domingo, 27 de junho de 2010

Bullying e a Psicopedagogia

BULLYING E A PSICOPEDAGOGIA

Neusa Marli Rauch Littig

ABSTRACT
The present work presents a research into bibliographical sources, aiming at analyzing situations of violence and indiscipline at school. The research revealed the main factors and the consequences of bullying on the lives of people who have experienced it, such as fear and emotional and psychological problems. Bullying is also associated to school failure and evasion. Studies show a worrying incidence of bullying in schools around the whole world. In spite of it, bullying occurrences have been usually unconsidered. In this study, we intend to show possible answers for the following questions: what is the family’s role in face of this problem, once children follow social interaction standards according to what they experience at their own homes? How can we help children so that they can act differently? How can a psychopedagogue act to improve the personal relationships of individuals involved in bullying acts, preventing it and reducing its incidence?

Key-words: Psychopedagogy. Violence. School. Students. Bullying.

RESUMO
O presente trabalho teve como pesquisa fontes bibliográficas. Cujo objetivo principal foi analisar as situações de violência e indisciplina no contexto escolar, revelando os fatores determinantes e as consequências decorrentes na vida dos envolvidos. Estudos mostram uma preocupante incidência do fenômeno bullying nas escolas de todo mundo. Mas apesar disso, ele tem sido desconsiderado normalmente, por boa parte da população. Causando medo e sérias consequências emocionais e psíquicas nos envolvidos. Está também relacionado ao fracasso e a evasão escolar. Qual o papel da família frente a isso, já que as crianças adotam padrões de interação social, experimentados no contexto familiar. Como auxiliá-los para que possam, redirecionar suas ações. Como o psicopedagogo pode intervir para melhorar as relações interpessoais dos envolvidos, prevenindo o bullying e diminuindo a sua incidência.

Palavras-chave: Psicopedagogia. Violência. Escola. Alunos. Bullying.

1 Introdução
Este trabalho de pesquisa apresenta uma abordagem sobre Bullying, o que é, causas, consequências e qual a relação da família diante do problema. A atual circunstância em que se encontram a maioria das escolas, com respeito a violência. Esse fenômeno comportamental vitimiza a criança envolvida em tenra idade escolar, tornando-a refém de uma ansiedade flutuante e circulante que interfere em todos os seus processos de aprendizagem, pela excessiva mobilização psíquica de medo, constrangimento, angustia e raiva reprimida.
Faz-se necessário o estudo aprofundado das questões que envolvem tais comportamentos decorrentes do transtorno bullying.
Atualmente as escolas e os educadores tem-se deparado com uma série de dificuldades decorrentes da violência, falta de respeito e agressividade comportamento decorrentes do Bullying.
Talvez a matéria mais difícil de aprender não seja mais português ou matemática, mas a convivência e a falta de respeito entre os pares.
No Brasil os índices de Bullying nas escolas são grandes, principalmente em crianças e adolescentes. No entanto o tema ainda é pouco pesquisado, existem movimentos de estudos isolados, por regiões, apesar da gravidade e da necessidade de reflexões, são poucos os estudos existentes a respeito do assunto. Portanto a importância de pesquisarmos este fenômeno e de refletirmos sobre o mesmo é imensa.
Pretendemos por meio deste estudo verificar quais são as causas, em que faixa etária ocorre a maior incidência, qual a contribuição da família para a prevenção e recuperação das vitimas e agressores.
O papel dos educadores e da sociedade em geral para o desenvolvimento de atitudes que valorizem a prática da tolerância e da solidariedade entre os alunos. O diálogo, o respeito e as relações de cooperação precisam ser valorizadas e assumidas por todos os envolvidos no processo educacional.
Analisar as situações de violência e indisciplina nas escolas revelando os fatores determinantes e as conseqüências decorrentes na vida dos sujeitos envolvidos nestes atos.
Conceituar o Bullying e seus fatores determinantes no ambiente escolar; discutir as conseqüências do Bullying, no desenvolvimento psíquico, na construção dos sujeitos e no desempenho escolar das vitimas e, caracterizar o papel da família frente à violência cometida e enfrentada pelo jovem.

2 Conceito de Bullying
Bullying é uma palavra de origem inglesa, adotada por muitos países e que conceitua os comportamentos agressivos, antissociais e violentos, na qual um indivíduo sozinho ou em grupo age contra uma vitima.
Diversos fatores decorrem para o processo do fenômeno Bullying , mais precisamente nas escolas. Nos países mais pobres, a preocupação tem sido recente e ainda não há estudos mais profundos sobre suas causas e consequências, no entanto o que se tem a respeito ainda é muito recente, embora tal fenômeno acontece principalmente no meio escolar já a bastante tempo.
O início dos estudos em torno desse termo foram realizados pelo norueguês Olweus (apud FANTE, 2005), a partir da violência nas escolas onde foram consideradas as atitudes violentas como: apelidos pejorativos, provocações, roubo de objetos, intimidações e perseguições causando danos morais e psicológicos, gerando dificuldades de relacionamento entre pares, dificuldade de aprendizagem e até evasão escolar.
Esses comportamentos agressivos geralmente são repetitivos, em que a vitima não consegue se defender com facilidade, por ser menor e ter pouca habilidade física ou estar sozinha. Essas ações geralmente acontecem sem motivos evidentes.
É importante ressaltar que a violência simbólica é o poder de impor significações sem o uso da força física e de forma dissimulada, escondendo sua face de violência e imposição. Esse tipo de violência também está presente, em nosso meio, quando se analisa segundo a óptica de gênero ainda presente na sociedade, onde às mulheres são imputados valores e determinações que estruturam o modo de ser à condicionantes socialmente criados pelo homem.
Essa síntese de pensamento acontece na escola, com a violência dirigida às meninas, por culturalmente terem sido representadas como frágeis e assim tornam-se alvos preferenciais dos meninos, que as agridem utilizando os diversos tipos de linguagens da violência, desde ameaças, até socos e tapas no rosto ou em qualquer parte do corpo. Em geral, as meninas são tratadas pelos meninos com pouco respeito, de modo jocoso, utilizando-se de linguagem abusiva de cunho sexual, com o propósito de ofendê-las e humilhá-las.
Conviver com a violência diuturnamente, apresenta um grande risco à sua banalização, passando-se a compreendê-la como inerente ao cotidiano e, portanto, não fazendo parte das atribuições da escola, visto ser este, segundo o pensamento difundido pelo senso comum um problema da sociedade.
Diante das crescentes incidências o tema despertou ultimamente atenção por parte da sociedade, em vista de alguns casos graves ocorridos e pelas sérias consequências, que resultaram, fruto da ausência da valorização pessoal, do envolvimento social, emocional e intelectual inadequado daqueles que sofrem e padecem como vitimas desse fenômeno.
Na maioria das vezes a agressividade é expressa de maneira oculta, até mesmo entre pares nas escolas, onde as vitimas são oprimidas e ameaçadas por motivos banais, levam as mesmas ao medo, constrangimento, angústia e raiva reprimidas. O Bullying pode então ser definido como um comportamento cruel, nas relações humanas onde o sujeito mais forte usa o mais fraco para a obtenção de satisfação própria e de divertimento, por meio de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas.

Bullying é uma atividade consciente, desejada e deliberadamente hostil orientada pelo objeto de ferir, induzir ao medo , pela ameaça de futuras agressões e criar terror. Seja premeditada ou aleatória, obvia ou sutil, praticada de forma evidente ou às escondidas, identificada facilmente ou mascarada em uma relação de aparente amizade. O bullying incluirá sempre três elementos: desequilíbrio de poder, intenção de ferir e ameaça de futuras agressões. Quando o bullying se desenvolve e se torna ainda mais sério, um quarto elemento é adicionado: o terror (COLOROSO, apud ROLIM, 2004, p.1, grifo nosso).

É importante estar consciente de que bullying não é o mesmo que violência ou intimidação, o bullying tem características que o distinguem de outros atos violentos, que são a intencionalidade e a repetitividade dos atos.

3 Incidência do fenômeno
Relatos de pesquisas mostram que a incidência do fenômeno é grande, sendo um problema mundial entre crianças e adolescentes, as pesquisas, porém não tomam as mesmas medidas, divergindo espaços e épocas distintas, da realização das mesmas. Mesmo sendo um fenômeno bastante antigo em sua prática escolar, os estudos ainda são recentes datam da década de1970, iniciando pela Suécia, que primeiramente se preocupou em estudar os problemas desencadeados pelas agressões escolares. As pesquisas seguiram pela Noruega, tendo em vista à problemas ocorridos em escolas.
Olweus (apud FANTE, 2005) importante estudioso nesta área, pesquisou inicialmente estudantes a cerca da natureza da ocorrência. Constatando que 1 em cada 7 crianças pesquisadas estava envolvido com casos de bullying. Estes estudos motivaram outros países à estudarem também o assunto.
Nos Estados Unidos, entre 34 formas de violência e agressão, somente 29% das crianças e adolescentes americanos pesquisados não foram vitimas de violência direta ou indireta. As pesquisas revelaram que a incapacidade de dialogar, leva os alunos a agirem violentamente como meio de dar respostas ao que lhes incomoda.
Na Austrália 1 em cada 6 crianças é vitima de bullying pelo menos uma vez por semana. Segundo Rigly, (apud ROLIM, 1997, p. 62), as pesquisas realizadas na Noruega, Inglaterra e Austrália apontam as formas mais comuns de bullying os constrangimentos verbais, como provocações, apelidos humilhantes. As formas de bullying que denotam de violência física tendem a diminuir com o tempo, mas, a incidência das formas verbais de constrangimento, continuam, sendo que a maior incidência ocorre dos 09 aos 15 anos.
Como o bullying e o desrespeito são problemas que se repetem em vários países e em uma variedade de lugares. Levamos em conta a interação entre muitos fatores que contribuem para esse problema, especialmente os decorrentes e relacionados à vida, cultura e educação dos envolvidos.
Tradicionalmente segundo os autores estudados, Kaukainen e Laperspetz (apud ROLIM, 1998). Considera-se a existência de três tipos principais de Bullying.
1. DIRETO E FÌSICO - Toda e qualquer prática que envolva a imposição de sofrimento físico como bater, socar, chutar, agarrar, empurrar, etc. ou a submissão do outro, pela força à condição humilhante, como o trote, furto, vandalismo a extorsão e a obtenção forçada de favores sexuais.
2. DIRETO E VERBAL - As práticas que consistam em insultar e em atribuir apelidos vergonhosos ou humilhantes; a produção de comentários racistas, intolerantes quanto às diferenças econômico-sociais, físicas culturais, políticas, morais, religiosas, entre outras.
3. INDIRETO - Manifesto pelas condutas propositais de exclusão ou isolamento do outro, pela fofoca e disseminação de boatos ou de informações que deponham contra a honra e a boa imagem do outro.
É importante perceber que os atos de bullying, não são o mesmo que violência ou intimidação, pois as práticas de bullying constituem forma particular, específica de manifestações da violência, caracterizada pela intencionalidade do autor em produzir o sofrimento e pela repetição das agressões e pelo desequilíbrio de poder entre agressor e vitima.
Ainda há pouca conscientização da realidade dos casos no meio educacional, muitos profissionais ainda se encontram despreparados à lidarem com a violência, principalmente a velada. Muitos ainda negam a existência do bullying em sua escola.
A presença do bullying nas escolas está fortemente ligado aos fatores relacionados ao insucesso e à evasão escolar, e do sofrimento causado às vitimas, inclusive com fatores agravantes à constituição de comportamentos violentos e agressivos na vida adulta. Daí a importância de se pensar em ações de prevenção decorrendo também de desafios pedagógicos, e na sociedade por políticas de segurança pública.

4 Incidência do bullying no Brasil
No Brasil ainda são poucas as pesquisas, porém, as condições mais amplas de natureza social econômica e cultural em nosso pais denotam à lidar com a possibilidade de indicadores ainda mais expressivos da violência. Os primeiros estudos a cerca desse tema iniciaram em escolas do interior de São Paulo, após ataques agressivos e violentos de alunos, vitimando colegas e funcionários.
Sendo adotado o mesmo termo da maioria dos países “Bullying”, traduzido como “valentão”, “Tirano” e com o verbo brutalizar, amedrontar. Assim sendo esta definição traduz o conjunto de comportamentos agressivos caracterizados pela repetição e desequilíbrio de poder, pelo fato da vitima não conseguir se defender, por ser menor, com menos força ou não apresentar agilidade física e pouca flexibilidade psicológica, perante o autor dos ataques.
Embora poucos estudos sobre o tema tenham ocorrido, percebemos a gravidade e a dimensão da violência vivenciada nas escolas brasileiras, variando estas desde a agressividade à atos de roubo de objetos de alunos e professores, sendo este último a ocorrência mais comum, muitas vezes vista até como algo banal.
Segundo Fante (2005) no Brasil segundo pesquisas, o bullying ocorre, com mais frequência dentro da sala de aula, diferentemente, de pesquisas internacionais que apontam que o bullying ocorre, com mais frequência nos intervalos e horários de entrada e saída da escola. Outro dado importante é que a maioria dos autores de bullying, relataram que nunca foram repreendidos ou advertidos por conta disso. Assim sendo, as formas de violência sofridas por crianças e adolescentes, continuam desconhecidas ou subestimadas.
Em nosso país tem-se debatido o tema violência nas escolas, tendo em vista o crescente aumento dos casos. Em decorrência disso projetos e programas procuram diminuir a violência escolar, enfatizando a violência explícita, no entanto programas educacionais que incluam a prevenção e o combate ao bullying nas escolas ainda é pequeno.
Vale ressaltar que as soluções para a resolução do bullying não são simples, em se tratando de um fenômeno de características variáveis e complexas. Dessa forma cada escola, de acordo com a sua realidade, deveria criar e desenvolver estratégias e programas de prevenção e combate. Estando envolvidos toda comunidade escolar e famílias, partindo da conscientização e do trabalho conjunto.

5 Consequências do Bullying
No estudo observou-se, que na maioria das vezes as práticas de bullying são invisíveis à escola, não sendo percebidas, quando detectado algum episódio dessa prática, a tendência da interpretação é dado como caso isolado, não se percebendo a rotina que envolve autores e vítimas. Por conta dessa falta de percepção e insensibilidade dos membros da escola, achando muitas vezes que é “brincadeiras” entre alunos. Esses atos constituem chacotas, apelidos pejorativos, ridicularizando, humilhando, rotulando e depreciando determinada pessoa. Não percebendo a gravidade da situação e até achando isso normal entre alunos.
Porém as consequências de tais condutas afetam profundamente, especialmente as vítimas que sofrem com os efeitos negativos, por pouco ou nada poderem fazer para resistir a situação, por mais que lhes seja intolerável. Geralmente os sintomas produzidos são variados e vão da baixa auto estima à ansiedade e depressão levando o indivíduo à baixa freqüência e evasão escolar, nos casos mais graves até a sentimentos suicidas.
Esses processos desencadeiam prejuízos ao seu desenvolvimento psíquico, já que a experiência traumatizante orientará inconscientemente o seu comportamento, na busca de evitar novos traumas gerando sentimentos negativos e pensamentos de vingança, podendo desenvolver transtornos mentais e psicopatologias graves além de doenças de fundo psicossomático. Transformando-o em um adulto agressivo ou depressivo, dependendo da intensidade do sofrimento vivido.
A superação dos traumas poderá ou não ocorrer. Isso dependerá das características individuais e da habilidade de relacionar-se consigo mesmo, com o meio social e especialmente com a família.
O bullying se firma de forma silenciosa e sutil. Quando grupos de crianças ou adolescentes se unem, formando sólidas relações de amizade, em que definem critérios de inclusão e exclusão do grupo, muitas vezes condenando e isolando alguém pelo racismo, homofobia ou preconceitos de natureza sócio econômica. Esse tipo de atitude depreciativa lança aos excluídos a vergonha e os faz acreditar que há algo errado com elas.
De acordo com Fante (2005) a maioria das vítimas chega em idade adulta com sérias dificuldades de relacionamento, baixa confiança nas pessoas e até sequência de experiências de vitimização por bullying em esferas, por exemplo no ambiente profissional. Entre os agressores a maioria deles na idade adulta torna-se criminoso com passagem na polícia.

5.1 A indisciplina e o sentido de vergonha
A relação familiar desestruturada é citada como a principal causa do comportamento violento e da indisciplina no contexto escolar. Afetados pela negligência, atitudes agressivas, falta de afeto, falta de limites e de exemplos positivos de cidadania, estes contribuem para que a criança e o adolescente tenha modelos de comportamento negativos, que são copiados e reproduzidos na escola, tornando-se um reflexo do que eles vivem no cotidiano.
Geralmente os pais é que realizam a tarefa de mediação entre o que é vivido e o que é socialmente e moralmente aceito, porém se a família não está bem ou contaminada por valores éticos e morais equivocados, aliados à ausência física de um dos genitores, a criança não tem a quem recorrer como referência, para busca de orientação positiva.
O que no passado via-se que as crianças obedeciam à seus pais, em geral também à seus professores, hoje observa-se o inverso, as crianças não obedecem seus pais , muito menos seus professores, devido a falta de limites. As crianças, hoje, não teriam limites, os pais não os imporiam, a escola não os ensinaria, a sociedade não os exigiria e a televisão os sabotaria. Esta síntese foi relatada por La Taille (1990).
Não queremos também generalizar, dizendo que todo ato de violência ou indisciplina na escola é decorrente da ausência de valores. Desprezando variáveis psicológicas decorrentes talvez da desorganização das relações, pela decorrência do enfraquecimento do vínculo entre moralidade e sentimento de vergonha.
Quando a criança ou o adolescente ridiculariza, humilha ou agride um colega, percebe-se nele a ausência de sentimentos, como o ser julgado negativamente pelos outros, enquanto a vítima passa a ser exposta como objeto do olhar e do pensamento de outrem, reconhecendo-se como um ser caído dependente e imóvel. Quando o olhar for negativo, crítico, então a vergonha encontrará sua tradução mais frequente, que é o sentimento de rebaixamento e humilhação.
A escola e sua equipe precisam estar atentos às particularidades de seus alunos, conhecer os fatores externos à escola, seu contexto familiar e social. Educando com ações positivas, para que a criança encontre satisfação e sucesso, buscando uma imagem positiva de si. Para não se tornar refém do juízo negativo dos outros, ou vendo na evasão escolar a única fuga para tal situação.

5.2 Indisciplina e violência: Os conflitos na escola
Uma das causas de conflitos na escola é o questionamento por parte dos alunos da autoridade do professor, a falta de respeito, é o que dá início a discussões e agressões verbais por parte de alunos contra professores. Esse é um tipo de violência que acontece na escola. Mas, a violência mais comum é entre os alunos, nas classes, onde os conflitos e tensões acontecem, por interações agressivas, como meios de diversão ou auto afirmação. Tendo um ou mais alunos de comportamento irritadiço e agressivo, este passa a ter necessidade de ameaçar, dominar os outros pela imposição e uso de força, por meio dela seus ataques são dolorosos e desagradáveis aos demais, que geralmente são mais frágeis e não conseguem reagir, fazendo com que o agressor se sinta forte, confiante e superior.
Se na turma existe alunos com características como timidez, passividade, insegurança e dificuldade de impor-se, mostrando-se indefeso. Este será a vítima, um alvo em potencial para o agressor, sabendo que não terá reação aos ataques.
Em geral o indivíduo com intenções agressivas, consegue o apoio de outros alunos, que se unem à ele, formando grupos (gangues), seus atos vão de ataques a colegas, verbais e físicos, a professores e funcionários até a depredação dos bens da escola. Na maioria das vezes sem que professores e funcionários percebam a movimentação, e não descubram os culpados.
O estudo de Couto (2008) mostra que geralmente a vitima não conta o ocorrido a professores e pais, temendo novos ataques em vista disso. Este aos poucos vai se isolando da turma, por causa das constante gozações e ataques, sem que consiga se livrar disso, ficando evidente para todos que não serve para nada. Seus colegas passam a também isolá-lo temendo ser a próxima vítima por ter sido visto andando juntos.
Os atos de bullying acontecem na sua maioria no espaço escolar, apresentando as características mais comuns, que são comportamentos repetitivos num período prolongado de tempo contra a mesma vítima, apresentam relações de desequilíbrio de poder, dificultando a defesa da vitima, ocorrem sem motivação evidente. Esses comportamentos podem ocorrer de duas maneiras direta que inclui agressões físicas (bater, chutar, tomar pertences, xingar, apelidar e insultar) e indireta, esta talvez seja a mais prejudicial à vitima criando traumas irreversíveis, acontecendo através da disseminação de rumores desagradáveis e desqualificantes, visando a discriminação e exclusão da vítima de seu grupo social.
A dificuldade em utilizar estratégias para lidar com esse tipo de violência na escola, inquieta docentes a refletirem quanto a participação da escola na formação ética e moral dos educandos, estes precisam ser educados por alguém que se importe com eles, embora tudo comece na família a escola precisa fazer algo para ajudar essas crianças e o que eles vivenciam na escola.

5.3 Os rumos das relações de poder
Diversos fatores concorrem para o processo de violência nas escolas, mas qual será as relações estabelecidas entre os alunos envolvidos nesses processos. Entre outras características as relações de poder estão muito presentes, ou a busca por uma posição superior que lhe dê poder. Baseado em estudos sobre violência e indisciplina, vemos que poder na teoria de Focault (apud La Taille,1990) é verbo, ação, relação de forças, isso significa que poder não é uma coisa ou algo a mais que alguém tenha ou grupo, em detrimento de outro. Poder é relação de forças, dimensão constitutiva de relações sociais, onde os integrantes desse grupo estão em constante movimento de equilíbrio dessas forças.
Quem tem a resistência exerce pressão sobre o lugar de domínio. Enquanto um não “entrega os pontos” os pontos poderíamos assim dizer, o outro investe nas tentativas e rumos de seu ataque, em função de derrotas o mais frágil, e ser vitorioso, exercendo sua força. O poder torna-se ação exercida por um grupo sobre outro que fica desprovido de força e totalmente paralisado, sem possibilidade de reagir. Nessas relações sociais há busca pelo poder e por um posto de destaque, de atenção.
Em atos de violência cometidos por grupos, no contexto escolar, como o caso do bullying , a relação de poder do agressor é marcada pelos sentimentos positivos a respeito de si mesmo, como um meio defensivo de negar qualquer observação crítica a seu respeito, com níveis de hostilidade comportamental, busca sensações de grandeza e dominação para ser sempre o centro das atenções de seu grupo.
Há uma busca pelo poder por parte dos autores do bullying, segundo Cerezo (apud ROLIM, 2008) o bullying é situado como fenômeno grupal, só se pode compreender seu alcance analisando as relações sociais e de poder entre os escolares. Segundo estudos, alunos autores de bullying tendem a possuir maior ascendência social sobre os demais e a serem considerados, por pelo menos parte de seus colegas, que se constituem os expectadores. Os autores através de suas atitudes buscariam uma maneira de impressionar, de sobressair-se e de buscar um espaço de reconhecimento, que pelo seu comportamento agressivo de certa maneira teriam alcançado.

5.4 Violência e Família
Os motivos apontados que levam os educandos aos atos de violência e bullying nas escolas, são intrínsecos a formação que eles recebem na família e no entorno social que vivem. Muitas vezes vivenciando atos de violência e agressão, na família e na rua, assim age segundo o modelo que teve. Esta relação familiar, por vezes pautada na violência doméstica, junta-se a violência social a que estão expostas as crianças, que na maioria vivem em situação de pobreza e de extrema desigualdade social. Vivendo em um ambiente em que o diálogo cede a violência, a criança tende a reproduzir nos demais ambientes que frequenta a violência que está presente no seu cotidiano, a reprodução desse comportamento na escola se dá através de exercícios de coação e da agressão entre pares.
Compreende-se que as representações são ativas, fazendo parte da constituição das identidades dos sujeitos e grupos sociais. Assim sendo, a identidade é construída ativamente pelo meio, a partir de representações, cujos significados são produzidos na história e na cultura, nas práticas cotidianas dos sujeitos. Neste contexto, o aprendizado da violência contribui fortemente para inserção de práticas intolerantes e de desrespeito às diferenças, sociais e de gênero.
As influências da mídia, de programas com imagens inadequadas e violentas, influenciam nas aquisição de atitudes e modelos de comportamento, absorvidos e adotados pelos membros da família. Na interpretação de Souza (2008) a questão social e econômica de carência em que vivem a maioria das famílias, foi apontado como um dos agravantes da violência. Uma vez que os pais passam o dia todo fora de casa no trabalho, as crianças ficam sozinhas, carentes de afeto e atenção, que lhes não são destinados, nesta nova realidade da família Maldonado e Williams (apud ROLIM, 2008)

Ressaltam que a família tem uma importante influencia na aquisição de modelos agressivos pelas crianças. Pais que utilizam a punição estão mostrando a seus filhos que a violência é uma forma apropriada de resolução de conflitos e de relacionamento entre homens e mulheres.

As carências educacionais deveriam estar sendo supridas escola, entretanto, os educadores identificam o problema mas, ainda não se articulam para o enfrentar. Na interpretação de Fante (2005) O comportamento agressivo ou violento nas escolas é hoje um fenômeno social mais complexo e difícil de compreender, por afetar a sociedade como um todo, atingindo diretamente as crianças de todas as idades, na maior parte das escolas do país e do mundo. Segundo este apontamento entendemos que a escola deve prevenir o fenômeno violência que se desenvolve em seu contexto, impedindo a sua proliferação. Para chegar a isso, necessita-se de um trabalho psicopedagógico, através dele, conscientizar as famílias a cerca da importância da demonstração de afeto para com as crianças, da atenção as suas necessidades emocionais, e ao seu desenvolvimento físico e social. E do apoio e participação das famílias às ações sociais promovidas pela escola.

6 Considerações finais estratégias de prevenção e intervenção
A partir dessas reflexões, podemos dizer que é urgente, que seja feito algo pelas crianças e adolescentes, tanto vitimas quanto agressores. Sabemos que eliminar a violência social e estabelecer a paz, são tarefas, poderíamos dizer a te impossíveis, sendo a violência um fenômeno complexo como é, com inúmeras causas e diversas manifestações.
O Psicopedagogo pode na escola com o apoio e o envolvimento dos pais e demais membros do contexto educacional, promover campanhas de conscientização antibullying. Para que as pessoas próximas possam identificar os sintomas através da observação das crianças , ver se ela tem eventuais mudanças de humor, irritação freqüente. acessos de choro, insônia, falta de atenção, dores que o obriguem a faltar aula. Esses podem ser sinais de que algo de errado está acontecendo nas relações interpessoais dessa criança.
Fortalecer e estimular programas que favoreçam atitudes de socialização das crianças, reduzindo problemas de comportamento na escola e de índices de criminalidade que ainda poderia se desenvolver. Agindo assim na prevenção. Para isso, segundo Taylor (2006) O psicopedagogo precisa desenvolver na instituição e nos envolvidos com ela, uma postura comprometida com valores humanistas, nos aspectos de respeito diante das diferenças e na capacidade de contrastar com exemplos de posturas discriminatórias e preconceituosas vigentes na sociedade. O bullying também tende a desaparecer onde haja um clima de atenção e de vínculo entre as pessoas.
O trabalho individual em que a psicopedagogo, exercita com a criança a sua vivencia nos relacionamentos, pode ter um valor inestimável na hora de lidarmos com a individualidade da criança frente ao grupo. Qual a postura que esta deve ter diante dos demais e dos conflitos apresentados.
É preciso acreditar se possível e viável o seu combate desde que haja conscientização, planejamento, investimento, atitudes de compromisso e de responsabilidade, cooperação e sobretudo tempo, para se investir numa nova contra cultura de paz e estabelecê-la, através da formação de uma mentalidade humanista e solidária.
Através do desenvolvimento de estratégias psicopedagógicas bem elaboradas, é possível reduzir os índices de violência e bullying nas escolas, assim como também promover atitudes positivas e solidárias nos relacionamentos interpessoais dos pares e na maneira de pensar e de agir de toda comunidade escolar, a partir da conscientização da sua própria realidade quanto ao fenômeno e da reflexão conjunta na busca de soluções para conduta bullying e da educação emocional, visando melhorias nas relações interpessoais. Para que os alunos se tornem sensíveis aos seus problemas e aos problemas dos outros, desenvolvendo capacidade de empatia.
A educação deve proporcionar a paz, a solidariedade, ao amor e a tolerância e isso deve estar no coração de cada educador, para que ele possa transmitir ao coração das crianças, adolescentes e jovens, para que estes possam crescer capazes de viverem e atuarem em sociedade, conscientes e saudáveis emocionalmente.


Referências
FANTE, Cleo. Fenômeno bullying : como prevenir a violência nas escolas e educar para paz/.2. ed. ver. e ampl. Campinas, SP. Verus Editora, 2005.
BEAUDOIM, Marie Nathalie; TAYLOR, Mauren. Bullying e desrespeito: como acabar com essa cultura na escola/. Porto Alegre; Artmed, 2006.
LA TAILLE, Ives, LAJOQUIERE, Leandro, et al . Indisciplina na escola: Alternativas teóricas e práticas/ Organização Julio Croppa Aquino. São Paulo : Summus, 1996.p.9-81.
COUTO, Maria Aparecida Souza. Violência e gêneros no cotidiano escolar . Disponível em: http://cinelandia.ufs.br/tede/tde_arquivos/10/TDE-2008-11-14T040414Z- 20/Publico/MARIA_APARECIDA_SOUZA_COUTO.pdf Acesso em: 30 mar.2009.
ROLIN, Marcos. Bullying o pesadelo da escola. Porto Alegre RS. Maio 2008. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/14951 Acesso em: 30 mar. 2009
RUFINO, Zilda Lopes Dinis. O cotidiano escolar e a Agressividade. Campinas SP. 2006. Disponível em: http://www.rieoei.org/rie37a04.htm Acesso em 31 mar. 2009.


Publicado em 21/06/2010 11:51:00


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Neusa Marli Rauch Littig - Graduada em Pedagogia pela Universidade Norte do Paraná (UNOPAR). Pós-Graduada em Psicopedagogia Institucional e Clínica pelo Instituto Paranaense de Ensino e Faculdades Maringá.

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