidas no armazenamento e na recuperação de informações. Um dos lugares críticos é o córtex, a enorme superfície cheia de circunvoluções do cérebro. Outro é a região espremida logo abaixo de parte do córtex, o hipocampo. Se quiser uma metáfora computacional totalmente simplista, pense no córtex como seu disco rígido, onde as memórias são guardadas, e no hipocampo como seu teclado, o meio que você usa para distribuir e acessar as memórias. Final¬mente, estruturas do cérebro que regu¬lam os movimentos do corpo, como o cerebelo, também estão envolvidas na memória implícita processual. Agora, vamos aumentara ampliação do nosso microscópio e examinar o que acontece no nível dos conjuntos de neurônios dentro do córtex e do hipocampo. Oe sabemos é armazenado nos padrões de excitação de vastos conjuntos de neurônios — no jargão da moda, “redes” neuronais. Tiramos partido dessas redes convergentes sempre que tentamos recordar uma memória que está na ponta da língua. Imagine que você esteja tentando lembrar o nome de um pintor, aquele cara, qual éo nome dele? “Era aquele cara baixinho com barba (ativando suas redes ‘cara baixinho’ e ‘cara com barba’). Ele pintou aquele monte de dançarinas parisienses, não era o Degas (mais duas redes entram no jogo). Ah, lembra
daquela vez em que eu estava no museu e tinha aquela gata que eu estava tentando paquerar na frente de um dos quadros dele.., como era mesmo aquele trocadilho tonto sobre o nome do cara, aquele do nó no treco?”. Com redes suficientes funcionando, você finalmente chega ao único fato que é a intersecção de todas elas: Toulouse-Lautrec.
SINAPSES COMPLEXAS
Hoje, os neurocientístas consideram que tanto a aquisição quanto o armazenamento das memórias envolve o “fortalecimento” de algumas redes em detrimento de outras. Para observar como isso ocorre, vamos aumentar ainda mais a ampliação, para visualizar os espaços minúsculos entre os ramos tortuosos dos neurônios, as chamadas sinapses. Quando um neurônio quer transmitir alguma fofoca sensacional, quando uma onda de excitação elétrica atravessa essa célula nervosa, desencadeia-se a liberação de mensageiros químicos — neurotransmissores —, que flutuam através da sinapse e excitam o neurônio seguinte. Existem dezenas, provavelmente centenas de tipos de neurotransmissor e as sinapses do hipocampo e do córtex fazem uso desproporcional do que provavelmente é o neurotransmissor mais excitatório, o glutamato. As sinapses “glutamérgicas” têm duas propriedades essenciais para a memória. Primeiro, sua função é não-linear. Numa sinapse comum, um pouco de neurotransmissor do primeiro neurônio faz com que o segundo fique um pouco excitado; se um pouquinho mais de neurotransmissor ficar disponível, um pouquinho mais de excitação ocorre, e assim por diante. Nas sinapses
glutamérgicas, certa quantidade de glutamato é liberada, e nada acontece. Uma quantidade maior é liberada, e ainda assim nada acontece. Mas, quan¬do determinado limiar é ultrapassado, abrem-se as comportas do segundo neurônio, e o que se segue é uma onda maciça de excitação. É essa onda que se torna essencial para o aprendizado. A segunda característica é ainda mais importante. Nas condições adequadas, quando uma sinapse tem uma quantidade suficiente de experiências superexcitatórias causadas pelo glutamato, ela se torna mais excitável permanentemente. Essa sinapse acabou de aprender algo, ou seja, foi “potencializada” ou fortalecida. Daí em diante, basta um sinal mais sutil para recordar uma memória. Agora, podemos ver o que acontece quando o sistema reage ao stress.O primeiro ponto, claro, é que o stress leve ou moderado melhora a memória. Trata-se do tipo de stress ótimo que nós chamaríamos de “estimulação”— ajuda a nos sentirmos alertas e focados. Larry Cahill eJames
McGaugh, da Universidade da Califórnia em Irvine, fizeram um teste particularmente elegante nessa seara. Pessoas que ouviam uma história com uma passagem particularmente emocionante se lembravam mais dos componentes emocionais da trama do que as que ouviam uma história uniforme-mente desinteressante. O estudo também indicou como esse efeito atua sobre a memória (para saber ntais sobre as cascatas bioqu (micas do stress, ver a ilustração acima). O sistema nervoso simpático entra em ação, despejando epinefrina e norepinefrmna na corrente sangüínea. A estimulação simpática parece ser essencial, porque quando Cahill e McGaugh deram aos pacientes uma droga que detém a ati¬vaçãodo sistema (o bloqueador beta propanolol, medicamento usado para baixar a pressão), o gmpo não se lembrou mais da história mais animada do que o grupo controle se lembrava da sua. Não é que o propanolol impeça a formação de memórias. Naverdade, a droga atrapalha a formação de memórias auxiliada pelo stress. Em
outras palavras, as pessoas se lembravam das partes chatas da história tão bem quando os controles, mas não obtinham o aumento da memória proporcionado pela parte emocionante.o sistema nervoso simpático leva o hipocampo indiretamente a um estado mais alerta e ativo, o qual, por sua vez, facilita a consolidação das memórias. Isso envolve uma área do cérebro que também é essencial para entender a ansiedade, a amígdala. O sistema nervoso simpático também faz com que as necessidades energéticas de potencialização dos neurônios sejam satisfeitas mobilizando glicose na corrente sangüinea e aumentado a força com que o sangue é bombeado para o cérebro. Um grupo importante de hormônios liberados em resposta ao stress é o dos glicocorticóides. Secretados pela glândula adrenal, eles muitas vezes agem como sua prima mais famosa, a epinefrmna (também conhecida como adrenalina). Ela age em segundos; os glicocorticóides apóiam essa atividade ao longo de minutos ou horas. De fato, uma elevação leve dos níveis de glicocorticóides facilita o processo peloqual as sinapses do neocórtex e do hipocampo se tornam mais sensíveis aos sinais do glutamato, a potencialização de longo prazo que é a base do aprendizado. Uma elevação desse nível também facilita a potencialização de longo prazo no hipocampo. Finalmente, há alguns mecanismos obscuros pelos quais o stress
moderado, de curto prazo, toma os receptores sensoriais mais sensíveis. Papilas gustativas, receptores olfativos e células cocleares do ouvido exigem menos estimulação, sob stress mode¬rado, para ficar excitados e transmitir informação para o cérebro. Agora, podemos ver como a formação e a recuperação de memórias podem ficar desajustadas quando os fatores de stress são grandes ou prolongados. Vários estudos com ratos de laboratório — usando diferentes fontes de stress, como restrição, choque e exposição ao odor de um gato — mostraram declínio na memória explícita. Um déficit parecido surge quando doses elevadas de glicocoiticóides são administradas a ratos. Outros aspectos da função cerebral, como a memória implícita, continuam bem.
F onte www.psicopedagogavaleria.com.br

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